Bassirou Diomaye Faye: Eleição no Senegal oferece esperança para jovens africanos frustrados
02/04/2024
Por Maria Luiza de Carvalho Allo
A reviravolta surpreendente no cenário político do Senegal levou Bassirou Diomaye Faye a assumir o posto de quinto presidente do país. Há poucas semanas Faye era um líder da oposição pouco conhecido e preso sem julgamento por acusações que incluíam incitação à insurreição, além de nunca ter ocupado um cargo eletivo. Faye, há uma semana, derrotou o candidato do partido do governo, Amadou Ba, com 54% dos votos. Eleito aos 44 anos, tornou-se o mais jovem chefe de Estado eleito na África, representando, assim, esperança para a população jovem frustrada pela falta de oportunidades econômicas no país, sendo a maior parte do contingente demográfico constituído por pessoas abaixo dos 30 anos.
A trajetória e ascensão de Faye representa uma alternativa para a política da velha elite agarrada ao poder. Além de demonstrar a importância das eleições em Estados ditos falidos, representando esperança para o restante da África Ocidental, haja vista o cenário político conturbado e recorrência de golpes militares na região. O Senegal tendo caminhado na direção oposta representa inspiração para os demais líderes em todo o continente. Segundo Kizza Besigye, antigo líder da oposição do Uganda, que recentemente trabalhou com o seu sucessor mais jovem, Bobi Wine, na realização de campanhas pela democracia no seu país, “o processo eleitoral extraordinário do Senegal demonstrou, mais uma vez, que com um país bem mobilizado, resiliente e bem liderado pela população, é possível alcançar de forma não violenta a desejada transição democrática na África”.
A trajetória do Sr. Faye torna-se ainda mais inspiradora ao analisar as dificuldades enfrentadas por ele, posteriormente às eleições, onde o governo do presidente Macky Sall realizou diversos atos antidemocráticos na tentativa de manter-se no poder, mesmo diante do descontentamento popular. O ocorrido abrange a perseguição e censura dos líderes opositores e críticos ao governo, tal como uma última tentativa de adiar as eleições diante do desespero da derrota iminente, de modo que era pressentido um destino semelhante aos de seus vizinhos. As ações antidemocráticas incluíram a detenção do líder popular do partido Patriotas Africanos do Senegal pelo Trabalho, Ética e Fraternidade (Pastef), Ousmane Sonko, e do Sr. Faye, que era secretário-geral de Pastef. Houve também intimidação generalizada dos apoiadores do Pastef.
Diante de tal cenário, foi necessária coragem e muito trabalho por parte dos líderes da oposição, dos grupos da sociedade civil, dos jornalistas e daqueles que trabalham em algumas das instituições democráticas do país para garantir um fim a esta situação sombria em uma eleição na qual o Sr. Faye estava em condições de vencer. A decisão de enfrentar o presidente e de definir que a tentativa de alteração aa data das eleições era ilegal, partiu dos membros do Conselho Constitucional, o tribunal superior do Senegal, de modo a garantirem a concretização das eleições conforme o previsto. A liderança do Pastef também desempenhou um papel importante, ao manter-se firme diante de grande intimidação. Apesar de ter reputação de uma postura mais incisiva, Sonko também demonstrou-se flexível e pôs de lado sua ambição presidencial ao ver que suas chances eram nulas e Faye dispunha de grande potencial, sendo a sua candidatura a melhor opção, mesmo com Sonko sendo a imagem do partido.
A ascensão improvável de Faye ao poder depende agora das providências a serem tomadas pelos líderes do Pastef. Assim, é necessário lembrar que quando o presidente Sall chegou ao poder em 2012, sua vitória também foi vista como um avanço em conjunto com a democracia. Contudo, caso se desalinhe dos princípios e promessas realizadas, o líder político será lembrado como mais um líder corrompido pelo poder. Com o intuito de manter-se democrático e caminhar contrário a essa direção, Faye e Sonko precisam reconstruir e reunificar o país. A forma mais eficaz de governarem com o apoio popular e impulsionarem a democracia é governar para todos, mantendo os direitos e liberdade da população civil, além de garantir o desenvolvimento e estabilidade econômica.
FONTE: https://www.bbc.com/news/world-africa-68684535
O turismo sexual que assombra Gâmbia
05/04/2024
Por Luiz Eduardo Leite Carmo
Em Gâmbia, diversos locais vêm afirmando a presença de turistas, majoritariamente europeus, que deixam suas hospedagens sozinhos e retornam com nativos a seus quartos. Tal fenômeno geralmente classifica-se como turismo sexual, movimento que manifesta cada vez mais sua presença no país. Além de pagarem gambianos para atos sexuais, tais turistas também pagam o silêncio dos hoteleiros, e pelo dinheiro e necessidade deles, os próprios habitantes quase nunca chamam a polícia.
Turistas geralmente vêm à Gâmbia devido às suas praias e clima. Entretanto, o turismo sexual se expressa excessivamente, e os gambianos têm se demonstrado cansados destes que vêm à Gâmbia por motivos sexuais, desejando turistas que realmente se interessem pela cultura e pelas belezas que o país tem a oferecer.
Dessa forma, políticos vêm apresentando alguns planos para que o país atraia os esperados “turistas de qualidade”, como a construção de pousadas ecológicas e penas mais severas àqueles que vêm ao país explorar sexualmente seus moradores. Porém, essas iniciativas não vêm causando grande efeito e contribuindo para grandes mudanças. Turistas europeus permanecem se aproveitando da desigualdade econômica e ganhando gambianos por suas condições vulneráveis, com seu dinheiro.
É importante ressaltar que para a Gâmbia, um dos menores e mais densamente povoados países africanos, o turismo corresponde a 15,5% do PIB do país, segundo o Banco Mundial. Além disso, mais da metade da população do país se encontra abaixo da linha da pobreza, necessitando de meios alternativos para sobrevivência. Assim sendo, segundo o artista local Ali Cham, há locais em que o sexo pago foi já convertido em norma e, tanto os turistas como os locais envolvidos, não hesitam nem em esconder esse fato. Afirma também que a pedofilia está cada vez mais comum, com os “bumsters” (homens que movimentam o turismo sexual) influenciando menores de idade a seguirem o caminho da prostituição e estes, vulneráveis, acabarem em tais condições devido a desigualdade e pobreza sencientes.
Dessa maneira, jovens reclamam sobre a falta de trabalho e oportunidades em Gâmbia e dizem terem tido relações sexuais com europeias e europeus devido à falta de dinheiro, além do desejo de acúmulo de dinheiro para sairem do país. Afirmam também que o governo não se esforça em diversificar o turismo gambiano, que está baseado no sol, no mar e no sexo; não se atentando ao potencial que a verdadeira cultura gambiana, suas aldeias, histórias, cultura, riquezas naturais e culinária possuem, que não são apreciadas, incentivadas ou perpetuadas no próprio país.
Libéria recebe 89 mil doses de vacina contra a malária
04/05/2024
Por Luize Pavani Cunha Gava
A Libéria recebeu cerca de 89.000 dos 112.000 frascos da vacina contra a malária, parte de um esforço liderado pela Organização Mundial da Saúde para introduzir programas de imunização de rotina na África. Os frascos restantes da primeira vacina contra a malária aprovada esperam ser introduzidos a partir de julho de 2024, conforme divulgado pela Ministra da Saúde, Dr. Louise Mapleh Kpoto. Esta alocação faz parte do Programa de Implementação da Vacina contra a Malária da OMS, beneficiando 12 países africanos, incluindo a Libéria.
A iniciativa visa abordar a alta incidência de doenças e mortes relacionadas à malária, especialmente entre crianças na África. Estudos mostraram que crianças menores de cinco anos na Libéria têm uma taxa de prevalência de malária de 10%, que mata uma criança africana menor de 5 anos por minuto. O diretor do programa expandido de imunização do ministério da saúde da Liberia, Adolphus Clarke, afirma que estão comprometidos em garantir que todas as crianças liberianas tenham acesso a essa vacina e estejam protegidas dessa fatalidade.
A vacinação é considerada um marco significativo na luta contra essa doença evitável que continua a ser uma das mais mortais na África, continente responsável por uma grande parte dos casos e mortes em todo o mundo. A implementação da vacina contra a malária é coordenada pelo Ministério da Saúde da Libéria em colaboração com organizações como a GAVI, a Aliança de Vacinas, a OMS e a UNICEF.
Espera-se que a distribuição limitada dessas vacinas seja administrada de forma a priorizar as áreas de maior necessidade do continente, onde a incidência e morte das crianças seja maior. A malária continua sendo uma das doenças mais mortais na África, com a iniciativa destacando os esforços contínuos para combater essa ameaça à saúde pública. O programa de vacinação contra a malária utilizará 149 instalações de saúde e está programado para começar em 25 de abril de 2024, em alinhamento com o Dia Mundial de Conscientização sobre a Malária.
FONTE: http://www.liberianobserver.com/liberia-receives-89k-doses-malaria-vaccines
Serra Leoa declara emergência nacional após aumento acentuado no uso da mortal droga sintética kush
06/04/2024
Por Ana Clara do Nascimento
Fonte: CNN (2024)
O presidente da Serra Leoa, Julius Maada Bio, declarou emergência nacional devido ao abuso de substâncias, na sequência de apelos ao seu governo para reprimir o uso crescente de uma droga sintética barata e, por vezes mortal, conhecida como kush. A mistura altamente viciante de maconha, fentanil e tramadol causou centenas de mortes e causou danos psiquiátricos a dezenas de usuários desde que apareceu pela primeira vez em Serra Leoa, há cerca de quatro anos, segundo o governo.
O atual presidente comentou que a iniciativa de um grupo de trabalho nacional sobre o abuso de substâncias – envolvendo todos os setores da sociedade e supervisionado por uma equipa consultiva presidencial – seria criado para implementar uma estratégia de cinco passos para o que chamou de um futuro sem drogas. O baixo preço do Kush torna-o acessível a jovens desiludidos e desempregados na Serra Leoa, onde cerca de um quarto da população vive na pobreza. A droga também é encontrada na Libéria, nação vizinha da África Ocidental. As comunidades locais apelaram ao governo para que combata o flagelo e as ajude a lidar com os consumidores de drogas.
Fonte: https://edition.cnn.com/2024/04/06/africa/sierra-leone-emergency-kush-intl/index.html
PAIGC denuncia “intromissão sistemática” de militares
09/04/2024
Por Marina Vieira Cardoso
O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) emitiu um comunicado denunciando a “intromissão sistemática” de algumas lideranças das Forças Armadas na vida política e criticou a postura dos militares de defesa do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló. O PAIGC expressou preocupação com essa interferência nas decisões políticas nos últimos dez anos, inclusive em desacordo com a Constituição e outras leis.
Foto: Moussa Balde/epa/picture alliance
Ademais, o grupo condenou a instrumentalização das Forças Armadas, destacando a falta de evidências em casos de supostas tentativas de golpe de Estado. O partido lembrou que foi responsável pela criação das Forças Armadas Revolucionárias do Povo (FARP) há 60 anos, mas teve que se desvincular delas com a abertura do país ao multipartidarismo. O PAIGC considera inaceitável a postura das lideranças das Forças Armadas em defender exclusivamente a suposta legitimidade de Umaro Sissoco Embaló, ignorando os representantes eleitos pelo povo no parlamento e no governo. Dessa maneira, exigiu o distanciamento das Forças Armadas da presidência e instou-as a respeitarem seu papel de guardiãs das instituições da soberania.
Visto à isso, o PAIGC expressou preocupação com as declarações recentes do vice-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, o general Mamadu “Nkrumah” Turé, que denunciou alegadas tentativas de golpe de Estado, e declarou os nomes de alguns elementos militares e políticos como supostos conspiradores. Um dos militares citados, o general Bauté Yamnta Na Man, negou qualquer envolvimento em um golpe de Estado e ameaçou entrar com uma queixa-crime contra o autor das acusações.
FONTE: LUSA. PAIGC denuncia “intromissão sistemática” de militares. DW, 08 de Abril de 2024. Disponível em: <https://www.dw.com/pt-002/paigc-denuncia-intromiss%C3%A3o-sistem%C3%A1tica-de-militares-na-vida-pol%C3%ADtica-guineense/a-68772182>. Acesso em: 09, Abril e 2024.
