Crise Argentina, um problema histórico e as perspectivas para o futuro do país.
Por Bruno Braga Trindade Lobo
FIGURA 01 — Bandeira Argentina
(KANTEMIR, [s.d.])
1. Introdução
A América do Sul presenciou diversas situações em que países da região se viram em momentos de sensibilidade econômica, com elevadas taxas de inflação, dívidas com órgãos internacionais credores, como o FMI, e choques domésticos. Contudo, a Argentina passa por um momento de crise em que as estruturas podem mudar, assim como a vida de toda a população do país, mostrando a urgência de novas políticas econômicas, acordos com órgãos de crédito e a possibilidade da cooperação e ajuda de países vizinhos.
O nível da inflação anual argentina chegou a 108,8% em abril (INDEC, 2023), sendo o setor alimentício e de bebidas não alcoólicas o segundo mais afetado, de acordo com o mesmo índice, apresentando a gravidade da situação, que perpetua a pobreza e problemas como a fome.
Desta forma, o governo argentino vem tomando medidas para tentar enfrentar a crise econômica que afeta os preços de produtos, por exemplo instituindo um teto para produtor nos mercados (KÄUFER, 2023). Assim, este congelamento tenta de certa forma trazer um preço justo à população sul-americana, porém tal medida não chega às raízes do problema.
Além do mais, a cooperação se mostra como umas das maneiras para superar os problemas fiscais e econômicos da Argentina, dado que o presidente Alberto Fernández veio ao Brasil em visita oficial ao presidente Lula, que disse querer:
“[…] ajudar a tirar ‘a faca do FMI do pescoço da Argentina’, e que o país vizinho “só quer crescer e gerar empregos”. Para ele, auxiliar o principal parceiro comercial do Brasil no continente significa também fortalecer a economia brasileira. ‘Precisamos ajudar os empresários brasileiros que exportam para a Argentina e financiar as exportações brasileiras, como a China faz com os produtos chineses. Estamos discutindo uma forma para que nossos exportadores continuem com suas empresas vendendo para a Argentina’, afirmou o presidente.” (BRASIL, 2023).
Deste modo, além da possível ajuda do governo brasileiro, Fernández buscou ajuda também do banco relacionado ao BRICS, o NDB, porém como a Argentina não é participante do bloco, se torna complicado a disponibilização de crédito (BRASIL, 2023).
2. Histórico da Crise
A crise atual que abala o país sul-americano possui alguns fatores que fortaleceram seu agravamento, de acordo com o economista da Fundação Agrícola para o Desenvolvimento da Argentina, David Miazzo, o início se deu com crises fiscais, que agravou o problema da desvalorização do peso argentino, ao passo que existia mais moeda circulando para frear o desequilíbrio fiscal (PADINGER, 2023). Além disso, os preços artificiais frente ao dólar contribuíram para que a inflação progredisse aos exacerbados níveis que estão nos dias atuais.
Historicamente, as crises e colapsos econômico-financeiros sempre foram presentes na Argentina, como por exemplo, a de 1975, durante o regime militar argentino, ou em 1989 por uma hiperinflação que assolou o país, além da queda do PIB em 2001, que causou aumento da pobreza e desemprego (PADINGER, 2023).
A economia argentina oscila desde meados da década de 2010, e não concretizou a construção de uma moeda forte, após o fim da paridade com o dólar americano. Um dos fatores que influenciou a crise atual foi também a escassez das reservas do país, “déficit nas contas públicas, […] economia informal e crescente desemprego” (PADINGER, 2023). Com isso, é perceptível como a crise econômica afeta as políticas e instituições internas, gerando crises políticas. Não somente, a Argentina possui uma elevada dívida externa, principalmente com órgãos creditícios como o FMI, dívida que chega aos 45 bilhões de dólares (REUTERS, 2022), algo que eleva a preocupação econômica do país e a dificuldade do enfrentamento da alta nos preços.
3. Análise do problema
É perceptível a necessidade da tomada de decisões para enfrentamento da crise, que pode vir a agravar caso não sejam tomadas as medidas necessárias, visto que, com a alta dos preços, quem tende a sofrer mais é a população economicamente vulnerável, acentuando a pobreza e o desemprego, assim como dito pela pesquisadora Adriana Ferreira Silva em sua seguinte fala:
“A relação entre inflação e desigualdade social é um problema acompanhado de perto por pesquisadores e órgãos públicos, uma vez que o aumento do nível geral de preços (inflação) reduz a renda real dos indivíduos cuja renda nominal não acompanha simultaneamente a inflação” (CEPEA, 2022).
Além do mais, não deve ser negligenciado os problemas políticos, institucionais e relacionados aos direitos humanos dado ao recorrente histórico de crises na Argentina, além do fortalecimento do peso e do oferecimento de maior destaque para o mercado interno do país, lidando com os problemas fiscais e monetários, possibilitando a queda da inflação e aumento de reservas para que o país tenha alguma garantia de enfrentar a crise atual e futuras crises que possam vir a ocorrer (GONZÁLEZ, 2021). Assim como dito por um artigo publicado pelo jornal “Folha de São Paulo” (2021), o mercado interno argentino se tornou “um dos pontos essenciais da dificuldade argentina para manter um crescimento contínuo”, principalmente em consideração ao quanto a economia do país está ligada ao comércio internacional.
Ademais, como uma das soluções encontradas para a resolução da crise, é necessário pagar a dívida interna do país, além da negociação da dívida externa com o FMI, que acaba por aumentar a credibilidade do país após a elaboração de um recente “acordo inicial”, e tornando possível melhores acordos e acesso a créditos futuros (ADRIANA, 2023).
Aliado à isso, a cooperação com outros Estados se mostra uma medida para trazer investimentos para o país na atual situação, com políticas que envolvam a situação, e coordenações interestatais. Sobre cooperação interestatal:
“[…] A definição de cooperação da conta especifica que as políticas dos estados não só devem conduzir à realização de benefícios mútuos […], mas também que o resultado deve ser obtido através de um processo específico, nomeadamente um que envolva a coordenação de políticas.” (GRAEFRATH, 2021, tradução própria).
A coordenação política que venha a existir deve levar em consideração as particularidades enfrentadas pela Argentina, de forma que as burocracias e processos não se estendam tanto, gerando entraves à cooperação, visto que todo o caos econômico do país gera desemprego, fome e crise.
4. Conclusão
É perceptível o fato de que a Argentina possui ciclos viciosos de crises econômicas, além do fato de que, após a paridade ao dólar, o peso não conseguiu crescer e se firmar como uma moeda forte, sendo um dos desequilíbrios que contribuíram para a atual crise.
Desta forma, também se torna importante o fato de que a administração econômica do país passou por algumas figuras que não conseguiram tomar medidas efetivas, de modo que as eleições que ocorrerão este ano (2023) no país, deixará um grande fardo para os próximos governantes.
O país sul-americano assim como sua população necessitam de medidas que lidem com a alta inflação dos preços no curto prazo, e medidas para que crises econômicas, financeiras e fiscais não ocorram tão frequentemente no país, auxiliando a população vulnerável, com proteção social.
Por fim, os argentinos devem solucionar a crise política que também assola o país, escolhendo seu chefe de Estado, que irá tomar as decisões para enfrentamento da crise e ministrará os setores governamentais, principalmente o econômico. A superação da crise é um passo a uma Argentina mais forte, justa e igualitária.
Referências
ADRIANA, Laís. Argentina e FMI chegam a “acordo inicial“ sobre renegociação de dívida. 2023. Disponível em: <a href=”http://<https://www.cnnbrasil.com.br/economia/argentina-e-fmi-chegam-a-acordo-inicial-sobre-renegociacao-de-divida/>. Acesso em: 14 ago. 2023.
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PAGINGER, Germán. Por que a economia argentina está em crise e como chegou nesta situação. CNN Brasil. 26/07/2022. Disponível em:<a href=”http://<https://www.cnnbrasil.com.br/economia/por-que-a-economia-argentina-esta-em-crise-e-como-chegou-nesta-situacao/>. Acesso em: 14 junho. 2023
REUTERS. Senado da Argentina aprova acordo de dívida de US$45 bilhões com FMI. CNN Brasil. 18/03/2022. Disponível em:<a href=”http://<https://www.cnnbrasil.com.br/economia/senado-da-argentina-aprova-acordo-de-divida-de-u-45-bilhoes-com-fmi/>. Acesso em 15 junho. 2023.
SILVA, Adriana Ferreira. Desigualdade inflacionada: os efeitos da inflação sobre as diferentes classes de renda. Cepea. 2022. Disponível em: <a href=”http://<https://www.cepea.esalq.usp.br/br/opiniao-cepea/desigualdade-inflacionada-os-efeitos-da-inflacao-sobre-as-diferentes-classes-de-renda.aspx>.
