Clipping África Ocidental #46

Os EUA concordam em retirar tropas do Níger em meio ao pivô da região do Sahel para a Rússia

20/04/2024

Por Maria Luiza de Carvalho Allo

Os Estados Unidos irão retirar seus soldados do Níger, haja vista a aproximação da nação da África Ocidental com a Rússia, de forma a afastar-se cada vez mais das potências ocidentais. O Departamento de Estado dos EUA concordou em retirar cerca de 1.000 soldados do país que está sob domínio militar desde julho de 2023, informou a mídia dos EUA no final da sexta-feira. Washington está se comprometendo a começar a planejar uma retirada “ordenada e responsável” de suas tropas do país, segundo relatórios, o vice-secretário de Estado dos EUA Kurt Campbell e o primeiro-ministro nigeriano Ali Mahaman Lamine Zeine se encontraram na sexta-feira, para discutir a questão.

Diante de tal perspectiva, a base militar dos Estados Unidos no Níger tinha como finalidade combater grupos armados que prometeram lealdade à al-Qaeda e ao ISIS na região do Sahel, que também inclui Burkina Faso e Mali. Nesse contexto, foi construída a Base Aérea 201, localizada em Agadez, a cerca de 920 km da capital Niamey, tendo sido usada para voos de vigilância tripulados e não tripulados, além de outras operações. Sendo usada desde 2018, para atingir combatentes do EIIL e Jama’at Nusrat al-Islam wal Muslimeen (JNIM), uma afiliada da Al-Qaeda.

Enquanto mantinha uma linha de comunicação com o governo militar no Níger, os militares dos EUA começaram a se preparar para a possibilidade de ter que se retirar, com o general americano James Hecker dizendo no ano passado que Washington está sondando “vários locais” em outros lugares da África Ocidental para estacionar seus drones. Nesse contexto, foi noticiado na rede de televisão estatal nigeriana que as autoridades dos EUA visitariam o país na próxima semana. Contudo, não ocorreu nenhum anúncio público do Departamento de Estado acerca da retirada, e as autoridades disseram que nenhum cronograma havia sido definido.

Paralelo a isso, o Níger já havia anunciado em março que suspenderia a relação militar com os EUA e buscaria a retirada de seus soldados. Além de não possuir apelo a nível militar, a população do país está rejeitando as ações da potência ocidental, visto que estão rejeitando as forças pós-coloniais, levando manifestantes às ruas e exigindo a retirada da base estadunidense. Ademais, outros países vizinhos com governantes militares, como Mali e Burkina Faso, também expulsaram as tropas francesas e europeias, voltando-se para Rússia em busca de apoio, com o país já tendo correspondido e enviado forças militares. Ademais, juntamente com grupos armados, a região do Sahel, já atormentada pelo conflito, ainda enfrenta problemas com uma rota influente para o tráfico de drogas.

Fonte: Verity

FONTE: https://www.aljazeera.com/amp/news/2024/4/20/us-agrees-to-withdraw-troops-from-niger-amid-sahel-regions-pivot-to-russia 

Vitória eleitoral surpresa para o candidato da oposição do Senegal

28/03/2024

Por Luize Pavani Cunha Gava

Após eleições atrasadas e caóticas, o Senegal elegeu o candidato Bassirou Diomaye Faye como seu próximo presidente, tornando-o o mais jovem presidente eleito  da história do Senegal. A sua ascensão ao poder foi impulsionada pela ausência do líder da oposição Ousmane Sonko, que foi proibido de concorrer ao cargo de presidência sob a acusação de rebelião. No seu discurso de posse, Faye prometeu erradicar a corrupção, revitalizar a economia e promover a unidade nacional.  

Entretanto, o novo presidente enfrenta sérios desafios de migração, com um aumento significativo no número de senegaleses arriscando suas vidas em perigosas travessias marítimas para alcançar o continente europeu. Segundo a Frontex, até 2023, o número de  travessias na rota da África Ocidental para as Ilhas Canárias aumentou 161%, sendo o número de mortes também alarmante. A OIM estima que o número de mortos seja de quase 1.000, enquanto as ONG espanholas estimam o número em mais de 6.000.

Os recentes casos de naufrágio e afogamentos ao longo da rota realçam a necessidade de abordar estas questões humanitárias e de segurança. Conforme afirmado em 2021, o custo das perdas desses naufrágios para as comunidades afetadas é devastador. São necessárias medidas urgentes para garantir a segurança da população e eliminar as causas da migração ilegal, tarefa que o novo presidente deverá enfrentar ao longo do seu mandato.

FONTE: https://www.thenewhumanitarian.org/news/2024/03/28/surprise-election-win-senegals-opposition-candidate 

A questão em torno das empresas estatais em Guiné-Bissau: resolução de crises e expectativa de desenvolvimento

22/04/20224

Por Marina Vieira Cardoso

O ministro das Finanças da Guiné-Bissau delineou um plano abrangente para abordar os desafios enfrentados pelas empresas estatais do país, com a esperança de resolver esses problemas até 2025. Ele enfatizou a importância da colaboração com o Banco Mundial nesse esforço. Um aspecto crucial desse plano é o foco na gestão das empresas de telecomunicações e energia elétrica, visando não apenas resolver suas dificuldades financeiras, mas também melhorar sua eficiência operacional.

Além disso, o país está buscando diversificar suas fontes de energia para reduzir a dependência de um único fornecedor, com negociações em andamento para reduzir a quantidade de energia fornecida por uma empresa turca. O governo está atento aos gastos excessivos nessas empresas, pois reconhece que, em última análise, é o Tesouro Público que arca com as consequências.

No que diz respeito às finanças públicas em geral, o governo está comprometido em controlar os gastos, especialmente no que diz respeito à função pública, enquanto procura aumentar a receita. Durante as Reuniões de Primavera do FMI e do Banco Mundial, foram discutidas questões como o perdão da dívida e a reestruturação financeira, com um foco particular na dívida com o Banco da África Ocidental para o Desenvolvimento (BOAD).

Apesar das perspectivas de crescimento econômico para os próximos anos, foi destacado que a pobreza aumentou no país, atribuída ao contexto econômico global e seus efeitos nos preços dos produtos básicos. Para mitigar os impactos dessa situação, o governo implementou medidas como a subvenção de produtos essenciais. No entanto, reconhece que algumas dessas medidas, como a subvenção do arroz, podem não ser sustentáveis ​​a longo prazo.

Por fim, o governo está ciente das dificuldades enfrentadas pela população devido à economia frágil do país e está buscando maneiras de equilibrar as necessidades imediatas com uma abordagem mais sustentável para as políticas econômicas e sociais. 

Fonte: RFI/Aliu CANDÉ

FONTE: Guiné-Bissau espera ver resolvidos até 2025 problemas das estatais. rFi, 22 de Abril de 2024. Disponível em: <https://www.rfi.fr/pt/%C3%A1frica-lus%C3%B3fona/20240421-guin%C3%A9-bissau-espera-ver-resolvidos-at%C3%A9-2025-problemas-das-estatais&gt;. Acesso em: 22, Abril de 2024.

Poderiam contêineres descartados ser a resposta para a crise habitacional em Gana?

21/04/2024

Por Luiz Eduardo Leite Carmo

Nas proximidades de Acra, Gana, surgiu uma iniciativa disposta a tornar contêineres descartados de navios em moradias sustentáveis. Eric Kwaku Gyimah, edificador da atividade, afirma: “é mais que um negócio, é um movimento”. Assim, iniciou-se um movimento com o intuito de prover moradias aos habitantes de Gana, oferecendo a transformação de containers abandonados em moradias acessíveis e eco-friendly para àqueles que sobrevivem à crise habitacional que perpassa o oeste africano.

De acordo com o Serviço Estatístico de Gana, aproximadamente 6 milhões dos 33 milhões de ganeses se encontram em urgente necessidade de moradia. Muitos não têm onde viver, mas a maioria se encontra em comunidades superpovoadas que vêm crescendo ao redor das metrópoles do país, principalmente da capital, Acra. Sendo assim, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU) a população habitante dessas “favelas” passou de 5,5 milhões em 2017 para 8,8 milhões em 2020, e só vem crescendo.

Tal fenômeno decorre principalmente devido ao êxodo rural, em que ganeses saem do campo na busca de melhorar sua qualidade de vida, porém deparam-se com uma demanda generalizada por moradia e valores cada vez mais absurdos, sendo coagidos a se hospedarem em tais comunidades de moradias precarizadas, na esperança de uma melhora em suas vidas. Além disso, a taxa de natalidade crescente em Gana também agrega na estatística que aborda o crescimento da população do país que perpassa essa situação dentro da crise habitacional.

Com a falta de recursos financeiros e muitas vezes impossibilidade de financiamento, famílias agora vêm enxergando as “casas container” como grande oportunidade, tanto de moradia a longo prazo quanto de vida mais sustentável. Inicialmente o projeto focava em atingir “indivíduos”, provendo moradia digna para essas famílias, com uma estrutura de cerca de U$8500,00 para a construção e reaproveitamento da estrutura da “casa container”, com uma dessas moradias mais completas por U$35000,00 com cozinha e banheiros. Por mais que tais preços possam parecer altos para uma moradia, construir uma casa com dois quartos em Gana custaria entre U$50.000,00 e U$70.000,00, e uma dessas no centro de Acra seria aproximadamente U$100.000,00, o que torna as casa em containers mais efetivas e menos custosas, além de possuírem construção mais rápida, menos necessidade de materiais e menor devastação da natureza.

Agora pelo nome IWoodz Creation e com 25 membros efetivos, a empresa e movimento de Gyimah já construiu 52 “casas container”, além de escritórios, cafés e lojas. As moradias também são projetadas conforme as particularidades do local, preocupando-se com ventos que trazem aconchego devido a situações climáticas do local,  o que dispensa a necessidade de ar-condicionados.

Entretanto, assim como todo projeto, as moradias em container também sofrem de críticas, como por exemplo as de que apesar de seu sucesso na perspectiva microeconômica, o projeto não irá resolver a crise em Gana e que, apesar dessas estruturas oferecerem uma forma mais barata e rápida de prover abrigo à população, elas não chegam ao cerne dos problemas na crise habitacional no país. Urbanistas também observam a importância de haver certificações das “casas-container” e que essas podem sem compreensivamente integradas em um planejamento urbano que prioriza sustentabilidade e bem estar da comunidade a longo prazo; mas apesar de amenizarem a situação, não serão capazes de extinguir os problemas habitacionais enfrentados pelos ganenses.

Finished eco-homes made from shipping containers. These are much less expensive than traditional houses and use less energy [Courtesy of Eric Kwaku Gyimah]

FONTE: https://www.aljazeera.com/economy/2024/4/21/could-shipping-containers-be-the-answer-to-ghanas-housing-crisis

O governo do Mali proíbe todas as atividades políticas de partidos e associações 

11/04/2024 

Por Ana Clara do Nascimento 

Fonte: El País (2024)

O Governo do Mali,, sob o comando do Coronel Assimi Goïta, aprovou um decreto que estabelece “a suspensão até novo aviso e em todo o território nacional das atividades dos partidos políticos e associações de natureza política”. O Executivo transitório justifica esta decisão por razões de segurança e “ordem pública” e adota-a apenas dez dias depois de mais de 80 partidos e grupos da sociedade civil terem exigido a realização de eleições presidenciais “no mais curto espaço de tempo possível” para as autoridades malianas que chegou ao poder através de um golpe de Estado em 2020, rejeita categoricamente.

O decreto, que tem gerado um forte debate na sociedade maliana, foi anunciado ao público em conferência de imprensa pelo Ministro da Administração Territorial e Porta-voz do Governo, Coronel Abdoulaye Maïga, que acusou a classe política de “debates estéreis” e de realizar “ações subversivas”. Por todas estas razões, acrescentou, num momento de desafios de segurança devido à atividade de grupos armados jihadistas e independentistas tuaregues, é necessário estabelecer “um clima de serenidade” enquanto se espera pela abertura de um “diálogo nacional”.

No dia 01/04/2024, mais de 80 partidos e associações malianas exigiram que as autoridades em um comunicado “criassem as condições para uma consulta rápida e inclusiva para a implementação de uma arquitetura institucional com o objetivo de organizar, no mais curto espaço de tempo possível, as eleições presidenciais”. Da mesma forma, a Rede de Defensores dos Direitos Humanos do Mali lembrou ao Presidente Goïta que em Junho de 2022 assumiu o compromisso de deixar o poder antes de 26 de Março de 2024, uma promessa que não cumpriu.

Embora a expressão da liberdade esteja sofrendo uma enorme erosão no Mali, a situação nos países vizinhos, onde também governam a junta militar após os golpes de Estado nos últimos três anos, não é muito melhor. No Burkina Faso, são comuns as detenções de ativistas dos direitos humanos e de membros de partidos políticos críticos do capitão Ibrahim Traoré, que são levados à força para lutar contra grupos jihadistas. No Níger, o presidente deposto Mohamed Bazoum continua detido pelos militares e, em ambos os países, a atividade de grupos da sociedade civil e de jornalistas está sujeita a um forte controle.

Fonte: https://elpais.com/internacional/2024-04-11/el-gobierno-golpista-de-mali-prohibe-toda-actividad-politica-de-partidos-y-asociaciones.html 

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