BRASILEIROS NEGROS REINVINDICAM HORÁRIO NOBRE ENQUANTO NOVELAS FINALMENTE REFLETEM A DIVERSIDADE

Por Giovana Maria Fernandes Arruda

(Fonte: Estilo 5.0+)

1. INTRODUÇÃO

Após anos de protagonismo branco demonstrada nas principais redes de televisão do Brasil, as três principais novelas atuais possuem personagens nas principais posições, sendo importante considerar a importância deste novo evento em conjunto com o fato de que as telenovelas brasileiras são bastante populares ao redor do mundo pelos seus roteiros repletos de melodrama, romance e suspense, além de trazer diferentes discussões sociais para os telespectadores de forma constante, que vão desde classe e sexualidade, a ditadura e meio ambiente (THE GUARDIAN, 2023). Entretanto, é possível se observar que a questão da desigualdade racial se apresenta de forma persistente dentro da população brasileira, que é formada por 56% de indivíduos que se identificam como negros oou mestiços, fator que influencia da apariçao de profissionais do teatro nas telas da televisão (THE GUARDIAN, 2023).

Logo, segundo a notícia publicada pelo jornal The Guardian de título “Brasileiros negros reinvindicam horário nobre enquanto novelas finalmente refletem a diversidade”, referência principal desta análise conjuntural:

“A sub-representação dos negros brasileiros em posições de poder continua sendo um problema arraigado em um país que ainda está lidando com o apagamento de seu passado afro-brasileiro. Ainda em 2018, a Globo foi repreendida publicamente por exibir uma novela com um elenco quase todo branco, apesar de ser ambientada na Bahia, o estado mais negro do Brasil” (THE GUARDIAN, 2023).

Enfim, para a Globo, gigante produtora brasileira que vem lidando nos últimos anos com problemas relacionados à baixa de audiência em seus programas e propagandas, causado em parte pela onde de serviços de streaming que vem se desenvolvendo no Brasil e no mundo nos últimos tempos, é importante pensar que a questão da diversidade humana é algo que afeta os indivíduos em si e também o sucesso dos meios de comunicação atuais, já que, em seu pensamento, essa diversificação seria uma boa forma de reconquistar a audiência perdida e obter classificações mais altas de sucesso no país, se tornando um esforço consciente dos produtores da rede, que até mesmo criou um novo departamento com o intuito de dar enfoque principalmente a questão sendo discutida nesta análise (THE GUARDIAN, 2023).

2. A TELEVISÃO BRASILEIRA AO LONGO DOS ANOS E DIVERSIDADE NESTE MEIO DE COMUNICAÇÃO

Levando em consideração a apresentação da discussão anterior, se torna imprescindível mencionar a história da televisão brasileira, apresentando seus primórdios até os dias atuais, isto porque compreender as origens deste meio de comunicação do Brasil e seu histórico, principalmente social, ao longo dos anos nos ajuda a entender sua importância para as diferentes áreas da vida em sociedade, tendo em mente seu protagonismo na indústria do entretenimento e a forma que já foi utilizado como instrumento para diversos fins políticos. Sendo assim, em primeiro momento, um comentário será feito acerca do contexto brasileiro para o surgimento da televisão e, em segundo momento, será feita uma análise acerca dos principais momentos políticos que envolveram de grande forma a televisão como jornalismo, teatro e outras formas de entretenimento e manifestação.

Levando em conta o contexto brasileiro para o surgimento da televisão como meio de comunicação e entretenimento estabelecido, é possível observar que este evento mais especificamente ocorreu no ano de 1950, quando o jornalista Francisco de Assis Chateaubriand inaugurou a TV tupi no país, tendo sua primeira transmissão na sede do Diários Associados, um condomínio acionário que representa o terceiro maior conglomerado de mídias do cenário brasileiro atual (UFMG, 2022). Para mais, Francisco chegou a importar em primeiro momento duzentos aparelhos televisores em preto e branco dos Estados Unidos, que eram o modelo geral para todo o resto do mundo, podendo as televisões ter cores e sinal analógico a partir do ano de 1954, tecnologia gerada pela National Broadcasting Company (NBC), que só chegaram no Brasil após 9 anos de sua criação, experimentalmente, e oficialmente somente após 18 anos, em 1972 (UFMG, 2022).

Tendo estas informações em mente, é imprescindível discutir os principais cenários políticos onde a televisão se destacou, entre estes a Ditadura Militar e a ascensão dos movimentos sociais na atualidade. Pensando no primeiro acontecimento citado, é relevante o fato de que, na ditadura, os militares utilizam deste meio de comunicação para “cimentar o culto da potência nacional” (BUCCI, 2016), tornando a nação mais forte e propagando seus ideais autoritários, como uma tentativa de legitimá-los aos olhos do público, tanto doméstico como internacional. Por outro lado, as televisões também foram utilizadas pela mídia como forte de protesto contra aqueles que os oprimiam, contestando as ideias que eram forçadamente impostas a eles, apresentando, em comparação com a utilização deste recurso pelos próprios militares, um momento de lógica paradoxal, onde ambos os lados de um “conflito” utilizavam o recurso que estavam disponíveis a eles para seus fins, seja este estabelecer mais concretamente uma visão mais forte do Brasil para o Sistema Internacional ou protestar as ações de seu país natal sobre seu cotidiano.

Além disso, a partir da discussão acerca do papel da televisão nos movimentos sociais atuais, iniciando com a seguinte citação:

“O campo midiático e a esfera pública mesclam-se. Para colocar-se publicamente e amplificar determinadas ações sociais é preciso ter um bom acesso aos meios de comunicação de massa. E isso significa sair dos bastidores para “mostrar a cara”. Ao procurar a TV, um dos principais objetivos dos movimentos sociais é falar de forma massiva, comunicar-se com a sociedade, ganhar adeptos e aumentar a força da luta. Nesse caso a mídia televisiva realiza o papel de reunir milhares de indivíduos dispersos diante das propostas do movimento, que passam a tornar-se conhecidas. A instantaneidade da informação, a transparência e a importância que as imagens ganham ao serem mostradas a milhares de telespectadores têm um efeito impressionante sobre os movimentos sociais.” (COSTA, [s.d.]).

A partir da seguinte fala, podemos concluir que o papel da televisão abrange tanto a ampliação da capacidade de grupos da Sociedade Civil – inclui grupos transnacionais, movimentos sociais, entre outros -, que possuem os mesmo pensamentos e ideais de se juntar para formar uma ação política que possa agir contra aqueles atores que causam um cenário onde novas necessidades são criadas, majoritariamente porque certas demandas básicas para cada grupo específico não foram atendidas e estando principalmente dentro da área dos direitos humanos pertencentes a todos e qualquer indivíduo, estando ele em qualquer lugar do mundo.. Em suma, a busca pela visibilidade através da televisão abre uma margem para a luta a favor de seus próprios propósitos, envolvendo também a sociedade em problemáticas que muitas vezes não estavam em seu “radar”, entre eles a problemática do racismo, que será abordada no tópico em seguida.

Por fim, podemos entender o termo Racismo como “a discriminação social baseada no conceito de que existem diferentes raças humanas e que uma é superior às outras” (CONAQ, 2023). Considerando sua longa história escravocrata, o Brasil possui um longo histórico com este termo, fato negado por muitos indivíduos brasileiros e estrangeiros com a justificativa de que o Brasil se tornou ao longo dos anos um dos países com o maior número de miscigenação do mundo, fator resultante de seu passado como uma colônia de exploração  que se tornou a “casa” de pessoas de diversos países, vindos da Europa, da Ásia, das próprias Américas e claro, da África.

Desde a vinda das televisões para território brasileiro em 1950, assim como mencionado anteriormente, o primeiro personagem a ser interpretado por uma pessoa negra ocorreu somente em 1997, com Thaís Araújo, atriz extremamente relevante para o movimento e para o setor de entretenimento no país, interpretando o papel da protagonista Chica da Silva em uma telenovela produzida pelo Brasil (MELO, 2016). Logo, se torna possível observar o grande atraso que a televisão brasileira sofreu para atingir um nível mínimo de diversidade em suas produções, fator não exclusivo para novelas, podendo ocorrer um outros projetos expostos por essa mídia como, por exemplo, comerciais e jornais de notícias. 

4. CONCLUSÃO

Dada a problemática apresentada, é perceptível como o horário nobre da televisão é tomado por pessoas brancas e muitas vezes faltam oportunidades e apresentações que representem de fato a negritude brasileira. Dessa forma, é ressaltado como o racismo estruturalizado se mostra presente em diversos ambientes na rotina das pessoas, como nas novelas e na televisão, que pouco a pouco estão abordando a diversidade, que já deveria estar sendo mostrada há muito tempo.

Dado isso, o surgimento da televisão como meio de comunicação que figurou como o número um durante anos, e ainda se mostra fortemente presente nos domicílios brasileiros, vemos como os meios de comunicação são dominados por poucas pessoas, uma elite midiática. Assim, se faz de suma importância a presença da sociedade civil, e da população como um todo nos movimentos para uma maior inclusão, que retrate a realidade e que não mascare toda riqueza cultural e racial brasileira, dando um passo rumo a um país e uma sociedade mais justa e igualitária.

REFERÊNCIAS

Fonte Imagem: MKT50MAIS. Você sabia que a TV completou 70 anos em 2020? – Estilo 5.0 Mais. Disponível em: <a href=”http://<https://estilo5ponto0mais.com.br/blog/tv-completou-70-anos-em-2020/&gt;. Acesso em: 16 jun. 2023.

BUCCI, Eugênio. Televisão brasileira e ditadura militar: Tudo a ver com o que está aí até hoje. Escola de Comunicações de Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), número 20, volume 10, jul-dez. 2016.

COSTA, Vânia Maria Torres. Os Movimentos Sociais e Televisão: em Busca de Visibilidade. Universidade da Amazônia. Disponível em: <http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/160840022935887860202626468154185023540.pdf>. Acesso em: 16 de junho de 2023.

HISTÓRIA da Televisão – Espaço do Conhecimento UFMG, 2022. Disponível em: <a href=”http://<https://www.ufmg.br/espacodoconhecimento/historia-da-televisao/&gt;. Acesso em: 16 jun. 2023.

MALLERET, C. Black Brazilians claim prime time as telenovelas finally reflect diversity. Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/2023/may/20/brazil-telenovelas-black-characters-race-soap-operas>. Acesso em: 16 jun. 2023.

‌MELO, R. A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NAS TELENOVELAS. n. 1, p. 2359–2796, 2016.

SIGNIFICADO de Racismo – CONAQ. Disponível em: <http://conaq.org.br/noticias/significado-de-racismo/>. Acesso em: 16 jun. 2023.