Texto Conjuntural: Golfo da Guiné #09 – Benin: Cooperação Sul-Sul na edificação da ferrovia que liga Benim à Nigéria

Camila Venturim Ribeiro dos Santos

Na mudança do século XX para o século XXI a política externa dos atores do sistema internacional apresentou modificações, posto que, os países “emergentes” programam um meio para que juntos possam enfrentar problemas comuns e promover um desenvolvimento sustentável (ASSIS, 2017). A cooperação Sul- Sul é uma metodologia exposta na eclosão da globalização, do multilateralismo e da institucionalização que se manifesta contra- hegêmona pela projeção de novos polos econômicos como Índia, China e Brasil, a qual busca o desenvolvimento na lógica capitalista por meio do desempenho econômico, da intensificação do discurso político e da racionalidade internacional (PACHECO, 2010, p. 22- 34).

Ou seja, essa cooperação é realizada em contexto regional, visto que ocorre entre os Estados que se encontram no Sul Global, determinada pelo encadeamento das interações econômicas, comerciais, sociais, políticas, tecnológicas, entre outras, que anseiam estabelecer vantagens para todos aqueles que interagem (BUSS; FERREIRA, 2010). De acordo com, a texto “Coalizões Sul-Sul e Multilateralismo: Índia, Brasil e África do Sul: perspectivas e alianças” (2006), dos autores Amancio Jorge Nunes de Oliveira, Janina Onuki e Emmanuel Oliveira essa relação ocorre, porque “os países do hemisfério sul têm um interesse comum e/ou agenda internacional que sedimenta a idéia de Política Internacional e compatibilidades nas observações sobre as limitações e perspectivas de coordenação” (OLIVEIRA; ONUKI; OLIVEIRA, 2006, p. 490).

Dessa forma, a interação entre os países do Sul Global ocorre devido às circunstâncias e arranjos amplos da política externa que é assinalada por representar os constrangimentos sistêmicos, baseada nos impactos de reconfiguração e reequilíbrio de poder que se articula pelas combinações comerciais e técnicas (RODRIGUES, 2010). Pois, manifesta-se com uma iniciativa de acrescentar no auxílio ao desenvolvimento de forma imperativa e crítica sobre as relações de poder na decisão das áreas como política, econômica, comercial, social e ambiental no sistema internacional (Santos; Cerqueira, 2015).

Instituído nesse contexto é viável observar o fenômeno da estrutura da produção global a partir das perspectivas das corporações transnacionais, investimentos externos, empresas multinacionais, transnacionais e corporações globais. A fim de compreender os interesses mútuos e as conjunturas similares sobre o desenvolvimento proveniente da cooperação entre economias emergentes, apresenta-se como foco desta análise conjuntural analisar a presença de investimento direto chinês na infraestrutura para construção de uma ferrovia entre Benin e Nigéria.

É de suma importância entender o quadro das interações políticas e econômicas entre a China e África, em que o governo chinês apresenta dentre seus anseios os âmbitos de segurança, abertura econômica tanto para novas mercadorias quanto para inserção de possibilidades de investimentos, com o intuito de incorporar uma identidade conciliatória para estimular as convicções pacíficas (LOPES; NASCIMENTO; VADELL, 2013).  Enquanto os governos africanos evidenciam suas pretensões na motivação de impulsionar os setores energéticos e de matérias- primas (XAVIER, 2011).

Com ênfase nos interesses políticos de Benin e Nigéria em viabilizar a vinculação com o governo chinês. Percebe-se que Benim estabelece uma relação de cooperação bilateral na pretensão de promover relações comerciais, econômicas, tecnológicas, culturais, educacionais, militares e de saúde (BENIN, 2018). Já a Nigéria constitui uma cooperação conjunta especificamente nas áreas científicas tecnológica e nos âmbitos educacionais, culturais e militares (NIGÉRIA, 2018).

Uma vez que, a interação entre Benin e Nigéria é pautada pela preservação cultural, por isso estabelecem conjuntamente instituições nos campos educacionais, econômicos, culturais e de saúde (OSAGIE, 1999). Para além essa cooperação traçada pelo alto nível de entendimento e envolvimento de manter o relacionamento histórico comercial, primordialmente estabelecido entre agricultura e pesca que atualmente expandiram-se para áreas como energéticas, comunicações e turismos (ISYAKU, 2017). Ambos os países demonstram como objetivo comum determinar um impacto mercantil na economia a África Ocidental, a partir de iniciativas desenvolvimentistas a fim de sustentar, incentivar e fomentar os consumidores baseado na agricultura, manufatura e no estímulo de pequenas, médias e micro empresas (EKEKE, 2017).

Para mais, a relação entre esses Estados também apresenta como parâmetro a solução de problemas fronteiriços, contrabandos, instabilidade política, recessão econômica e atuação militar (OMEDE, 2006). Visto que a falta de integração ocasionada pela precariedade estrutural, como as irregularidades das rodovias que ligam Benin a Nigéria, a vulnerabilidade das transações mercantis devido à falta de segurança e a ação do comércio irregular afetam as exportações e o desenvolvimento da economia no âmbito regional (GOVERNMENT of NIGERIA, 2005).

Nesse caso as elaborações das ações diplomáticas, administrativas e sociais almejam acentuar as estratégias de desenvolvimento em um compasso mais rápido e ágil, fomentar a liberdade da cooperação e aproveitar-se das vantagens proporcionadas pelo Fórum sobre a Cooperação China- África (FOCAC) (CÚPULA, 2018). Esse Fórum é um programa estabelecido pelos países africanos e a China para designar diálogos e esclarecer informações, com intuito de estabelecer cooperação entre esses países e se compreende como Cooperação Sul- Sul. Com a finalidade de assegurar e estimular a cooperação comercial e econômica por meio dos ganhos mútuos e desenvolvimento comum (FOCAC, 2004). Essas ações buscam atuar nos investimentos especulativos, mas também se representa na função e no controle das decisões nos negócios entre os países por intermédio do investimento direto externo.

A propósito de analisar a relação estrutural e conjuntural da construção da ferrovia que liga Benin e Nigéria é preciso ter o conhecimento de que a obra ocorre desde 2008, mas como o projeto está paralisado e não houve grande motivação da Petrolin e Bellore para retomar as atividades o então governante Patrice Talon, solicitou que essas empresas afastem do empreendimento para que investidores chineses possam auxiliar na execução da construção (BENIN, 2018). Visto que o acordo feito entre os governantes de Benin, Nigéria e das empresas envolvidas exprime as preocupações e desafios presente na elaboração da edificação do projeto de infraestrutura na África Ocidental, pois os interesses são divergentes (REUTERS STAFF, 2016).

Esse projeto visa alcançar novas oportunidades em diversos empreendimentos de infraestrutura, como escola, portos, universidades e centros de saúde, mas devido a essa vulnerabilidade no contrato e os possíveis desinteresses dessas firmas, os governos africanos interpretam a intervenção do capital chinês na edificação da ferrovia, como um mecanismo para solucionar a adversidade da perda de competitividade dos produtos, melhorar o ambiente de negociação e ampliar a pauta de exportação. E a China auxilia na construção da ferrovia, pois a região desses Estados é um ponto geopolítico hábil devido aos recursos minerais encontrados naquele ambiente e os governos sozinhos não conseguem fomentar estruturas que corroborem o crescimento econômico e social (JACOBS, 2017).

Dado o exposto, a cooperação Sul- Sul é exemplificada na relação entre os Estados Benim, Nigéria e China para a construção de uma ferrovia, de maneira que o fluxo de capital juntamente com o “know- how” chinês irá apoiar esse empreendimento que visa tornar possível uma infraestrutura melhor para a saída e entrada de mercadorias. A interdependência nesse contexto pode ser compreendida como dependência mútua, porque há efeitos recíprocos das transações dependentes, dos constrangimentos, das assimetrias e dos custos associados a elas. Os Estados africanos apresentam os resultados dessa relação no Produto Interno Bruto (PIB) e no Balanço de Pagamentos (BP), visto que demonstra claramente seus efeitos na renda e na balança comercial. Já o governo chinês quer participar desse projeto com o pensamento de estabelecer novos financiamentos para projetos de infraestrutura, ampliar os mercados e reforçar a relação com os Estados Africanos em prover o desenvolvimento mútuo, apresentado em seus discursos como potência média em reforçar a sua atuação de poder no Sistema Internacional.

 

Referência

ASSIS, Caroline Chagas de. A COOPERAÇÃO EDUCACIONAL ENTRE BRASIL E ÁFRICA: papel estratégico nos marcos da cooperação sul-sul. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2017. Disponível em: <http://www.encontro2017.abri.org.br/resources/anais/8/1499221143_ARQUIVO_ASSIS,CarolineC.AcooperacaoeducacionalentreBrasileAfrica.pdf&gt;. Acesso em: 29 de Abril de 2018.

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BUSS, Paulo Marchiori; FERREIRA, José Roberto. Diplomacia da saúde e cooperação Sul-Sul: as experiências da Unasul saúde e do Plano Estratégico de Cooperação em Saúde da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Cabo Verde, 2010. v.4, n.1. Disponível em: <http://://hdl.handle.net/10961/409&gt;. Acesso em: 12 de Maio de 2018.

CÚPULA de Beijing vai fortalecer as relações Nigéria-China. ENCA, África do Sul, 16 de março de 2018. Disponível em: <https://www.enca.com/africa/beijing-summit-will-strengthen-nigeria-china-relations-says-envoy&gt;. Acesso em: 01 de Maio de 2018.

LOPES, Bárbara Ferreira; NASCIMENTO, Daniele Cardoso do; VADELL, Javier Alberto. FOCAC: estratégia econômica e política de cooperação Sul-Sul Sino-Africana. 2013. Disponível em: <https://cartainternacional.abri.org.br/Carta/article/view/110/68&gt;. Acesso em: 29 de Abril de 2018.

MILANI, Carlos R. S.; CARVALHO, Tassia C. O. Cooperação Sul-Sul e Política Externa: Brasil e China no continente africano. Belo Horizonte, 2013. Disponível em: <http://200.229.32.55/index.php/estudosinternacionais/article/view/5158/5168&gt;. Acesso em: 29 de Abril de 2018.

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OLIVEIRA, Amancio Jorge Nunes de; ONUKI, Janina; OLIVEIRA, Emmanuel. “Coalizões Sul-Sul e Multilateralismo: Índia, Brasil e África do Sul.” Contexto Internacional. Vol. 28, Nº 2, 2006, p. 490.

PACHECO, Silvestre Eustáquio Rossi. RELAÇÕES INTERNACIONAIS: REDESENHO DA ORDEM MUNDIAL E CONSTRUÇÃO DO MULTILATERALISMO NO SÉCULO XXI: A Epistemologia do Sul e a racionalidade instrumental da globalização: por uma compreensão da realidade internacional no limiar do século XXI. Belo Horizonte, 2010. Cap. 2, p. 22-34. Disponível em: <http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/Direito_PachecoSER_1.pdf&gt; Acesso em: 29 de Abril de 2018.

XAVIER, Nathaly Silva. A política externa chinesa e a recepção dos países africanos: o contraste entre Zâmbia e Angola (1989-2009). Porto Alegre, 2011. Disponível em: <http://hdl.handle.net/10183/29395&gt;. Acesso em: 29 de Abril de 2018.

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