Texto Conjuntural África Oriental #8

O impacto das mudanças climáticas em Ruanda

05/11/2023

Por Antônio Augusto Araújo Vaz

HISTÓRIA DE RUANDA 

A formação inicial do reino de Ruanda ocorre através dos povos tútsis, hutus e os tuas. Os tútsis, segundo a crença, tinham origem celestial e o direito divino de governar. Os hutus eram a maioria da população e trabalhavam na agricultura, já os tuas eram uma minoria e viviam da caça e da coleta. Até que em 1890, a Alemanha ocupou Ruanda e manteve um sistema de governo monárquico tútsi. Contudo, após a Primeira Guerra Mundial, a Bélgica assumiu a administração do país e intensificou a discriminação contra os hutus. (MEMORIAL DA DEMOCRACIA, 2012)

Em 1962, Ruanda conquistou a independência, e primeiro governo foi liderado por um tutsi, que manteve a discriminação contra os hutus. Até que em 1973, Juvénal Habyarimana, um hutu, liderou um golpe de Estado que levou a deposição do governo tutsi, ao assumir o poder Habyarimana implementou uma série de políticas para beneficiar os hutus. No entanto, a discriminação contra os tútsis continuou. Em 1990, a Frente Patriótico Ruandês (FPR), um grupo rebelde tutsi, lançou uma ofensiva contra o governo e em 1994, o FPR derrubou o governo de Habyarimana. (MEMORIAL DA DEMOCRACIA, 2012)

No entanto, no mesmo ano aconteceu o genocídio de Ruanda, culminando em um massacre de tutsis e hutus moderados., esse genocídio só foi interrompido pela intervenção da ONU e do FPR. O FPR assumiu o controle do país e estabeleceu um governo de transição. Desde o genocídio, Ruanda tem feito progressos significativos na construção de uma democracia inclusiva, o país inclusive chegou a aprovar uma nova constituição em 2003, que garante direitos iguais a todos os cidadãos, independentemente da etnia. (MEMORIAL DA DEMOCRACIA, 2012)

Atualmente, Ruanda é um país presidencialista com um sistema multipartidário, em que o presidente é eleito por voto popular para cumprir um mandato de sete anos. O parlamento é bicameral, composto por uma câmara baixa, a Câmara dos Deputados, e uma câmara alta, o Senado. Ruanda é um país em desenvolvimento com uma economia baseada na agricultura e turismo. Contudo, o país enfrenta desafios, como a pobreza, a desigualdade e a violência política. No entanto, Ruanda é um exemplo de como um país pode superar um passado trágico e construir uma democracia inclusiva (MEMORIAL DA DEMOCRACIA, 2012).

FORTES CHUVAS EM RUANDA CAUSAM INUNDAÇÕES 

Em Ruanda entre os dias 2 e 4 de julho de 2023 houveram fortes chuvas, que causaram inundações e deslizamentos de terra, deixando pelo menos 130 mortos e milhares de desabrigados, principalmente nas províncias do oeste e do norte do país, que foram as regiões mais afetadas. (G1, 2023). Na cidade de Rubavu, no oeste do país , as águas da chuva inundaram as casas, as escolas e os hospitais, além de terem causado deslizamentos de terra, deixando centenas de pessoas soterradas. Essa foi uma das regiões mais afetadas pelas fortes chuvas. (ESTADO DE MINAS, 2023). Diante da situação, o governo de Ruanda começou a prover assistência, fornecendo alimentos, água, abrigo e assistência médica às pessoas afetadas pelas chuvas e pelas inundações. Além disso, o governo também está trabalhando para reconstruir a infraestrutura danificada em decorrência da intensa precipitação. 

Ademais, dentre as principais causas das inundações, tem-se a mudança climática, o desflorestamento e a urbanização, que quando combinados resultam em grandes catástrofes como essas. A mudança climática refere-se a alterações significativas e de longo prazo nos padrões climáticos de uma região ou do planeta como um todo, causando mudanças como variações na temperatura, padrões de precipitação, intensidade de eventos climáticos extremos e outros elementos climáticos. Mas, a resposta a essas mudanças varia de país para país, visto que cada país prioriza um tema dentro de sua agenda e cada país tem sua realidade econômica e política. 

MUDANÇA CLIMÁTICA EM PAÍSES EM DESENVOLVIDOS

A mudança climática é o fenômeno pelo qual o clima da Terra está mudando, principalmente devido às atividades humanas, visto que atividades como a queima de combustíveis fósseis, estão liberando gases de efeito estufa na atmosfera, que estão causando a intensificação do aquecimento global. Dentre as mudanças do clima pode-se citar o aumento da temperatura média da Terra, o aumento do nível do mar, as mudanças nos padrões de chuva, o aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como secas, inundações e furacões, o derretimento das geleiras e do permafrost, entre outros (IPCC, 2023)

A principal causa da mudança climática é a ação humana sobre a natureza, principalmente através do aumento da liberação de gases do efeito estufa na atmosfera em atividades como a queima de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás natural, o desmatamento, a agricultura e a pecuária. Dentre os elementos que compõem o gás do efeito estufa estão o dióxido de carbono, o metano e o óxido nitroso, todos esses combinados retêm o calor da Terra,  intensificando o aquecimento global. (IPCC, 2023)

As principais consequências da mudança climática são o aumento do nível do mar, que gera inundações e causa danos nas áreas costeiras; mudanças nos padrões de chuva, o que está causando secas em algumas regiões e inundações em outras; aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos; aniquilamento da biodiversidade, pois as mudanças climáticas estão afetando os habitats naturais. Por fim, como as mudanças climáticas afetam o meio ambiente, elas também afetam o ser humano, o próprio causador do desequilíbrio ambiental, pois as mudanças impactam na saúde humana, causando doenças relacionadas ao calor e ao ar poluído, principalmente doenças relacionadas a problemas respiratórios. (IPCC, 2023)

Ademais, o clima em Ruanda é caracterizado por um verão curto e morno com céu parcialmente nublado, e um inverno curto, com precipitação e céu nublado. A temperatura ao longo do ano varia de 16 °C a 28 °C, raramente ultrapassando 31 °C, a temperatura mais alta ocorre em agosto, atingindo 28 °C, enquanto a mais baixa ocorre em novembro, com mínima de 17 °C. O país possui uma estação chuvosa que dura 8 meses, de setembro a maio, com abril sendo o mês mais chuvoso. A estação seca ocorre de maio a setembro, sendo julho o mês menos chuvoso. (Weather Spark, 2023)

Ruanda está sofrendo os impactos das mudanças climáticas de várias maneiras, como o aumento da temperatura, secas mais frequentes e intensas, e eventos climáticos extremos, como inundações e tempestades. Com o aumento da temperatura, a agricultura está afetada, causando perdas de safras, e levando a uma redução na renda dos agricultores, somado a isso tem-se também as secas, que estão levando à desertificação, o que está tornando cada vez mais difícil para os agricultores cultivarem suas terras, ou seja, o país está sofrendo economicamente com as mudanças climáticas. Além disso, Ruanda está sofrendo com a redução na produção de alimentos, o que está aumentando a insegurança alimentar no país.

Os eventos climáticos extremos como as inundações, estão destruindo casas e infra estruturas, e as tempestades estão causando danos às plantações. Isso está levando a deslocamentos populacionais e à perda de bens e serviços. Os impactos das mudanças climáticas em Ruanda estão afetando todos os setores da sociedade. Entre os principais impactos das mudanças tem-se a redução da renda, diminuição da segurança alimentar e da qualidade de vida da população. 

Diante do cenário atual, especialistas recomendam diminuir a emissão de gases intensificadores do efeito estufa para mitigar os efeitos colaterais da mudança climática. Para diminuir as emissões é recomendado investir em energias renováveis, como a energia solar e a eólica; melhorar a eficiência energética, ou seja, diminuir a perda de energia produzida; reduzir o uso de combustíveis fósseis; plantar árvores e buscar uma dieta mais baseada em plantas. Mesmo seguindo algumas dessas recomendações, os cientistas, os pesquisadores e os especialistas apresentam uma visão pessimista acerca do tempo de tomada de decisão, alguns desses acreditam já ser tarde demais para que essas mudanças possam frear os efeitos e as consequências da mudança climática. (UNEP, 2021)

Ademais, o relatório do IPCC de 2023 sobre adaptação às mudanças climáticas observa que mais de oito em cada dez países têm pelo menos um instrumento nacional de planejamento de adaptação, enquanto estão melhorando e incorporando medidas mais inclusivas. Um terço dos 197 países Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), incluindo Ruanda, incorporaram metas de adaptação quantificadas e com prazos definidos. Além disso, cerca de 90% dos instrumentos de planejamento analisados na pesquisa levam em conta o gênero e os grupos desfavorecidos, como os povos indígenas. (UNEP, 2023)

Entretanto, o financiamento necessário para transformar esses planos em ações reais não está acompanhando o ritmo e se apresenta como o principal desafio para os países em desenvolvimento, como Ruanda, na hora de responder às mudanças climáticas. Os fluxos internacionais de financiamento para adaptação nos países em desenvolvimento estão de 5 a 10 vezes abaixo das necessidades estimadas e essa disparidade continua a aumentar. Os fluxos financeiros internacionais para adaptação nos países em desenvolvimento alcançaram US$29 bilhões em 2020, como relatado pelos países doadores, um aumento de 4% em relação a 2019. (UNEP, 2023)

Os fluxos financeiros combinados para adaptação e mitigação em 2020 foram registrados pelo menos US$17 bilhões abaixo dos US$100 bilhões prometidos aos países em desenvolvimento. Logo, é necessária uma aceleração significativa para conseguir dobrar os fluxos financeiros até 2025, em comparação com 2019, como exigido pelo Pacto Climático de Glasgow. As necessidades anuais estimadas de adaptação variam de US$160 bilhões a US $340 bilhões até 2030, e de US$315 bilhões a US$565 bilhões até 2050. (UNEP, 2023)

Apesar de adaptações na agricultura, água, ecossistemas e setores intersetoriais, o aumento não é proporcional aos impactos da mudança climática. Sem uma mudança radical no apoio às medidas de adaptação, essas poderiam ser superadas pela aceleração desenfreada dos riscos climáticos (UNEP, 2023). Com isso, o relatório conclui que a interligação das ações de adaptação e mitigação (como as soluções baseadas na natureza) desde o início em suas fases de planejamento, financiamento e implementação podem melhorar seus benefícios. Essa ação também poderia evitar que ações se prejudiquem, como a energia hidrelétrica reduzindo a segurança alimentar ou a irrigação das culturas, aumentando o consumo de energia (UNEP, 2023).

Os autores do relatório concluem que é necessária uma forte vontade política para aumentar os investimentos e os resultados da adaptação, mas também é necessário que haja uma cooperação internacional entre países em desenvolvimento e países desenvolvidos. Crises como a guerra na Ucrânia e a pandemia da COVID-19 não podem descarrilar os esforços internacionais para aumentar a adaptação à mudança climática. Vontade política sem precedentes e investimentos de longo prazo em projetos de adaptação às mudanças climáticas são urgentemente necessários para evitar que a lacuna de adaptação se amplie. (UNEP, 2023)

RESPOSTA DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO A MUDANÇA CLIMÁTICA

Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano (HDR) de 2023 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Ruanda é classificado como um país de desenvolvimento humano baixo, ocupando o 165º lugar entre 189 países. Fatores como a pobreza, a desigualdade e falta de infraestrutura contribuem para que o país tenha uma baixa classificação no ranking de Desenvolvimento Humano (PNUD, 2022). Os países em desenvolvimento apresentam características em comuns, que quando combinadas contribuem para um aumento da dificuldade na hora implementar as medidas do regime de meio ambiente, ou seja, dificuldades para implementar as ações que têm como objetivo evitar o aquecimento global e consequentemente as mudanças climáticas. 

Entre os empecilhos para a implementação de mudanças exigidas pelo regime de meio ambiente tem-se a pobreza, essa se configura como um obstáculo significativo para a proteção ambiental, já que os países em desenvolvimento geralmente não têm recursos limitados para investir em políticas e tecnologias ambientais. Geralmente combinado a pobreza tem-se também a desigualdade e a falta de infraestrutura, que significa que uma parte da população não tem acesso a diversos  recursos. Outro fator relevante é o crescimento populacional, porque como a população cresce, aumenta-se a pressão sobre os recursos naturais. (The World Bank, 2018)

O atual presidente de Ruanda, Paul Kagame, tem tomado medidas para enfrentar os impactos das mudanças climáticas. Em 2022, o governo lançou uma série de medidas incluindo ações como investimentos em energia renovável, reflorestamento e a proteção da biodiversidade. O governo de Kagame está investindo em energia solar, eólica e hídrica, com o objetivo de reduzir a atual dependência que Ruanda tem sobre os combustíveis fósseis. Este atual governo também tem plantado mais árvores para aumentar a captação de carbono da atmosfera e para proteger a biodiversidade do país, mitigando alguns efeitos das mudanças climáticas (UNFCC, 2021).

O governo do Ruanda também está trabalhando para aumentar a conscientização sobre as mudanças climáticas através da realização de campanhas públicas de educação para que as pessoas entendam os impactos das mudanças climáticas e o que elas podem fazer para colaborar no enfrentamento desse problema. No entanto, estes esforços são insuficientes para enfrentar os desafios atuais, visto que Ruanda é um país sem muitos recursos financeiros e infraestrutura. Com isso, o país fica à mercê do apoio internacional para desenvolver suas estratégias de adaptação para as mudanças climáticas (UNFCC, 2021)

A resposta não só de Ruanda, mas de outros países em desenvolvimento frente às mudanças climáticas é lenta e na maioria dos casos envolve certa dependência do capital do país desenvolvido. Essa dependência se dá através de financiamento, por exemplo, no caso de Ruanda, o país precisa de recursos econômicos para investir em energia renovável, reflorestamento e proteção da biodiversidade. Além disso, o país também precisa desenvolver tecnologias para enfrentar estas mudanças. Desse modo, o apoio internacional é essencial para ajudar o Ruanda, e outros países em desenvolvimento, a enfrentar os desafios das mudanças climáticas. (The World Bank, 2018)

No capítulo “Diagnósticos, planejamento e políticas nacionais sobre clima e desenvolvimento”, do artigo sobre um plano para as mudanças climáticas, feito pelo Banco Mundial, o Banco descreve algumas formas de promover o desenvolvimento sustentável através da integração de considerações climáticas no planejamento e na elaboração de políticas a nível nacional. (The World Bank, 2018)

O capítulo sublinha a importância de construir uma base analítica sólida, tanto a nível global como nacional, nomeadamente através da introdução de Relatórios sobre o Clima e o Desenvolvimento dos Países (CCDR). Estes relatórios investigaram como as alterações climáticas e a descarbonização podem impactar o caminho e as prioridades de desenvolvimento de um país e identificaram potenciais ações de mitigação, adaptação e criação de resiliência para melhorar os resultados do desenvolvimento. As CCDR apoiarão a preparação e implementação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) e das Estratégias de Longo Prazo (LTS) dos países clientes e contribuirão para os Diagnósticos Sistemáticos dos Países, os Diagnósticos do Sector Privado dos Países e os Quadros de Parcerias dos Países do Grupo Banco Mundial. O Banco Mundial planeja concluir até 25 CCDR durante o próximo ano, centrando-se nos países em desenvolvimento com emissões de carbono particularmente elevadas e/ou grandes vulnerabilidades climáticas. Estes diagnósticos apoiarão o diálogo a nível nacional sobre orientações políticas e fortalecimento institucional. (The World Bank, 2018)

Ademais, a falta de infraestrutura é um desafio para a proteção ambiental, pois os países em desenvolvimento geralmente apresentam uma infraestrutura deficiente, que dificulta a implementação de políticas e tecnologias ambientais necessárias. Por fim, a governança também é um empecilho, visto que em países em desenvolvimento geralmente as instituições governamentais são frágeis, o que dificulta a implementação de políticas públicas e tecnologias voltadas para o meio ambiente. 

Os países em desenvolvimento enfrentam uma série de desafios para responder à mudança climática. Contudo, apesar desses desafios, esses países estão tomando medidas para responder à mudança. Os esforços tomados pelos países em desenvolvimento concentram-se em melhorar, desenvolver e investir exatamente nas barreiras encontradas por eles durante o processo de promoção da agenda de meio ambiente. Nesse momento o apoio internacional e a cooperação fazem- se essenciais para ajudar os países em desenvolvimento a enfrentar os desafios ambientais e conseguir cumprir com o regime de meio ambiente, sempre visando  construir um futuro sustentável. (The World Bank, 2018)

MUDANÇAS CLIMÁTICAS EM RUANDA

Ruanda enfrenta uma série de desafios climáticos, incluindo aumento das temperaturas, intensificação das chuvas e prolongamento das estações secas. Esses desafios estão tendo um impacto significativo no país, incluindo erosão, inundações, secas e desertificação. Além disso, Ruanda é altamente vulnerável aos efeitos das mudanças climáticas, embora sua prontidão para combatê-los seja moderada. (Ministry of Foreign Affairs of the Netherlands, 2019).

A escassez de terra emerge como um obstáculo crucial, dada a topografia montanhosa e a densidade populacional, comprometendo as oportunidades para a produção agrícola e o desenvolvimento econômico. Além disso, a degradação do solo e a erosão resultantes do desmatamento, agricultura intensiva e sobrepesca contribuem para a diminuição da produtividade agrícola e perda de biodiversidade. O desmatamento em Ruanda apresenta-se como um problema grave, considerando o papel vital das florestas na regulação do clima, proteção da biodiversidade e fornecimento de água potável. Por fim, a vulnerabilidade às mudanças climáticas representa uma ameaça adicional. Ruanda enfrenta desafios decorrentes de eventos climáticos extremos e flutuações imprevisíveis, o que destaca a necessidade urgente de abordar e mitigar esses problemas ambientais para garantir um futuro sustentável (Sida Environment Helpdesk, 2019).

As mudanças climáticas estão impondo uma série de impactos sérios em Ruanda, abalando setores fundamentais da sociedade. Com a agricultura representando aproximadamente 70% do emprego e 30% do PIB, as secas mais frequentes e intensas, junto com alterações nos padrões de precipitação e eventos climáticos extremos, estão resultando em uma redução significativa na produtividade agrícola. Esse declínio agrícola, por sua vez, intensifica a pobreza e a insegurança alimentar. Ademais, o aumento das temperaturas contribui para uma alarmante incidência de doenças transmitidas por vetores, como malária, dengue e febre amarela, já as secas e inundações potencializam a proliferação de mosquitos, elevando os custos do sistema de saúde e afetando a saúde da população.

Outro problema de presente em Ruanda é a escassez de água que é exacerbada pelas mudanças climáticas, comprometendo o abastecimento para consumo humano, irrigação e geração de energia. Esta última, por sua vez, enfrenta pressões crescentes devido à necessidade de redução de emissões, resultando em aumentos nos custos da energia e impactando a economia nacional. Os danos à infraestrutura causados por inundações e secas complicam o transporte e aumentam os custos de construção. Com esses eventos intensos tem-se a perda de biodiversidade, que é uma consequência trágica, visto que espécies vegetais e animais enfrentam a extinção devido ao aumento das temperaturas e mudanças nos padrões de precipitação (WEATHER SPARK, ?).

Embora o governo ruandês esteja tomando medidas para se adaptar, os desafios persistem e a assistência internacional é essencial para financiar ações de adaptação. O estudo do governo do Reino Unido, conduzido pelo Centro Internacional de Pesquisa para o Desenvolvimento (IDRC), desempenha um papel crucial ao fornecer dados essenciais para o desenvolvimento de políticas públicas que visam enfrentar os impactos econômicos das mudanças climáticas em Ruanda (WEATHER SPARK, ?).

Para superar os desafios iminentes, Ruanda deve adotar uma abordagem integrada e holística, envolvendo ações em diversos setores, desde agricultura até saúde, habitat humano e infraestrutura, e níveis governamentais, além da participação ativa das comunidades locais e da sociedade civil. Essas políticas precisam ser fundamentadas em uma avaliação meticulosa dos riscos e vulnerabilidades climáticas específicas do país. A capacidade de adaptação das comunidades locais, especialmente as mais vulneráveis, deve ser fortalecida por meio de programas educacionais, conscientização e apoio financeiro para implementação de medidas adaptativas.

A promoção de práticas agrícolas sustentáveis, como conservação de solo e água, diversificação de culturas e o uso de sementes resistentes às mudanças climáticas, emerge como uma estratégia eficaz para reduzir a vulnerabilidade agrícola aos impactos climáticos. Somado a essas práticas pode-se investir em tecnologias limpas e renováveis, como energia solar e eólica, já que elas são essenciais para mitigar as emissões de gases de efeito estufa e, assim, combater os efeitos prejudiciais das mudanças climáticas (Ministry of Foreign Affairs of the Netherlands, 2019).

A gestão eficaz dos recursos naturais é crucial para aumentar a resiliência às mudanças climáticas, já que essa abordagem sustentável contribui para a proteção ambiental e para a redução dos impactos adversos das mudanças climáticas. Além disso, é fundamental promover a cooperação internacional e participar ativamente em iniciativas multilaterais para enfrentar os desafios climáticos, pois a troca de experiências com outros países e a busca de apoio financeiro e técnico podem fortalecer as ações de Ruanda. A implementação dessas recomendações exigirá um comprometimento firme tanto do governo quanto da sociedade civil e do setor privado. Com um esforço coordenado, Ruanda tem o potencial de construir uma sociedade mais resiliente diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas (Ministry of Foreign Affairs of the Netherlands, 2019).

CONCLUSÃO

Tendo em vista as informações analisadas, compreende-se que a  pobreza surge como um grande entrave, limitando investimentos em políticas e tecnologias ambientais nos países em desenvolvimento. Nesse sentido, a  desigualdade, associada à falta de acesso a recursos por parte de uma parcela da população, exacerba essas dificuldades. O crescimento populacional amplifica a pressão sobre os recursos naturais, agravando o quadro. No entanto, observamos que o governo de Ruanda, liderado por Paul Kagame, tem tomado iniciativas significativas para enfrentar os impactos das mudanças climáticas, através de investimentos em energia renovável, reflorestamento e proteção da biodiversidade como medidas cruciais. Em paralelo a isso tem-se também o lançamento de campanhas públicas sobre as mudanças climáticas, com campanhas educativas para engajar a população.

Apesar desses esforços, a limitação de recursos financeiros e infraestruturais de Ruanda, mesma característica apresentada por outros países em desenvolvimento, coloca esses países dependentes do apoio internacional para desenvolver estratégias efetivas de adaptação às mudanças climáticas. Essa dependência se manifesta na necessidade de financiamento para investimentos ambientais e desenvolvimento de tecnologias. A resposta global dos países em desenvolvimento às mudanças climáticas é caracterizada por uma lentidão considerável, muitas vezes vinculada à necessidade de capital dos países desenvolvidos. A falta de infraestrutura e governança frágil são adicionadas aos desafios, dificultando a implementação de políticas e tecnologias ambientais.

Apesar dos inúmeros obstáculos, é encorajador observar que os países em desenvolvimento estão agindo para superar esses desafios, através da concentração de esforços em superar barreiras específicas, promovendo o desenvolvimento e investindo em áreas cruciais para a promoção da agenda ambiental. Nesse contexto, a cooperação internacional se revela essencial para auxiliar os países em desenvolvimento a enfrentarem os desafios ambientais e a cumprirem as metas do regime de meio ambiente, visando construir um futuro sustentável.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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G1 – Globo: G1 – GLOBO. Inundações em Ruanda deixam ao menos 130 mortos. Disponível em: <https://g1.globo.com/google/amp/mundo/noticia/2023/05/04/inundacoes-em-ruanda-deixam-ao-menos-130-mortos.ghtml&gt;. Acesso em: 3 nov. 2023.

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