Camila Venturim Ribeiro dos Santos
Atualmente muito se debate acerca das crises políticas, econômicas, sociais, culturais, identitárias, entre outras que diversos países vivenciam e da participação dos cidadãos em questionar e pressionar os governantes para prover os direitos fundamentais e o bem estar social. Identificar as características que moldam essas manifestações é uma operação complexa, visto que, os protestos são eventos importantes na política internacional e apresentam diversidade local, de causas e efeito, o que os tornam mais específicos.
Fundamente nesse cenário, a Organizações das Nações Unidas (ONU) e a liderança global em prol das meninas e mulheres (ONU Mulheres). Recomendou para o dia 08 de março de 2018 que pessoas de todo o mundo se mobilizassem para conseguir um futuro com alcance aos objetivos do desenvolvimento sustentável, apresentando como tema “O tempo é agora: ativistas rurais e urbanas transformam a vida das mulheres” (ONU MULHERES, 2018). Os princípios da marcha são: apoiar o acesso das mulheres na política e ampliar a participação da sociedade civil, em razão de que esses grupos ocupam uma posição importante nas ações globais, pois defendem reformas e demonstram como foco as diversas dificuldades enfrentadas pelas mulheres devido à cultura de subdesenvolvimento e da exploração com base no gênero (NGCUKA, 2018).
Admite-se que as mulheres fazem parte do processo de emancipação, da luta racial e identitária, pois demonstram a resistência e constroem alternativas as maneiras de dominação do conservadorismo, pode-se notar isso, nas diversas ações sociais e políticas que ocorreram mundialmente neste ano (ROURE, 2018).
Fundamentado no que Gohn (2007) demonstra em sua obra “Mulheres – atrizes dos movimentos sociais: relações político-culturais e debate teórico no processo democrático”(2007), na conjuntura do mundo globalizado as discussões econômicas e políticas estão inseridas no prestígio da classe social hierarquizada e que reflete a relação da visão norte e sul dos Estados no Sistema Internacional. Diante disso, destaca-se as características dos movimentos feministas no Atlântico Sul que se diferenciam dos grandes temas, devido ao foco e a implementação desses assuntos, ao voltar o seu olhar para condições estruturais (AMORIM, 2011).
A fim de entender o palco dos acontecimentos feministas na região do Atlântico Sul, é importante ressaltar sobre o desdobramento dos movimentos de caráter feminino no continente africano que influenciam agendas políticas, por meio da apresentação de discussões sobre gênero fundamentado nos inovadores padrões de liderança (TRIPP, 2017). Com ênfase na região do Golfo da Guiné pode se observar que as ativistas ocupam as ruas em busca por mais segurança, justiça e superação de diferenças políticas, dessa forma pode-se perceber que os movimentos feministas ocupam nesse ambiente a personalidade de oposição aos governos (AFP, 2018).
Com foco no Estado de Camarões é viável averiguar sobre o desenvolvimento das ações social e política desse acontecimento, posto que, suas atividades e pensamentos são articulados de maneira singular, pois as camaronesas lutam pela liberdade do domínio patriarcal, almejam melhores condições na atividade agrícola, ampliação do espaço na economia monetária e melhora nos sistemas de educação e saúde (KAH, 2011).
A propósito de analisar a relação estrutural e conjuntural da manifestação que ocorreu no Estado de Camarões no dia 08 de março de 2018, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher é de grande relevância destacar os atores envolvidos, para compreender a correlação dos cidadãos, instituições, organizações não governamentais, grupos sociais e o governo na pretensão de construir uma sociedade igualitária que apresente crescimento, desenvolvimento e estabilidade. A marcha foi proposta pela ONU Mulheres, liderada por Kah Walla coordenadora do Partido Popular de Camarões (CPP) e envolvia a população minoritária, grande parte eram mulheres (MUMBERE, 2018). O governo repreendeu o protesto por meio da utilização da força física por intermédio das polícias para prender algumas manifestantes (TAYLOR, 2018).
Diante disso, a abordagem Feminismo nas Relações Internacionais irá auxiliar nessa análise conjuntural, pois refere sobre a interpretação da interação das instituições e normas do sistema internacional para explicar a relação entre gêneros, fundamentado no estudo da política global pelo olhar dos grupos marginalizados e os diferentes impactos no sistema de Estados e da economia global (MONTE, 2013). Logo, expõe-se que o caso descrito apresenta um desejo de edificar uma ordem mais justa, que não haja marginalização de gênero, disposições políticas, sociais, culturais e econômicas hierarquizadas e as atividades exercidas por homens sejam mais valorizadas.
É possível salientar também sobre as suspeitas e desconfianças do governo camaronês que através da responsabilidade de prover os direitos fundamentais e humanos supõe que possui o legítimo conhecimento para solucionar os problemas apresentados em seu país, por isso legitima sua ação de resistência à manifestação para conservar a ordem colonial, patriarcal e de dominação desconstruindo categorias diferentes das suas sobre as estruturas sociais e políticas , mesmo que apresente interesses em comum nessas esferas.
Bibliografia
AFP. Guinean women renew anti-government protests. Africa News, 2018. Disponível em: <http://www.africanews.com/2018/03/29/guinean-women-renew-anti-government-protests/>. Acesso em: 20 de abril de 2018.
AMORIM, Linamar Teixeira de. Gênero: uma construção do movimento feminista?. Universidade Estadual de Londrina, 2011. Disponível em: <http://www.uel.br/eventos/gpp/pages/arquivos/Linamar.pdf>. Acesso em: 20 de abril de 2018.
GOHN, Maria da Glória. Mulheres – atrizes dos movimentos sociais: relações político-culturais e debate teórico no processo democrático. Universidade Federal de Santa Catarina, 2007. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/politica/article/download/1255/1200.>. Acesso em: 20 de abril de 2018.
KAH, Henry Kam. Women’s Resistance in Cameroon’s Western Grassfields. African Studies Quarterly | Volume 12, Issue 3, 2011. Disponível em: <http://asq.africa.ufl.edu/files/Kah-V12Is3.pdf>. Acesso em: 20 de abril de 2018.
MONTE, Izadora Xavier do. O debate e os debates: abordagens feministas para as relações internacionais. Rev. Estud. Fem. vol.21 no.1 Florianópolis, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2013000100004>. Acesso em: 20 de abril de 2018.
MUMBERE, Daniel. Cameroon gov’t releases women arrested over Anglophone crisis protest. Africa News, 2018. Disponível em: <http://www.africanews.com/2018/03/10/cameroon-gov-t-releases-women-arrested-over-protesting-anglophone-crisis/>. Acesso em: 20 de abril de 2018.
NGCUKA, Phumzile Mlambo-. O tempo é agora: ativistas rurais e urbanas transformam a vida das mulheres. Brasil, 2018. Disponível em: <http://www.onumulheres.org.br/noticias/o-tempo-e-agora-ativistas-rurais-e-urbanas-transformam-a-vida-das-mulheres-por-phumzile-mlambo-ngcuka/>. Acesso em: 20 de abril de 2018.
ONU Mulheres. ONU Mulheres anuncia tema para o 8 de março: “O tempo é agora: ativistas rurais e urbanas transformam a vida das mulheres”. Brasil, 2018. Disponível em: <http://www.onumulheres.org.br/noticias/onu-mulheres-anuncia-tema-para-o-8-de-marco-o-tempo-e-agora-ativistas-rurais-e-urbanas-transformam-a-vida-das-mulheres/>. Acesso em 20 de abril de 2018.
ROURE, Sarah de. 8 de março de 2018: a urgência do feminismo anticapitalista. Blog da Marcha Mundial das Mulheres, 2018. Disponível em: <http://www.sof.org.br/2018/03/08/8-de-marco-de-2018-a-urgencia-do-feminismo-anticapitalista/>. Acesso em: 20 de abril de 2018.
TAYLOR, Mildred Europa. 40 women released by Cameroon police after dozens were jailed for protesting. Face 2 Face Africa. Disponível em: <https://face2faceafrica.com/article/40-women-released-by-cameroon-police-after-dozens-were-jailed-for-protesting>. Acesso em: 20 de abril de 2018.
TRIPP, Aili Mari. How African feminism changed the world. African Arguments, 2017. Disponível em: <http://africanarguments.org/2017/03/08/how-african-feminism-changed-the-world/>. Acesso em: 20 de abril de 2018.