Clipping África Ocidental #48

O primeiro-ministro do Senegal, Sonko, questiona o futuro da presença militar francesa em Dakar

17/05/2024

Por Maria Luiza de Carvalho Allo

O primeiro-ministro senegalês Ousmane Sonko, em um amplo discurso, levantou a possibilidade de fechar bases militares francesas no país da África Ocidental, tocando também em questões como a moeda do franco CFA, ancorada pelo euro, além de acordos sobre petróleo, gás e direitos LGBTQ+.

O primeiro-ministro é conhecido por criticar o controle francês em sua antiga colônia. A França tem cerca de 350 soldados estacionados no Senegal, levantando questionamentos por parte do político, “Mais de 60 anos após a nossa independência … devemos questionar as razões pelas quais o exército francês ainda se beneficia de várias bases militares em nosso país e o impacto dessa presença em nossa soberania nacional e autonomia estratégica”, disse Sonko.

Em um evento na Universidade de Dakar na noite de quinta-feira (16/05), ao lado do líder francês de esquerda, Jean-Luc Mélenchon, que está visitando o país, Sonko afirma o desejo do Senegal de autonomia sobre sua segurança. Nesse sentido, aborda ainda que tal questão é incompatível com a presença duradoura das bases militares estrangeiras no país.

Embora muitos países tenham prometido acordos de defesa, para Sonko tais proposições não justificam a ocupação de um terço da região de Dakar por guarnições estrangeiras. Outrossim, demais países da região,  como Mali, Burkina Faso e Níger expulsaram tropas francesas e buscaram ajuda russa contra insurgências jihadistas, distanciando-se da Ecowas, bloco da África Ocidental, e formando sua própria aliança de Estados do Sahel. O primeiro-ministro declarou apoio a esses países e ressaltou a necessidade de fortalecer os laços com eles, ao mesmo tempo em que o Senegal mantém suas ligações com o Ocidente, a exemplo da moeda usada, o franco CFA, que é atrelada a duas moedas para melhorar a competitividade das exportações.

Além disso, Sonko destacou a importância da renegociação dos contratos de petróleo e gás do Senegal, cuja produção começa este ano, e pediu que os países ocidentais demonstrem respeito e tolerância em questões sociais, incluindo direitos LGBTQ+ e igualdade de gênero. Ele afirmou que a homossexualidade sempre existiu no Senegal, mas é gerida conforme as realidades socioculturais do país, deixando claro que a legalização desse fenômeno não seria aceita.

FONTE: https://allafrica.com/stories/202405170319.html 

Migração legalizada em um Níger pós golpe militar

06/05/2024

Por Luiz Eduardo Leite Carmo

Após a derrubada do governo eleito no último mês de Julho, o novo governo militar do Níger vem movimentando relações com o ocidente. O governo expulsou as forças militares francesas do país e mitigou diversos pressupostos e acordos estabelecidos com a União Europeia. Além disso, a junta militar revogou um acordo militar com os Estados Unidos da América, enviando mais de mil soldados americanos de volta aos EUA. Com isso, tais movimentos afastam o Níger do ocidente e o aproximam de parceiros securitários como a Rússia, imitando movimentos pós golpes militares como o do Mali e o de Burkina Faso.

Com o novo governo militar e a derrubada das leis que dificultavam migrações para o norte da África, a rota original de Agadez voltou a ser utilizada e a Estação de Ônibus de Agadez retornou a ser um ponto oficial para aqueles que possuem a Líbia como destino e que  posteriormente tentarão migrar para Europa. Uma vez destino de turistas e reconhecida pela UNESCO como patrimônio hereditário, a cidade de Agadez passou por percalços econômicos, seguidos por duas rebeliões e pela ascensão da Al-Qaeda na região nos anos 2000, o que apenas minimizou o número de turistas que a cidade e o Níger recebiam. Assim, quando houve um aumento no número de casos de sucesso de imigração africana para Europa através da Líbia e do Mar Mediterrâneo nos anos de 2013 e 2014, Agadez se tornou de extrema importância para aqueles que desejavam realizar tal travessia. 

Com o renascimento da cidade, diversos moradores locais viram oportunidades na comercialização de transportes, mercadorias, alimentos e muito mais para aqueles com destino ao norte. Dessa maneira, todos os cidadãos de países pertencentes a Economia Comunitária dos Estados do Oeste Africano (ECOWAS) poderiam circular pelo Níger sem a necessidade de um visto.

Entretanto, as leis de migração de 2015 dificultaram novamente o fluxo migratório africano e aqueles que haviam se beneficiado disso para empreender, visto que havia um altíssimo fluxo de africanos se movendo à Líbia para tentar a imigração ao continente europeu. Desse modo, desde que ocorreu o golpe militar e as leis para migração passaram a ser desconsideradas, a Agência da ONU para Migrações (OIM) registrou um aumento de 50% nas movimentações entre o norte do Níger e sul da Argélia e da Líbia entre Dezembro de 2023 e Janeiro de 2024, com também um aumento de 94% do número de indivíduos migrando para a Líbia, estimando-se que 75% sejam nigerianos a busca de trabalho no norte da África.

Comprovando os receios europeus, 2023 foi o ano com mais migrações irregulares de africanos ao continente desde 2016 pelo Mar Mediterrâneo. Tal acontecimento apenas demonstra que o movimento África-Europa nunca se extinguiu, apenas foi dificultado por medidas da União Europeia, causando diversos riscos a vidas africanas, visto que as migrações nunca pararam, apenas as rotas mudaram, e que agora, com a volta da utilização de rotas tradicionais, aqueles que desejam imigrar poderão realizá-lo de maneira mais segura, organizada e regulada, ainda que tais maneiras não sejam as ideais e legais.

A Estação de Ônibus Agadez, um dos principais pontos de partida para migrantes, camionetes são carregadas de migrantes às Terças Feiras, o dia do comboio especial para o Norte do Níger.

FONTE: https://www.thenewhumanitarian.org/news-feature/2024/05/06/post-coup-niger-migration-becomes-legal-again

Guiné-Bissau: Polícia liberta 61 ativistas detidos

20/05/2024

Por Marina Vieira Cardoso

Nesta segunda-feira, 20 de maio, a polícia da Guiné-Bissau libertou 61 ativistas que haviam sido detidos por participarem em manifestações contra o regime político atual do país. A marcha, realizada no sábado, 18 de maio, e promovida pela Frente Popular, resultou na detenção de dezenas de manifestantes em várias partes do país. A Frente Popular, liderada pelo jornalista e ativista político Fernando Lona, organizou a manifestação para denunciar o regime do Presidente Umaro Sissoco Embaló, acusado de governar de forma absolutista após dissolver o parlamento e o governo da maioria PAI-Terra Ranka, nomeando um governo de iniciativa presidencial. A manifestação, cujo lema era “contra a violência e a destruição da democracia”, foi reprimida pela polícia desde cedo, dispersando as aglomerações.

Os ativistas, majoritariamente jovens, foram libertados sem aviso prévio aos seus familiares e foram instruídos a retornar na segunda-feira para recolher seus pertences. A polícia liberou os ativistas por “ordens superiores”, sem esclarecer a origem dessas ordens. Apesar disso, os jovens prometeram continuar a luta, inicialmente pela libertação dos restantes detidos e posteriormente pela denúncia das condições de sua detenção.

A libertação dos ativistas representa uma pequena vitória na luta por democracia e liberdade de expressão na Guiné-Bissau, mas a continuidade da detenção de alguns líderes e a repressão policial demonstram os desafios persistentes enfrentados pelos movimentos de oposição no país. A Frente Popular e seus simpatizantes permanecem determinados a lutar contra o regime vigente e a buscar a libertação total dos seus membros detidos.

FONTE: GUINÉ-BISSAU: Polícia liberta 61 ativistas detidos. DW, 20 de maio de 2024. Disponível em: <https://www.dw.com/pt-002/guin%C3%A9-bissau-pol%C3%ADcia-liberta-61-ativistas-detidos/a-69130876&gt;. Acesso em: 20, maio de 2024.

Boeing 737 derrapa na pista do aeroporto de Dacar, no Senegal, e 11 ficam feridos.

09/05/2024

Por Luize Pavani Cunha Gava

Um avião com dezenas de passageiros derrapou na pista antes da decolagem no principal aeroporto do Senegal nesta quinta-feira (9), ferindo pelo menos 10 pessoas e paralisando temporariamente as operações, conforme informaram o aeroporto e o Ministério dos Transportes do Senegal. O incidente envolveu um Boeing 737-300 BA.N da Transair, fretado pela Air Senegal, que se preparava para voar para o Mali.

O aeroporto de Blaise Diagne anunciou que uma investigação está em andamento para determinar a causa do acidente, que ocorreu durante a noite. Vídeos compartilhados nas redes sociais mostraram passageiros fugindo de um avião com a asa esquerda em chamas, parado em uma área de grama alta, com os escorregadores de emergência ativados e fumaça subindo.

A Reuters não pôde verificar imediatamente os vídeos, mas repórteres presentes no local viram a aeronave com o logotipo da Transair na grama, cercada por fita de isolamento. Segundo o aeroporto, 78 passageiros estavam a bordo e 11 ficaram feridos, incluindo quatro em estado grave. O Ministério dos Transportes relatou que havia 79 passageiros no avião e 10 feridos, incluindo um dos pilotos.

Após o acidente, o aeroporto foi fechado, mas reabriu algumas horas depois, conforme comunicado online. O incidente destacou a necessidade de uma investigação rigorosa para prevenir futuros acidentes e garantir a segurança dos passageiros.

FONTE: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/aviao-derrapa-na-pista-no-principal-aeroporto-do-senegal-e-deixa-10-feridos/

Professor é preso no Mali devido a críticas realizadas ao Governo 

21/05/2024 

Por Ana Clara do Nascimento 

Étienne Fakaba Sissoko, economista e professor da Universidade de Bamako (Mali), foi condenado a dois anos de prisão pelas suas críticas à junta militar, e também foi condenado a pagar uma multa de 3 milhões de francos CFA (4.900 dólares; 3.900 libras). A acusação trata de difamação e de prejudicar a reputação do Estado ao distribuir notícias falsas. 

Os militares chegaram ao poder após o golpe de Estado que depôs o então presidente Ibrahim Boubacar Keïta após enormes protestos antigovernamentais, originados devido à forma como o líder lidou com a agitação jihadista. O trabalho que motivou a sua mais recente prisão chama-se Propaganda, Agitação e Assédio – comunicação governamental durante a transição no Mali, na qual acusa a junta de usar a manipulação e “até mentiras” para influenciar a opinião pública a seu favor.

A junta militar tem enfrentado críticas por ter renegado os prazos acordados para a transição para um regime civil democrático. Além disso, as eleições previstas para fevereiro foram novamente adiadas. Os críticos também dizem que o governo liderado pelos militares não conseguiu enfrentar adequadamente o agravamento da insurgência jihadista, apesar do envio de mercenários do grupo Wagner e da expulsão de forças de manutenção da paz da ONU. Como também, críticas relacionadas à condução da economia no país também são feitas. 

O líder da Junta, Assimi Goïta, chegou ao poder através de um golpe em 2020, após protestos antigovernamentais. Fonte: BBC

Fonte: https://www.bbc.com/news/articles/c1dd9jzr02ko?zephr-modal-register 

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