Texto Conjuntural: Norte da América do Sul #18 – Venezuela e Guiana

Venezuela e Guiana

Sofia Oliveira

A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o surto do Covid-19 como uma pandemia em 11 de março de 2020 e, dois dias após essa declaração (13/03/2020), a Venezuela confirmou seu primeiro caso. Desde então, o governo venezuelano afirma ter realizado 27.000 testes e registrou 204 casos confirmados e 9 mortes no país, uma das menores incidências do vírus em todo o mundo. (NEW YORK TIMES, 2020)

Questionando a não-confiabilidade dos dados apresentados pelo governo venezuelano, o Departamento de Estado dos Estados Unidos da América (EUA) declarou no dia 26/03/2020 que a inabilidade deste país em lidar com a pandemia representa perigo para todos os países vizinhos. (GRUPO ATLÂNTICO SUL, 2020)

Essa declaração ocorreu no mesmo dia em que os EUA acusaram formalmente Nicolás Maduro e membros do seu governo de ‘narcoterrorismo’, agravando, assim, um cenário pré-existente de conflitos entre os dois países mencionados, ocasionado por divergências ideológicas e por interesses econômicos. (ESTADO DE MINAS, 2020)

O alerta do Departamento de Estado americano está em consonância com os depoimentos de profissionais da saúde venezuelanos recolhidos pela Reuters, agência de notícia britânica, nos quais as condições de controle da crise no país não condizem com a realidade apresentada pelo governo. De acordo com esses profissionais entrevistados, o sistema de saúde do país já colapsou e os hospitais apresentam falta de luz, água corrente, leitos e outros meios essenciais para lidar com o coronavírus. (NEW YORK TIMES, 2020)

Essa conjuntura de escassez de recursos é uma das consequências das crises econômica e política enfrentadas pela Venezuela há 6 anos a qual possui, como um complicador, as sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos. Apesar de violar normas internacionais, as sanções estadunidenses permanecem vigorando e tem como objetivo coagir economicamente uma mudança de governo. (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2019)

Registra-se que, após o pedido de Michelle Bachelet, alta comissária das Nações Unidas para Direitos Humanos, para a flexibilização das sanções econômicas impostas à Venezuela pelos Estados Unidos por razões humanitárias, Donald Trump, presidente estadunidense, propôs no dia 31 de março de 2020 a retirada destas sob a condição de implantação de um plano de transição para a democracia e a realização de “eleições livres e justas” (sic) nesse país latino americano. (UOL, 2020)

Esse pedido realizado por Bachelet foi fundamentado em razões humanitárias, tendo em vista que todas as instabilidades venezuelanas supracitadas culminaram em uma crise humanitária, que resultou, de acordo com a ONU, na fuga de 5 milhões de venezuelanos para países próximos. Assim, se o surto do coronavírus não for bem controlado, os países fronteiriços podem apresentar um aumento considerável de casos causados pela chegada dos refugiados, que, eventualmente, estarão infectados.  (ISTOÉ, 2020)

Essa situação resulta em grandes preocupações para a Guiana, país identificado pelo Fundo Monetário Internacional como um dos mais despreparados para lidar com o vírus, que faz fronteira com a Venezuela. Apesar dessa condição, Georgetown não foi incluída na lista de países beneficiados pelo fundo do Banco Mundial de U$1,9 bilhão destinados a 25 países, entre os quais estão presentes países vizinhos como a Argentina, o Equador e o Paraguai, para o combate à pandemia do Covid-19. Frente a esse panorama, o Primeiro Ministro da Guiana, Moses Nagamootoo, aguarda resposta do fundo emergencial do Banco Mundial para o pedido de empréstimo de U$5 milhões para resistir à crise. (KAIETEUR NEWS, 2020)

Nesse contexto, concluímos que as sanções coercitivas impostas à Caracas pelos Estados Unidos da América (por motivações econômicas) potencializam os impactos negativos do coronavírus na população venezuelana, tendo em vista que, ao exacerbarem a crise econômica enfrentada, impedem que o governo tenha recursos para lidar com as demandas durante essa pandemia. Logo, assim como apontado pelo Departamento de Estado dos EUA, as consequências disso perpassam os impactos negativos na população venezuelana e se estendem para todos os países latino americanos que recebem refugiados da Venezuela, como é exemplificado pela Guiana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FOLHA informativa – Covid-19 (doença causada pelo novo coronavírus. Organização Pan-Americana da Saúde Brasil, 2020. Disponível em <https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6101:covid19&Itemid=875>. Acesso em: 17 de abr. de 2020.

REUTERS. In Run-Down Caracas Institute, Venezuela’s Coronavirus Testing Falters. The New York Times, 2020. Disponível em:  <https://www.nytimes.com/reuters/2020/04/17/world/americas/17reuters-health-coronavirus-venezuela-tests-insight.html>. Acesso em: 17 de abr. de 2020.

CORONAVÍRUS na Venezuela é grande risco para toda região, alerta EUA. ISTOÉ, 2020. Disponível em: < https://istoe.com.br/coronavirus-na-venezuela-e-um-grande-perigo-para-toda-a-regiao-alerta-eua/>. Acesso em: 17 de abr. de 2020.

MADURO é indicado por ‘narcoterrorismo’ nos EUA. Estado de Minas, 2020. Disponível em: <https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/03/26/interna_internacional,1132714/maduro-e-indiciado-por-narcoterrorismo-nos-eua.shtml>. Acesso em: 17 de abr. de 2020.

EUA propõem novo plano de transição na Venezuela e retirada de sanções. UOL, 2020. Disponível em: < https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2020/03/31/eua-propoem-novo-plano-de-transicao-na-venezuela-e-retirada-de-sancoes.htm>. Acesso em: 17 de abr. de 2020.

GUYANA excluded from first batch COVID-19 aid package. Kaieteur News, 2020. Disponível em: < https://www.kaieteurnewsonline.com/2020/04/06/guyana-excluded-from-first-batch-covid-19-aid-package/>. Acesso em: 17 de abr. de 2020.

SANÇÕES contra Venezuela prejudicam direitos de pessoas inocentes, diz relatório da ONU. Nações Unidas Brasil, 2019. Disponível em: < https://nacoesunidas.org/sancoes-contra-venezuela-prejudicam-direitos-de-pessoas-inocentes-dizem-relatores-da-onu/>. Acesso em: 17 de abr. de 2020.

 

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