Ano de 2022 no Sudão do Sul: A iminente crise alimentar e seus impactos no país
01/07/2022
Por Giovana Maria Fernandes Arruda
Resumo: A Análise Conjuntural a seguir tem como objetivo principal discutir a situação recente do Sudão do Sul, que vem ao longo dos anos sendo vítima da maior crise alimentar já vista antes no país. Para mais, serão mencionados os fatores que levaram a nação sul-sudanesa para a realidade em que se encontra hoje e os desdobramentos da crise dentro da própria população, a fim de citar como esta foi afetada por tudo isso.
Palavras-chave: Sudão do Sul, crise alimentar, fome.
O Sudão do Sul, país localizado na África Oriental, conquistou sua independência no dia 9 de Julho do ano de 2011, sendo denominado o país mais novo de todo o globo. Ademais, seu território é formado por diversos grupos etnolinguísticos diferentes e, além disso, a população do país é de grande parte dependente das flutuações sazonais da precipitação e das migrações de indivíduos de fora (CIA, 2022). Desta forma, desde o dia em que garantiu sua independência, o Sudão do Sul luta pela formação de um sistema governamental viável, tendo em mente que esta não tem sido a realidade do país, que tem sido atormentado por um cenário de corrupção generalizada, conflitos políticos e violência comunal (CIA, 2022). No ano de 2020, depois de vários confrontos entre líderes políticos no país, vários destes ainda fazem parte de uma disputa pelo compartilhamento de poder, enquanto a implementação de um acordo de paz ainda se faz ativo (CIA, 2022).
Em síntese, como resultado destes eventos, hodiernamente houve um aumento na violência comunal, citada anteriormente, e houve também uma contribuição para a conjuntura atual do Sudão do Sul, que se encontra na pior crise de segurança alimentar já vista desde que se tornou uma nação independente (CIA, 2022). Dados mostram um número de aproximadamente sete milhões de indivíduos em uma situação de necessidade e assistência humanitária (CIA, 2022). A expressão “crise alimentar” é utilizado para explicar a situação onde um país não consegue amparar as necessidades alimentares de sua população, sendo definida de forma geral pela falta de alimentos, segundo seu significado. Deste modo, será discutida nesta análise a situação de crise alimentar que o Sudão do Sul se encontra, os impactos consequentes que o país está sofrendo e os desdobramentos do cenário na conjuntura do país.
Além de o Sudão do Sul ser o país mais novo do mundo, em termos de independência já mencionada neste texto, o país também possui grande vulnerabilidade acerca dos impactos negativos das alterações climáticas experiências no país, e presentes em todo o mundo nos últimos anos (PEREIRA, 2020). Segundo o Índice de Vulnerabilidade às Alterações Climáticas, em 2017 o país estava em quinto lugar no ranking de vulnerabilidade às mudanças climáticas. Isto demonstra um cenário de perigo iminente para o país, tendo em mente que o país sudanês enfrenta, além dos desafios climáticos já mencionados, obstáculos econômicos, políticos e sociais, dificultando seu processo de adaptação à situação onde o mundo se encontra hoje (PEREIRA, 2020).
Estando localizado em uma região sem litoral e que faz fronteira com países tais como Etiópia, Uganda e Sudão, o Sudão do Sul possui cerca de 85% da sua população dependente da agricultura e da criação de gado como meio de se sustentar, fator que explica a suscetibilidade do país quando o assunto é condições climáticas (PEREIRA, 2020). Tendo clima majoritariamente semi-úmido em seu território – atualmente sendo o clima mais quente e seco predominante -, a estação das chuvas no país se encontra ativa entre março e novembro – estando cada vez mais errática e mais curta -, sendo seguida por um momento de seca, que demonstra maior risco a consequentes sequelas do que inundações causadas por grandes cargas chuvosas, sendo a última responsável por tornar o solo sul-sudanês propenso para o tipo de produção agrícola (PEREIRA, 2020). Contudo, infelizmente existem poucas informações acerca das mudanças dentro do país, o que faz com que os investimentos para os estudos sobre o problema e para a busca de soluções – tanto para as questões climáticas, quanto para as problemáticas políticas e sociais – seja pouco. Desta maneira, por mais que esta seja uma realidade mais que presente no Sudão do Sul, ainda é possível utilizar das informações existentes e comprovadas para fazer projeções sobre como o país chegou nesta situação e sobre como é possível enxergar o futuro desta nação (PEREIRA, 2020).
Se conformando com o cenário em que se encontra, o governo do Sudão do Sul se encontrou fazendo tentativas de políticas que agiriam sobre as alterações climáticas e sobre a inclusão da mitigação e da adaptação de suas políticas nacionais (PEREIRA, 2020). Apesar disto, as comunidades do país ainda se encontram em uma fase de consolidação, a qual vem sendo amplamente afetada pelas eventuais incertezas do país, e medidas e abordagens técnicas mais modernas vêm demonstrando maior capacidade para a possibilidade de evitar um maior agravamento da crise e ajudar na capacidade adaptativa e construção de resiliência climática do país, as quais vêm ganhando destaque central nesta discussão (PEREIRA, 2020).
Segundo reportagens feitas pelas Nações Unidas, analisadas dentro de uma perspectiva global, a Classificação de Fase de Segurança Alimentar Integrada (IPC), apresentou um risco de vinte mil cidadãos sul-sudaneses enfrentarem níveis extremos de fome e necessidades humanitárias urgentes, principalmente em regiões já afetadas anteriormente por fatores naturais da região sendo considerada, tais como secas extremas ou fortes inundações (ONU NEWS, 2020). Alguns exemplos de municípios que requerem uma maior observação são Akobo, Duk e Ayod (ONU NEWS, 2020).
Acerca das perspectivas futuras mencionadas anteriormente, certo otimismo foi considerado para algumas comunidades do território sul-sudanês, tendo tido certa expectativa de progresso em áreas de Jonglei e estados vizinhos tais como Alto Nilo, Warrap e Bar el-Ghazal (ONU NEWS, 2020). Contudo, este não é um cenário esperado para todos que estão propensos a atingir um nível “emergencial” de insegurança alimentar, apesar das melhorias sazonais na produção de alimentos (ONU NEWS, 2020). Além disso, em meio aos principais meios de subsistência do país, a produção agrícola principalmente, um alerta também tem sido feito no aumento dos preços dos alimentos, acontecimento a ser esperado num tipo de evento de crise como este (ONU NEWS, 2020).
Segundo previsões, crianças se encontram num ponto de necessário foco, já que são as primeiras a sofrer os impactos da desnutrição aguda ao longo dos meses, Este fato chama atenção principalmente da UNICEF, Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância, em português, a qual apresentou uma proposta para abordar a desnutrição do país baseada em medidas de prevenção tão intensas quanto as ações de tratamento (ONU NEWS, 2020). Elementos como o impacto no acesso à água, alimentos, saneamento básico, higiene e serviços de saúde devem ser vigiados pela Organização (ONU NEWS, 2020).
Sendo esta a pior crise alimentar que o Sudão do Sul já presenciou, além da preocupação acerca dos desdobramentos das condições climáticas no país, fatores políticos e sociais também precisam ser abordados (RTP*, 2022). Desde o momento em que o país se tornou uma nação independente, crises econômicas e políticas crônicas vem alastrando seu território, causadas em grande parte pelos impactos de uma das guerras civis que envolveram o Sudão do Sul até o momento, a qual deixou aproximadamente cerca de quatrocentos mil indivíduos mortos e quatro milhões de indivíduos deslocados entre os anos anteriores de 2013 e 2018 (RTP*, 2022). As catástrofes sofridas pelas alterações climáticas no país, em conjunto com uma persistente violência política e étnica, fizeram com que grandes quantidades de cidadãos do país se retirassem dele, no risco de ficar e “morrer de fome” (RTP*, 2022). “A escala e a gravidade dessa crise é perturbadora. Vemos que as pessoas esgotaram todas suas opções para fazer face às despesas e agora não têm nada”, diz a diretora adjunta do Programa Alimentar Mundial (PAM), em relação ao Sudão do Sul (RTP*, 2022).
Outrossim, é necessário considerar que a Organização das Nações Unidas (ONU) emitiu um alerta humanitário acerca do risco corrido pelo Sudão do Sul, tanto ambiental quanto conflitante (RTP*, 2022). Segundo a organização, a volta de um cenário violento no país se tornou um fator recorrente após 440 civis terem sido mortos em confrontos ocasionados pela oposição ao governo do vice-presidente e presidente sul-sudanês, entre o período de junho e setembro do ano de 2021 (RTP*, 2022). Como consequência deste e de outros acontecimentos, até mesmo as eleições anuais do país, que aconteceriam no ano de 2022, foram adiadas para o próximo ano. Até mesmo os Estados Unidos, em conjunto com a própria ONU, fizeram um pedido para às autoridades do Sudão do Sul, apresentando a demanda de que estes se preparem para os eventos políticos do próximo ano (RTP*, 2022).
Em suma, a fim de concluir esta análise conjuntural sobre a extrema crise alimentar que vem se alastrando pelo Sudão do Sul ao longo dos últimos anos, se torna claro a luta dos cidadãos sul-sudaneses pela sobrevivência (7MARGENS, 2022). Os elementos que ganham destaque como causadores deste cenário são principalmente os conflitos, choques climáticos, pandemia da Covid-19 e o aumento do custo de vida, o último devido a inflação já mencionada e explicada anteriormente (7MARGENS, 2022). “Particularmente em risco estão dezenas de milhares de sudaneses do sul que já estão gravemente famintos após choques sucessivos e contínuos, os quais podem morrer de fome sem assistência alimentar”, comunica os membros do PAM (7MARGENS, 2022).
4. Referências
CIA. The World Factbook. 24 de junho de 2022. Disponível em: <https://www.cia.gov/the-world-factbook/countries/south-sudan/>. Acesso em: 1 jul. 2022.
Sobre-Meaning.com.Significado da crise alimentar (o que é, conceito e definição). Disponível em: <https://pt.about-meaning.com/11038244-meaning-of-food-crisis>. Acesso em: 1 jul. 2022.
PEREIRA, Margarida Isabel dos Santos. Adaptação às alterações climáticas: Os desafios econômicos, políticos e sociais do Sudão do Sul. Novembro de 2020.
ONU News. Perspectiva Global Reportagens Humanas. Falta de alimentos pode afetar metade dos sul-sudaneses nos próximos meses. 20 de fevereiro de 2020. Disponível em: <https://news.un.org/pt/story/2020/02/1704711>. Acesso em: 1 jul. 2022.
RTP*, Lisboa. Sudão do Sul: mais de 70% da população deve enfrentar fome extrema. 11 de março de 2022. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2022-03/sudao-do-sul-mais-de-70-da-populacao-deve-enfrentar-fome-extrema>. Acesso em: 1 jul. 2022.
7MARGENS. A maior crise de fome de sempre no Sudão do Sul – Sete Margens. 12 de março de 2022. Disponível em: <https://setemargens.com/a-maior-crise-de-fome-de-sempre-no-sudao-do-sul/>. Acesso em: 1 jul. 2022.