Clipping África Ocidental #55

Cabo Verde quer ser Plataforma de Exportação de Produtos Brasileiros

Data: 11/03/2025

Por Júlia Henriques Ventura Loreto

No início do mês de março, José Filomeno Monteiro, ministro dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Integração Regional de Cabo Verde, apresentou uma proposta ao ministro de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, para tornar o país africano um ponto central nas exportações brasileiras. A ideia foi exposta durante um encontro entre os dois ministros e parte de um desejo do governo de Cabo Verde de transformar o país em uma plataforma marítima, a fim de diversificar a sua economia e reduzir a sua dependência ao turismo na região. Esse plano atribui à ilha o papel de atrair oportunidades, a partir da abertura econômica (GOVERNO DE CABO VERDE, 2024). Nesse cenário, Cabo Verde se tornaria um local estratégico para o comércio brasileiro, já que permitiria que o país tivesse maior acesso aos mercados africanos.

A reunião determinou a elaboração do Plano Integrado de Cooperação 2025-2027, bem como do estabelecimento de conexões aéreas e marítimas entre o Brasil e Cabo Verde para que o plano se materialize. Além disso, foi destacado e celebrado, por Cabo Verde, o  interesse de empresários brasileiros no arquipélago. Para além da proposta apresentada por José Monteiro, foram discutidas questões frequentes na agenda brasileira: a reforma das instituições de governança e a defesa do multilateralismo. Os representantes dos dois países concordaram com a necessidade de promover reformas no Conselho de Segurança das Nações Unidas, nos bancos multilaterais e nas agências da ONU. O ministro brasileiro convidou Cabo Verde para a 2.ª reunião Brasil-África de ministros da Agricultura e para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), eventos que irão ocorrer no Brasil ao longo do ano. 

O encontro aconteceu em um contexto de visitas de Mauro Vieira a África, com o propósito de fortalecer a cooperação bilateral do Brasil com certos países africanos. Foram realizadas uma série de reuniões com representantes de cinco países para discutir temas em diferentes setores, tais como: meio ambiente, defesa e investimentos. O governo do Presidente Lula tem priorizado a relação com a África, buscando explorar o “amplo potencial para a diversificação de parcerias com o Brasil” (GOVERNO FEDERAL, 2025). O próximo encontro deve ocorrer em 2026, na celebração dos 40 anos da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul.  

FONTE: https://www.governo.cv/governo-quer-cabo-verde-como-plataforma-maritima-de-logistica-internacional

Níger Declara Três dias de Luto após o Ataque a Mesquita que Matou Civis 

Data 21/03/2025

Por Maria Luiza de Carvalho Allo

 O ataque de mesquita em Kokorou no Níger, deixou ao menos 13 feridos e 2 mortos. O governo decretou três dias de luto após o atentado, o Ministro do Interior do país posicionou-se contra a selvageria, num comunicado a rede de televisão. A ação é um dos reflexos do aumento da violência na sub-região do Sahel na África Ocidental, onde o país se localiza. A crescente decorrência da presença dos combatentes armados ligados aos grupos Al-Qaeda e do Estado Islâmico (ISIS) que tomaram o território no norte do Mali, após a rebelião tuaregue de 2012. Nesse contexto, as ações dos grupos espalharam-se pelos países vizinhos Níger e Burkina Faso, tendo, mais recentemente, expandido para o Norte de Togo e Gana, agravando a realidade sensível vivida pela população da sub-região africana.

O Ministério do Interior do Níger afirmou que o último ataque ocorreu no início da tarde durante a reza na mesquita, tornando-se particularmente simbólico por ter ocorrido no período sagrado do Ramadã, mês importante para os religiosos muçulmanos. A ação foi organizada de forma cruel e para além do ataque à mesquita, os agressores incendiaram um dos mercado local e casas. Segundo o Ministério da Defesa o ataque foi de autoria do Estado Islâmico no Grande Saara conhecido como EIGS, uma coligação do ISIS. Em entrevista, o ministro posicionou-se a favor da justiça e prometeu caçar os perpetradores e julgá-los de acordo com a lei, reforçando a gravidade da situação em razão das principais vítimas dos ataques serem civis.

Sob a análise de dados fornecidos pela ACLED, uma Organização Não Governamental, que ilustra desde julho de 2023, mais de 2.400 pessoas foram mortas no Níger durante o conflito. A situação é agravante pelos dados e os impactos em toda a região do Sahel, com centenas de milhares de vítimas civis fatais e milhões de deslocados. Com ataques a centros de defesa do governo e vilas, é nítido o fracasso dos governantes na tentativa de restaurar a segurança, sendo enfático o fato de ainda perpetuar regimes militares em Burkina Faso, Mali e Níger.

FONTE: https://www.aljazeera.com/amp/news/2025/3/22/niger-declares-three-days-of-mourning-after-mosque-attack-leaves-44-dead

Os “repórteres fantasmas” que escrevem propaganda pró- Rússia na África Ocidental 

Data 20/03/2024

Por Maria Paula Barbosa Rangel

Atores pró-Rússia promoveram campanhas de desinformação na África, especialmente, nos países ex-colônias francesas, utilizando identidades falsas como a do falecido professor de futebol Jean Claude Sendeoli, criando personagens falsos especialistas em geopolítica. A partir desses personagens fictícios, diversos artigos foram vinculados a jornais africanos defendendo a presença e as ações russas na região, também criticam a influência das potências europeias. Nesse sentido, a imagem de Sendeoli foi utilizada e vinculada a perfis nas redes sociais de um analista político e militar chamado Gregoire Cyrille Dongobada, que era responsável pelas publicações contrárias à França e à Organização das Nações Unidas, mostrando favorável à presença russa na região.

Os repórteres do Al Jazeera foram responsáveis por descobrir a farsa, uma vez que perceberam que as imagens do falecido Sendeoli estavam sendo utilizadas pelo perfil de Dongobada. Além disso, a pessoa não possui registros acadêmicos nem profissionais que  comprovem sua existência antes da criação das páginas nas redes sociais em 2021. Também, na mesma investigação foi descoberto que este não era um caso isolado, existem pelo menos 15 diferentes “falsos” autores, os quais publicaram cerca de 200 artigos em jornais africanos com textos alinhados aos interesses russos, desde 2021. O jornalista togolês Aubin Koutele era o intermediário entre os autores e os editores, pagando cerca de 80 dólares para os artigos serem publicados.

Outrossim, a investigação encontrou arquivos dos textos que continham fragmentos em cirilico (alfabeto russo), além de um número de telefone – com código postal da Rússia- pertencente a Seth Boampong Wiredu um ganês que vive na Rússia e em 2020 foi apontado por uma reportagem da CNN como um recrutador de jovens na África para espalhar propaganda política russa online. Wiredu trabalhou para a Internet Research Agency (IRA), que é uma empresa russa fundada por Yevgeny Prigozhin. Esta empresa controlava as ações do Grupo Wagner que está presente em diversos países africanos, sendo utilizado pelo Kremlin como uma forma de ampliar a influência russa ao redor do globo, especialmente no continente africano.

Portanto, a investigação do Al Jazeera expõe uma sofisticada campanha de influência russa na África, baseada na criação de falsos especialistas e na publicação de artigos pagos para manipular a opinião pública. Em especial, em um contexto de declínio da influência francesa e acessão da Rússia na região mesmo com tentativas por parte da França de manter sua influência na África, o Kremlin foi apontado como um dos responsáveis por meio do Grupo Wagner, ao financiar cerca de 12 tentativas de golpes de Estado na região Ocidental e Central do continente africano, tendo nove dessas bem sucedidas e no caso de Burkina Faso e do Mali, houve a aproximação político-militar com a Rússia e a expulsão das tropas francesas desse países.

FONTE: https://www.aljazeera.com/features/2025/3/20/the-ghost-reporters-writing-pro-russian-propaganda-in-west-africa


 


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