Texto Conjuntural África Austral #29

Relações da China na África do Sul: benefícios e impactos

Carolina Iglezias Tobias

Introdução

As relações entre a China e a África do Sul têm raízes seculares e se estabeleceram, sobretudo, como comerciais. Contudo, nas últimas décadas, o Partido Comunista passou a aumentar essa projeção, intensificando suas relações por meio de investimentos, busca por recursos naturais, apoio político, parcerias estratégicas e acordos comerciais para fortalecer os laços bilaterais entre os dois países. 

Assim, o país asiático pode estar utilizando seus investimentos e o recursos da África do Sul para expandir seu poder no cenário global em um contexto de perda de influência do ocidente sobre o continente africano. Todavia, ambas as nações podem ter um compromisso compartilhado de promover seus interesses em desenvolvimento.

A partir desse contexto, esta pesquisa tem o intuito de estabelecer se as interações entre os Estados são multilaterais, aspirando o investimento no sul global e com o foco central na cooperação internacional e em parcerias políticas, ou se são em vista dos interesses estratégicos da China para expandir sua influência global e se fortalecer ainda mais no cenário internacional, além de garantir seu acesso a recursos naturais, essenciais para sustentar a expansão econômica chinesa.

Desenvolvimento

As relações sino-sul-africanas abrangem interações estratégicas, entre elas, econômicas, diplomáticas e geopolíticas. A parceria entre ambos é multifacetada, englobando diversas áreas, como comércio, importação e exportação de mercadorias e bens; investimentos substanciais; cooperação, assistência financeira e técnica para iniciativas de infraestrutura e crescimento econômico; diplomacia, em que muitas vezes compartilham posições políticas ou em fóruns internacionais; cultural e educacional, promoção de intercâmbio e compreensão mútua entre os povos e as instituições de ambos os países. Assim, as interações entre a China e a África do Sul refletem interesses econômicos, sociais e políticos comuns, ao mesmo tempo em que respeitam a unicidade de cada nação (Xi […], 2023).

Ademais, os dois países compartilham do sentimento recíproco do anti-imperialismo, em que ambos têm uma história de resistência à influência e à dominação estrangeira, principalmente em relação ao ocidente. Dessa maneira, as parcerias sino-sul-africana são contrárias às práticas históricas de exploração, uma vez que são equitativas e baseadas no respeito mútuo. São uma forma de afirmação da autonomia dos Estados, além da superação das influências externas (Junior, 2022).

Um exemplo atual dessa associação seria a FOCAC, fundada em 2000, que consiste em uma plataforma de comunicação e coordenação, na qual a China oferece grandes investimentos e benefícios à África e, em troca, explora petróleo e matérias-primas. Essa parceria consiste em um mecanismo para consolidar a política chinesa no continente africano, além de fortalecer sua relação bilateral de cooperação win-win (Lopes; Nascimento; Vadell, 2013).

As mesmas fontes que alegam notável “camaradagem” entre os dois países afirmam que as notícias que acusam a China de “colonizar” nações africanas, incluindo a África do Sul, são falsas e distorcidas pela mídia ocidental (Lavra Palavra, 2019). Essa visão é fundamentada, uma vez que o colonialismo de fato se extinguiu na metade do século XX.

Contudo, a China tem visto esse sentimento anticolonial como uma oportunidade para expandir sua presença no país, visto que o Ocidente, Estados Unidos e as antigas potências coloniais, estão perdendo sua influência na região. A cúpula EUA-África, por exemplo, não contou com a presença do líder da África do Sul por diversas razões para cancelar sua participação (Ocidente […], 2022).

Com o tempo, o Partido Comunista se desenvolveu como um dos líderes da hegemonia mundial e passou a utilizar os investimentos, anteriormente visando garantir sua segurança energética, alimentar e industrial, para além do âmbito comercial unilateral. De acordo com a revista O Tempo, a partir de 2005, o capital chinês direcionado para o continente cresceu significativamente, de milhões para bilhões. Nesse contexto, a África do Sul é o principal parceiro comercial da China em todo o continente há 13 anos consecutivos.

No entanto, a entrada de investimentos da China na África foi motivada, a princípio, pela busca de recursos naturais e energéticos. Assim, a África do Sul foi essencial, visto sua capacidade econômica e política como potência regional. O país é rico em diversos recursos naturais que são buscados pela China, como ouro e platina, minério de ferro para a produção de aço, carvão como fonte essencial de energia e matéria-prima, e além desses, cobre, manganês e cromo, importantes para as indústrias e para o desenvolvimento econômico chinês (Alves, 2010).

O instituto Afrobarometer (2016) realizou uma pesquisa de opinião com 54 mil pessoas em 36 países africanos e “apesar de críticas consideráveis na mídia em relação aos interesses e operações chineses na África, os africanos veem a emergência da China como algo que agrega ao campo do jogo econômico”. No entanto, o instituto apontou vários aspectos negativos da atuação, como a falta de transparência, a disposição para lidar com regimes autoritários e o uso de mão de obra e tecnologia estrangeira sem transferência de capacidade produtiva para os locais. Os mais citados são a baixa qualidade de mercadorias chinesas (35%) e a ideia de que eles roubam empregos dos locais (14%)”, visto que, na última década, mais de 1 milhão de chineses de mudaram para o continente (África […], 2016).

De acordo com o artigo “Os Interesses Econômicos da China na África” (2010), todos os esforços mencionados são em vista dos chineses garantirem sua segurança energética e seu suprimento de matérias-primas. A estratégia visa um projeto de desenvolvimento, oferecendo financiamentos por meio de contratos comerciais ou investimentos diretos na exploração e produção, além de assistência técnica como benefícios de longo prazo, realizados em países nos quais o Ocidente não tem tanto interesse.

Como resultado do aprofundamento das relações econômicas entre a China e a África, não se nota qualquer mudança qualitativa no padrão de inserção do continente africano na economia global, com a continuidade de sua enorme dependência de exportações de alguns poucos produtos primários, cujos voláteis preços estão totalmente alheios ao seu controle. Assim como os interesses econômicos da China na África não diferem fundamentalmente daqueles dos países ocidentais, os padrões comerciais também são muito similares, com petróleo e bens industrializados dominando as pautas de exportação e importação africanas, respectivamente (Alves, 2010, p. 30).

Entretanto, é importante mencionar que a África do Sul também se beneficia dessa interação. Primeiramente, por ser uma grande parceira comercial de uma das maiores potências mundiais, além de contar com os investimentos chineses e a assistência financeira e técnica provida para iniciativas de infraestrutura.  Dessa forma, a África do Sul tem seus próprios interesses ao manter relações bilaterais estreitas com a China, assim como a segunda. Sendo assim, os países obtêm simultaneamente diversas vantagens que são benéficas para o crescimento político-econômico e para o desenvolvimento de ambos.

Considerações finais 

A China tem se projetado na África do Sul em busca da garantia da sua segurança energética e alimentar, além de apoio político. Assim, os investimentos chineses no país são antigos e diversificados, envolvendo políticas de cooperação internacional e ganhos comerciais.

O Estado chinês realmente utiliza das trocas econômicas com a África do Sul para benefício próprio, além de continuar com sua estratégia de desenvolvimento através da utilização dos recursos naturais do país e de seu apoio político para se fortalecer no cenário global. No entanto, ambos os países apresentam relações de cooperação e, da mesma forma que a China se beneficia das relações com o as relações com o continente africano, a África do Sul usufrui dos benefícios usufrui dos benefícios  dos investimentos e da cooperação.

Portanto, a China apresenta interesses na região para ganho próprio, porém ambos os países dispõem de parcerias estratégicas além  do âmbito comercial, como nas áreas da política, da diplomacia e social. Dessa forma, a relação sino-sul-africana abrange laços bilaterais, cooperação diplomática e internacional, acordos comerciais, apoio político, investimentos substanciais, assistência financeira e técnica e intercâmbio cultural e educacional. 

Contudo, a China é capaz de se comprometer mais com os países africanos e não focar somente no desenvolvimento da África do Sul, visto que é uma das potências mais hegemônicas do mundo e o continente africano é o com as menores rendas do globo, com muitos países subdesenvolvidos e com a economia dependente do setor primário.

REFERÊNCIAS

Ocidente está perdendo influência  na África, ao contrário da Rússia e da China, escreve mídia. Sputnik. Disponível em: https://sputniknewsbr.com.br/amp/20221228/ocidente-esta-perdendo-influencia-na-africa-ao-contrario-de-russia-e-china-escreve-midia-26671999.html Acesso em: 11 nov. 2023.

Investimentos da China no Brasil, na África do Sul e na Índia. Revista O Tempo. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/revistas/index.php/rtm/article/view/240/208 Acesso em: 11 nov. 2023.

África olha cada vez mais para a China como modelo. Exame. Disponível em: https://exame.com/economia/africa-olha-cada-vez-mais-para-a-china-como-modelo/ Acesso em: 13 nov. 2023.

Instituto Afrobarometer. Heres what africans think about China’s influence on their country. Disponível em: https://www.afrobarometer.org/blogs/heres-what-africans-think-about-chinas-influence-their-countries Acesso em: 13 nov. 2023.

ALVES, André Gustavo Miranda Pineli. Artigo Interesses da China na África. Disponível em: https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/4751/1/BEPI_n1_interesses.pdf Acesso em: 13 nov. 2023.

LOPES; NASCIMENTO; VADELL.  Artigo FOCAC: estratégia econômica e política de cooperação Sul-Sul Sino-Africana. Disponível em: https://cartainternacional.abri.org.br/Carta/article/view/110/68 Acesso em: 28 nov. 2023.

Cinco Mitos Imperialistas sobre o papel da China na África. Lavra Palavra.  Disponível em: https://lavrapalavra.com/2019/09/02/cinco-mitos-imperialistas-sobre-o-papel-da-china-na-africa/ Acesso em: 28 nov. 2023.

JUNIOR. A Geopolítica Chinesa para a África. Disponível em:https://repositorio.esg.br/bitstream/123456789/1641/1/CAEPE.85%20TCC%20VC.pdf Acesso em: 03 de dez. 2023

WIN WIN. Disponível em: https://vr2p.pt/2019/11/26/winwin/ Acesso em: 03 de dez. 2023.

Xi diz que relações entre China e África do Sul ultrapassam âmbito bilateral. XINHUA Português, Pequim, 23 ago. 2023. Disponível em: https://portuguese.news.cn/20230823/150d6ebcd8784514879c8fa001129f24/c.html . Acesso em: 10 dez. 2023.

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