Conflito e Divisão no Sudão
Thainá Tavares da Silva
O continente africano possui diversas culturas, etnias, povos e religiões. Contudo, por apresentar essa grande diversidade, ela é campo de disputas e conflitos, que estão presentes desde o imperialismo, até atualmente. Entretanto, um dos principais conflitos em seu território, está localizado em dois países, que anteriormente eram um só Estado, conhecido como Sudão. Para melhor compreensão, a cerca do porque o conflito ainda ocorre, é necessário buscar e analisar sobre o seu passado (ASSIS, 2008).
O Sudão, país localizado na África, tem apresentado conflitos desde a formação de seu Estado. Seu território já foi alvo do imperialismo inglês e teve sua cultura e desejos ignorados por esta, além disso, os sudaneses conseguiram sua autonomia em 1956, mas seus conflitos internos permaneceram e acarretaram em guerras civis. Seu território encontra-se cercado por nove países, sendo estes: Egito, Líbia, Chade, República Centro Africana, Uganda, Quênia, Etiópia, República Democrática do Congo e Eritreia, fazendo fronteira também, com a Arábia Saudita pelo Mar Vermelho, como podemos observar no mapa (ASSIS, 2008).
Mapa 1 – Localização territorial do Sudão
Os conflitos internos no país, de acordo com Varma (2011), estão relacionados às diferenças entre as regiões norte e sul. Cerca de 70% da população são mulçumana, 25% praticantes de religiões tradicionais e 5% são cristãos. Após a independência, o sul alegava que a maior parte do poder estava nas mãos da população do norte, além disso, grandes diferenças ideológicas proporcionaram a tentativa dos nortistas de “islamização” do sul. Contudo, os sulistas adotaram uma política “anti-imperialismo”, pois acreditavam que o norte era uma extensão da colonização. De acordo com Haynes (2009), “a religião pode aumentar a agressividade e a disposição para usar a violência”, e foi dessa forma que ocorreu o confronto entre a população sudanesa, onde cerca de 500 mil pessoas morreram antes do cessar-fogo, designado Paz de Addis Ababa, que permitiu certa autonomia e a presença de um presidente regional no sul (VARMA, 2011; ASSIS, 2008; HAYNES, 2009).
Entretanto, em 1983, houve uma ruptura deste acordo, que retirou a autonomia conquistada pelo sul, por causa da tentativa de implantação da lei do islã (Sharia) nesta região pelos nortistas, que dessa maneira, reiniciaram novamente os conflitos entre a população, além de que, desta vez o norte queria redefinir a fronteira até então existente por outra, visto que a parte sul tem maiores recursos naturais, como o petróleo. Ademais, no ano de 1985, um regime militar fundamentalista-islâmico foi instalado no país, que agravou ainda mais as situações socioeconômicas e políticas nas comunidades sudanesas, principalmente ao sul, que resultaram em novos conflitos, onde a população sul-sudanesa lutava por sua libertação usando da violência como justificativa a opressão dos regimes em Cartum (CAMPOS, 2017)
A Guerra Civil que ocorreu em 1900 esteve principalmente relacionada à luta pelos direitos ao petróleo, pois este se encontra na parte sul e a capital Cartum, que monopolizou os benefícios de exploração deste, se encontra ao norte. Dessa forma, conflitos permaneceram no território, que no final em de julho de 2011 resultou na divisão do Sudão em dois Estados, sendo o Sudão e Sudão do Sul. Contudo, é possível perceber ao analisar o mapa abaixo, que às maiores reservas de petróleo se encontram no Sudão do Sul, enquanto as refinarias e os oleodutos estão ao norte (SCHNEIDER, 2008).
Mapa 2 – Estratégia, divisões e recursos do Sudão e Sudão do Sul
O dinheiro do petróleo representa atualmente 90% da entrada de divisas estrangeiras através da exportação e metade do orçamento do Sudão. Por isso, foi estabelecido um acordo entre os dois Estados, após a guerra civil, em que ambos têm o direito à metade do valor obtido com a exploração petrolífera. Dessa forma, os dois países dependem um do outro, até mesmo, porque, ambos ainda são pouco desenvolvidos e se separaram a pouco tempo (ASSIS, 2008).
Contudo, os conflitos estão longe de terminar, mesmo com as tentativas de acordo, pois essas questões sobre limites, recursos naturais, entre outros, ainda estão muito mal definidas que, por consequência, atingem suas populações, que sofrem em condições cada vez mais precárias.Portanto, o conflito possui um desfecho ainda muito impreciso (SCHNEIDER, 2008).
Referências Bibliográficas
ASSIS, Frederico Souza de Queiroz. As Raízes do Conflito Norte e Sul do Sudão: O Processo de Formação do Estado-Nação (1930-1956). Sankofa. Revista de História da África e Estudos da Diáspora Africana. n.2, dez. 2008.
CAMPOS, Ligia Maria Caldeira Leite. O Atual Conflito no Sudão do Sul. Série Conflitos Internacionais, v.4, n.2, abr. 2017.
HAYNES, Jeffrey. Conflict, Conflict Resolution and Peace-Building: The Role of Religion in Mozambique, Nigeria and Cambodia, Commonwealth & Comparative Politics, 2009.
MARTIN, André R. Fronteiras e nações. Editora: Contexto, São Paulo, 1992.
SCHNEIDER, Luíza Galiazzi. As Causas Políticas do Conflito do Sudão: Determinantes Estruturais e Estratégicos. Porto Alegre, 2008.
VARMA, Anjana. The Creation of South Sudan: Prospects and Challenges. Observer Research Foundation, Nova Deli, v. 27, n. 1, p.1-25, nov. 2011.