A Geopolítica de Djibouti e a nova Base Naval Chinesa em Obock
Pedro Diniz Rocha
A República Popular da China (RPC) inaugurou no segundo semestre de 2017 sua base naval em Djibuti. O que evidencia o crescente interesse estrangeiro no país. Além da RPC, França, Itália, Japão e Estados Unidos já possuíam ali base militar. À vista disso, o objetivo deste pequeno ensaio conjuntural é apresentar uma análise da posição geopolítica de Djibuti. Sendo a geopolítica, como nos aponta Meira Mattos (2011, p.289), “a política aplicada aos espaços geográficos”, acredita-se que seus termos nos possam dar resposta acerca da importância estratégica do pequeno país para a Política Internacional.
Djibuti é um país de característica continental-marítima, apresentando 314km de faixa litorânea e 528km de fronteiras terrestres (quociente de maritimidade=0.59), sendo 125km com a Eritreia ao norte, 342km com a Etiópia a oeste e 61km com a Somália ao sul (CIA Factbook, 2018a). O país se localiza no Chifre da África e em conjunto com o Iêmen, na Península Arábica, é banhado pelas águas do Golfo do Áden e guarda a passagem para o Mar Vermelho, rota essencial para ligação do Oceano Índico ao Mar Mediterrâneo através do Canal de Suez.
Figura 1 – Mapa de Djibouti
Por sua posição geográfica no Chifre da África, à entrada do Mar Vermelho, Djibouti é nodo de conexão essencial para a grande estratégia chinesa e seu projeto One Belt, One Road (OBOR) e em especial no que concerne a Maritime Silk Road Iniciative (MSRI). A nova Rota da Seda Marítima visa proporcionar a RPC um canal de ligação marítimo desde o Mar do Sul da China até a Europa, englobando em seu corredor econômico uma grande miríade de países da Ásia, África e Oriente Médio. É dentro deste contexto que deve ser entendida a escolha de Djibouti pela China para localização de sua única base naval na África. A garantia de livre conduto por meio do Golfo do Áden ao Mar Vermelho e ao Mar Mediterrâneo em uma região que a muito sofre com a Pirataria é essencial para a consecução dos objetivos geopolíticos chineses (Blanchard; Flint, 2017)
Figura 2 – Maritime Silk Road Iniciative (MSRI)
Apesar do recente estabelecimento de base naval chinesa em Djibouti, o país possui forte ligação histórica com a França, país do qual se tornou independente em 1977, e com os EUA que desde 2001 opera na base naval Camp Lemmonier em contexto da Operation Enduring Freedom – Horn of Africa e da War on Terror. A base estadunidense se localiza nos intermédios da capital homônima do país, Djibouti, ao sul do Golfo de Tadjoura e em posição oposta a nova base da RPC, localizada ao norte do Golfo na cidade de Obock. A partir do campo Lemmonier, os Estados Unidos possuem posto avançado não só para realização de missões antipirataria no Golfo do Áden, como também para o lançamento de operações de combate ao terrorismo na Somália. Além disso, favorece também a execução de missões na Península Árabica, estando a cerca de 25km do Yemen através do estreito de Bal-el-Mandeb (Moller,2009).
Em termos sociopolíticos, Djbouti hoje possui população de cerca de 865 mil pessoas segmentadas em dois principais grupos étnicos, a maioria Somali (60 % da pop.) e a minoria Afar (35% da pop.). Após a independência da França em 1977, a política no país foi dominada pelos Somalis a partir do governo autoritário do presidente Hassan Gouled. Na década de 1990, entretanto, após ofensiva Afar, foi eclodida guerra civil que teve seu fim somente em 2001. Com o fim da guerra civil, hoje Djibouti disfruta de relativa estabilidade política sob a presidência de Ismail Omar Guelleh (CIA Factbook, 2018b). Nesse sentido, Djibouti também é polo de operações militares no Chifre da África já que possibilita as potências estrangeiras um reduto de estabilidade política em uma área de conflito intenso.
Na mesma medida, a estabilidade política, em conjunto com sua posição geográfica privilegiada, coloca o país como receptor de refugiados da Somália, Etiópia, Eritreia e Iêmen. Assim, Djibouti conta hoje com uma comunidade de 27 771 refugiados, o que representa cerca de 3% da população total do país (UNHCR, 2017). Em relação ao atual conflito no Iêmen, desde 2015 cerca de 38 000 Yemenis partiram em direção ao país, tendo 4 500 destes status de refugiados, e a expectativa é a de que com a intensificação das hostilidades esses números cresçam nos próximos meses (Inter-Agency Operational Update, 2017).
Conclui-se então que a Geopolítica, como “a política aplicada aos espaços geográficos”, para além de seus determinismos, proporciona certas respostas e nos permite prever nos próximos anos a crescente relevância tanto de Djibouti quanto do Chifre da África para o jogo político internacional. A presença em Djibuti é ponto fulcral para a execução da grande estratégia chinesa em contexto do projeto OBOR, assim como dá aos Estados Unidos posição de lançamento de operações na Península Arábica, no Golfo do Áden e no Chifre da África. É nesse contexto que se lê a abertura da base naval da RPC em Obock e a intensificação das atividades estadunidenses em Camp Lamonnier.
Bibiografia
BLANCHARD, Jean-Marc ; FLINT, Colin. The Geopolitics of China’s Maritime Silk Road Initiative. Geopolitics, v.22, n.2, pp.223-245, 2017
CIA Factbook. Field Listing: Land Boundaries. Disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/fields/2096.html>.Acesso em 03 de Mar. 2018a
CIA Factbook. Djibouti. Disponível em: < https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/dj.html >. Acesso em 03 de Mar. 2018b
INTER-AGENCY OPERATIONAL UPDATE. Djibouti – Response to the Yemen Situation. Disponível em: < http://reporting.unhcr.org/sites/default/files/Djibouti%20Inter-Agency%20Update%20on%20the%20Yemen%20Situation%20-%20October%202017%20%5BENG%5D.pdf>. Acesso em 03 de Mar. 2018b
MEIRA MATTOS, Carlos de. Geopolítica e Trópicos. In: MEIRA MATTOS, Carlos de. Geopolítica, Volume III. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2011
MOLLER, Bjorn. The Horn of Africa and the US “War on Terror” with special Focus on Somalia. Alborg: Alborg Universitet, 2009
UNHCR. Djibouti Fact Sheet. Disponível em: < http://reporting.unhcr.org/sites/default/files/UNHCR%20Djibouti%20Fact%20Sheet%20-%20October%202017%20%5BENG%5D_0.pdf>. Acesso em 03 de Mar. 2018
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