Prisão do ex-guerrilheiro Jesús Santrich, após pedido dos EUA, leva líderes da Colômbia e da FARC a reafirmarem o acordo de paz
O Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e o líder do partido FARC, Rodrigo Londoño (conhecido por Timochenko), reiteraram, após reunião entre as partes, os termos do processo de paz iniciado em Havana, há, aproximadamente, um ano e meio, no dia 24 de agosto, após recente controvérsia envolvendo o ex-combatente da FARC, Jesús Santrich.
Seusis Pausivas Hernández, nome do ex-guerrilheiro Jesús Santrich, 51 anos, nasceu na cidade de Toluviejo, no departamento [estado] de Sucre. Em 1991, Seusis Pausivas Hernández decidiu ingressar nas FARC, adotando, como pseudônimo, o nome de um amigo assassinado no ano anterior por membros do Departamento Administrativo de Segurança (DAS), extinto órgão de inteligência do Estado colombiano: surgia, assim, o guerrilheiro Jesús Santrich. Após anos na FARC, desempenhou diversas atividades para o grupo: redigia os comunicados e participou da Rádio Resistência. Foi, aos poucos, adquirindo maior protagonismo no movimento, até que, durante o processo de negociação da paz, em Havana, o ex-guerrilheiro se tornou um dos principais negociadores das FARC, sendo um dos responsáveis pela redação do acordo.
Entretanto, nesse processo de conciliação na Colômbia, o ex-guerrilheiro Jesús Santrich é acusado, pelos Estados Unidos da América (EUA), de tráfico de drogas, após uma investigação do Órgão de Controle/Combate às Drogas (Drug Enforcement Admnistration – DEA) ter descoberto que o ex-combatente estaria envolvido, em 2017, num esquema para exportação de “(…) dez toneladas de cocaína (…)” (O GLOBO, 2018) para o território estadunidense. Foi solicitada a prisão e extradição do ex-guerrilheiro para os EUA, para responder ao processo judicial, e cumprida a ordem de prisão, em 09 de abril do corrente ano.
Considerando, segundo as investigações do DEA, que o delito imputado a Jesus Santrich teria sido cometido em 2017, após, portanto, da celebração dos acordos de paz, o ex-combatente não está acobertado pelo dispositivo legal acordado entre as partes, que prevê a instauração de uma jurisdição específica para julgar os atos cometidos durante o conflito. Sendo assim, diante desse critério temporal, Jesus Santrich deve responder ao processo perante a jurisdição ordinária da Colômbia, (SEMANA, 2018).
Com a prisão de Jesús Santrich, ex-combatentes e membros da FARC se mostraram reticentes com o processo de paz em curso. Segundo o porta-voz do partido, Iván Márquez, o processo de paz se encontra “(…) em seu ponto mais crítico (…)” (G1, 2018) desde a celebração do acordo de Havana, e acusa o governo estadunidense de estar manipulando o processo – “É claro que estamos diante de outra montagem da Justiça americana.” (G1, 2018) –, e diante dos eventos, pede que as partes mantenham a calma, para evitar a retomada da violência.
É certo, ainda, que a controvérsia envolvendo Jesús Santrich tem repercussões sobre a sociedade colombiana, e que vão além das partes diretamente envolvidas, o Estado colombiano e a FARC. Há pendente a questão do Exército de Libertação Nacional (ELN), a última organização guerrilheira ainda em atividade na Colômbia, com a qual o governo atual pretende celebrar um acordo de paz, aos moldes daquele celebrado com a FARC. (G1, 2018). Porquanto, eventual problema no cumprimento do acordo com a Farc pode sinalizar uma incapacidade do Estado em levar adiante o processo de pacificação.
Finalizada a reunião entre o presidente Juan Manoel Santos e Rodrigo Londoño, o líder da FARC disse que “O partido FARC está firmemente comprometido com o acordo. Cumprimos e seguiremos cumprindo. A paz da Colômbia não está condicionada por problemas nem pelas pessoas que formam parte da organização”. (O GLOBO, 2018). O presidente da Colômbia, por sua vez, disse que “Há regras claras que se devem fazer cumprir”. (O GLOBO, 2018).
A Missão de Verificação das Nações Unidas na Colômbia, estabelecida pela resolução 2.366/2017 do Conselho de Segurança (ONU, 2017) para acompanhar o processo de implementação dos termos do acordo de paz, tomando conhecimento da prisão do ex-combatente Jesús Santrich e das reações subsequentes, emitiu um comunicado, pelo qual pediu que as instituições colombianas avaliem os acontecimentos com o maior discernimento possível, considerando que as decisões tomadas podem ter importantes consequências no processo de paz em implementação no país sul-americano. (ONU, 2018).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
G1. Captura de ex-negociador das Farc ameaça acordo de paz na Colômbia. G1, Rio de Janeiro, 10 abr. 2018. Disponível em: < https://g1.globo.com/mundo/noticia/captura-de-ex-negociador-das-farc-ameaca-paz-na-colombia.ghtml >. Acesso em: 25/04/2018.
O GLOBO. Após tensão por ex-líder preso, Farc e Colômbia ratificam acordos de paz. O Globo, Bogotá, 12 de abr. 2018. Disponível em: < https://oglobo.globo.com/mundo/apos-tensao-por-ex-lider-preso-farc-colombia-ratificam-acordos-de-paz-22585477 >. Acesso em: 25/04/2018.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Resolution 2366 (2017). Disponível em: < http://undocs.org/S/RES/2366(2017) >. Acesso em: 25/04/2018.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Press Release – UN Verification Mission on Colombia. Disponível em: < https://colombia.unmissions.org/en/press-release-un-verification-mission-colombia-0 >. Acesso em: 25/04/2018.
SEMANA. ¿Qué dejó la reunión de Santos y Timochenko sobre el caso Santrich?. Semana. Bogotá, 11 abr. 2018. Disponível em: < https://www.semana.com/nacion/articulo/juan-manuel-santos-y-timochenko-entregan-balance-reunion-sobre-santrich/563376 >. Acesso em: 25/04/2018.
SEMANA. Quién es Jesús Santrich, el excombatiente que iba para el Congreso y terminó en la cárcel. Semana. Bogotá, 09 abr. 2018. Disponível em: < https://www.semana.com/nacion/articulo/quien-es-jesus-santrich-perfil-del-exjefe-de-las-farc-capturado/563071 >. Acesso em: 25/04/2018.