Colômbia e FARC selam acordo em intervenção da ONU pela paz
Daniel Gama
Surgimento da principal guerrilha colombiana
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército Popular (FARC-EP) são uma organização guerrilheira de inspiração socialista que surgiu em 1964 e é composta majoritariamente por grupos rurais – trabalhadores de terra e pequenos agricultores. O seu principal objetivo é o combate à desigualdade no país. Diante disso, no final da década de 1940, quando o mundo começou a vivenciar a Guerra Fria e uma forte polarização de conservadores contra liberais, o governo colombiano, com receio de enfraquecer as relações com o Estados Unidos, ordenou uma repressão sobre os guerrilheiros que criticavam as políticas internas de desenvolvimento nacional e o descaso com a pobreza. (BBC, 2016).
Essa repressão do governo colombiano ficou conhecida como “La Violencia”. O conflito entre os guerrilheiros e o governo instaurou uma desordem no país, ocasionando mortes de muitos inocentes, pois, assim como o governo utilizou da força para conter a revolta dos guerrilheiros, os mesmos se armaram e formaram acampamentos para se proteger e responder à mesma altura. (CEARÁ, 2009).
Após esse período, as FARC-EP se consolidaram como um movimento de guerrilha de viés marxista-leninista e seguiram contestando o governo sobre a desigualdade, em que grandes partes de terra pertenciam a uma pequena parte dos indivíduos, a elite. Dessa maneira, os guerrilheiros reivindicavam, muitas vezes de forma agressiva com a utilização de armas de fogo, pelos direitos de todos os indivíduos à terra – o que gerou uma tensão constante para o país. O governo colombiano os nomeou de “repúblicas independentes”, por causa da sua junção em grupos e formação de acampamentos com o objetivo de resistir à ordem política. (BBC,2016).
Mudança no panorama colombiano
Após décadas de tensão no território colombiano e inúmeras tentativas de acordos de paz entre o governo e os guerrilheiros, a Organização das Nações Unidas (ONU) interviu nessa situação para facilitar a cooperação de ambos. Desde 2012 estavam negociando e planejando um acordo de paz para cessar o conflito e dar uma maior segurança aos indivíduos e uma reinserção dos guerrilheiros na sociedade. Com isso, o atual presidente colombiano, Juan Manuel Santos juntamente com o líder das FARC, Rodrigo Londoño, mais conhecido como Timochenko, assinaram em junho deste ano um acordo de paz ratificando o desarmamento total das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. (MARCOS, 2017).
Depois de 5 anos de negociação e planejamento do acordo de paz, esse passo representa uma nova página da história colombiana, pois agora acredita-se que o país terá mais estabilidade internamente – isto é, espera-se que civis inocentes não sejam mais afetados pelo conflito. Uma das premissas do acordo é que as vítimas sejam indenizadas através de um inventário de bens e ativos que a FARC apresentará durante esse processo de desarmamento e desocupação dos acampamentos criados pelos guerrilheiros. Além disso, foi cedido às FARC 10 cadeiras no Congresso até 2025 de modo que assim haja mais representatividade nas políticas nacionais. (BBC, 2016a).
De acordo com a ONU, já foram apreendidos mais de 7000 armamentos, e espera-se que nos próximos meses outras áreas sejam desocupadas pelos guerrilheiros pacificamente. A Colômbia viveu durante cinco décadas o que foi o seu maior conflito interno, e o mais longo da América Latina, deixando mais de 200 mil mortos e 60 mil pessoas desaparecidas. Assim, o acordo de paz consagrou uma pacificação do país, culminando na premiação de Juan Manuel dos Santos com o Nobel da Paz de 2016. (COSOY, 2016).
REFERÊNCIAS
BBC. Who are the FARC? Latin America & Caribbean, 24 nov. 2016. Disponível em: <http://www.bbc.com/news/world-latin-america-36605769>. Acesso em: 11 jul. 2017.
BBC(a). O que mudou no novo acordo da Colômbia com as Farc – e por que desta vez não haverá referendo. América Latina, 23 nov. 2016. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/internacional-38077547>. Acesso em: 11 jul. 2016.
CEARÁ, Diego Barbosa. FARC-EP: o mais longo processo de luta revolucionária da América Latina. 2009. 22 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de História, FHDSS-UNESP, Franca, 2009.
COSOY, Natalio. Por que o acordo de paz entre Colômbia e Farc é histórico. BBC. Bogotá, 22 jun. 2016. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/internacional-36601490>. Acesso em: 28 jun. 2017.
MARCOS, Ana. As FARC entregam todas as armas à ONU. El País. Bogotá, 26 jun. 2017. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/06/27/internacional/1498515506_773703.html>. Acesso em: 28 jun. 2017.