O fim do conflito entre Djibouti e Eritréia e a integração do Chifre da África
Flávia Lanza
O Chifre da África é considerado uma região onde predomina as relações de rivalidade entre os países. Existem diversos grupos étnicos no local, o que significa diversas formas de pensar e diversas linhas político-ideológicas que podem ser seguidas pela população, e isso já gerou diversas guerras civis, além de conflitos territoriais – visto que os Estados desejam manter e procuram defender militarmente seu território. Dessa forma, muitos conflitos ocorreram entre esses países ao longo da história, e ainda acontecem, sendo um desses, que recentemente se encerrou, entre os Estados Djibouti e Eritréia.
É considerado que o conflito militar entre o Djibouti e a Eritréia começou em 2008 com uma disputa fronteiriça. Entretanto, na década de 90, eles já possuíam uma rivalidade, pois disputavam rotas marítimas e acusavam um ao outro de bombardeios ou de apoio à rebeldes. Sendo assim, é possível afirmar que as tensões entre esses países são presentes nessa região há muitos anos. Além desses dois locais, outros Estados pertencentes a esse grupo também foram envolvidos nestes e em demais conflitos, possuindo também outras divergências entre si. (AL JAZEERA, 2008)
Na fronteira entre o Djibouti e a Eritréia existe um cabo chamado Ras Doumeira, que segue até o Mar Vermelho e é composto pela montanha e pela ilha da Dumeira. Em 2008, a Eritréia solicitou permissão para atravessar a fronteira, afirmando que iria construir uma estrada. Porém, o Djibouti afirma, em uma carta à ONU, que seu lado da fronteira onde existe esse cabo estava sendo ocupado de forma ilegal por soldados eritreus, dando início ao maior período de hostilidade entre esses países. Dia 10 de junho desse mesmo ano foi quando teve início a parte armada do conflito.
Mapa 1: Limites de fronteira entre Eritréia e Djibouti
Fonte: BBC [1]
No dia 15 de maio de 2008, o primeiro-ministro da Etiópia – outro país pertencente a região do Chifre da África e considerado o mais poderoso entre eles – manifestou-se a respeito do conflito, afirmando que a iminência dessa guerra era considerada uma ameaça para a paz e segurança deste conjunto de países. Muitos soldados de ambos os lados morreram ou foram feridos durante o conflito, o que levou o Conselho de Segurança das Nações Unidas a realizar uma reunião para discutir como o conflito poderia ser solucionado.
De tal forma, foi decidido que ambos os países deveriam retirar suas forças armadas dos territórios vizinhos, para garantir seu status quo. O Djibouti respondeu o pronunciamento das Nações Unidas retirando suas tropas do território eritreu, mas a Eritréia apenas retirou seus militares de Djibouti quase 10 anos depois, em 2018. Em vista disso, no dia 18 de setembro de 2018, foi realizado um encontro considerado histórico na Arábia Saudita entre os líderes de ambos países, impulsionado pela União Africana. (UNITED…, 2009)
Com a ajuda das Nações Unidas, os representantes de Djibouti e da Eritréia anunciaram que reabririam as embaixadas de cada país em suas respectivas capitais, também retomando o tráfego aéreo, marítimo e o movimento de pessoas entre as fronteiras. Assim, alguns pesquisadores consideram que tal cooperação pode ser considerada o início de novas relações diplomáticas na região, trazendo esperança para que a paz seja instaurada no Chifre da África. (MAASHO, 2018)
Mapa 2: Chifre da África
Fonte: Maps Africa [2]
De acordo com o pesquisador do Instituto de Estudos de Segurança (ISS AFRICA), Omar Mahmood, a resolução desse conflito abre o caminho para o fim das hostilidades entre esses países e também para a integração de ambos no Chifre da África. (apud MBAH, 2018) [3] É possível perceber que a procura dos Estados membros em aumentar suas relações está progredindo cada vez mais, visto que a Etiópia também já procurou estreitar laços com a Eritréia, reabrindo sua embaixada na capital Asmara, além de já possuir fortes elos com o Djibouti na defesa de suas fronteiras.
A Eritréia e a Somália, outro integrante do Chifre da África, também procuraram estabelecer laços diplomáticos, ao trocar embaixadores e também reabrir suas embaixadas nas capitais uma da outra. Os presidentes dos países afirmaram que pretendem investir em trocas comerciais bilaterais, ou seja, investimentos econômicos que sejam benéficos para ambos. Com isso, também encerram duas décadas de hostilidade. (OBULUTSA, 2018)
A intensificação da cooperação entre os membros do Chifre está estimulando o crescimento econômico desses Estados – além de fortalecer a coordenação política em questão de segurança, como medidas de combate ao terrorismo. É importante lembrar que a Somália está atualmente sofrendo com a fome, a seca e com diversos atentados que andam ocorrendo e matando muitos civis. Juntos, os países podem ajudar a resolver os problemas enfrentados.
Concluindo, o fim do conflito entre a Eritréia e o Djibouti pode ser considerado potencialmente benéfico para a região, pois mudaria o padrão de interação entre esses Estados, tornando-os menos austeros e mais cordiais – tanto entre eles quanto entre os outros componentes do Chifre da África –, podendo gerar uma relativa paz na região.
Referências
Horn of Africa neighbours clash. [S.l]: Al Jazeera, news, Africa, 10 jun. 2008. Disponível em: <https://www.aljazeera.com/news/africa/2008/06/200861423325724923.html>. Acesso em: 05 out. 2018.
MAASHO, Aaron. Djibouti, Eritrea agree to normalize ties strained since 2008. [S.l]: Reuters, article, 7 set. 2018. Disponível em: <https://af.reuters.com/article/topNews/idAFKCN1LN0RN-OZATP>. Acesso em: 05 out. 2018.
MBAH, Fidelis. Eritrea consolidates Horn of Africa peace. [S.l]: Al Jazeera, news, Eritrea, 11 set. 2018. Disponível em: < https://www.aljazeera.com/news/2018/09/eritrea-consolidates-horn-africa-peace-deal-180910174538098.html>. Acesso em: 06 out. 2018.
OBULUTSA, George. Somalia, Eritrea to establish diplomatic ties, open embassies. [S.l]: Reuters, article, world news, 30 jul. 2018. Disponível em: <https://www.reuters.com/article/us-eritrea-somalia-diplomacy/somalia-eritrea-to-establish-diplomatic-ties-open-embassies-idUSKBN1KK1O5>. Acesso em: 08 out. 2018.
Security council urges Djibouti, Eritrea to resolve border dispute peacefully unanimously adopting resolution 1862 (2009). [S.l]: United Nations, press release, Security Council, 14 jan. 2009. Disponível em: <https://www.un.org/press/en/2009/sc9570.doc.htm>. Acesso em: 06 out. 2018.
SOLOMON, Salem. Unresolved Eritrea-Djibouti Tensions Threaten Regional Peace. [S.l]: Voa, Africa, 04 ago. 2018. Disponível em: <https://www.voanews.com/a/unresolved-eritrea-djibouti-tensions-threaten-strides-toward-regional-peace/4513779.html>. Acesso em: 06 out. 2018.
[1] Disponível em: <https://www.bbc.com/news/world-africa-40340210>. Acesso em: 06 out. 2018
[2] Disponível em: <http://maps-africa.blogspot.com/2012/05/horn-of-africa-map-pictures.html>. Acesso em: 06 out. 2018.
[3] Omar Mahmood afirmou que: ‘’Resolving the border concerns paves the way for not just the resumption of Eritrea’s relationship with Djibouti, but its wider integration into the Horn of Africa, as this was one of the key lingering disputes preventing that.’’