É preso jornalista que criticou medidas governamentais da Somália em relação ao COVID-19
Por Luana Paris Bastos em 16 de abril de 2020
A polícia somali prendeu, em 14 de abril, o jornalista Abdiaziz Ahmed Gurbiye, editor do grupo Goobjoog Media que foi acusado de espalhar notícias falsas, além de ter ofendido o presidente ao alegar que o governo não está agindo corretamente em relação ao COVID-19. Isso se deu por meio de postagens em sua página pessoal do Facebook e também na página do “Gurbiy Official”. No código penal deste país existem punições previstas para ofensas de honra ou prestígio ao chefe de Estado, e a justificativa para esta prisão vem daí. A previsão da corte é que Abdiaziz possa ficar preso por até um ano por suas ações. A representante da África sub-saariana do Comitê para Proteção dos Jornalistas, Muthoki Mumo, falou sobre como ele deveria ser solto imediatamente, já que, ao mantê-lo detido, deixam de garantir que o jornalismo possa cobrir adequadamente a situação do COVID-19 no país.
Em suas publicações, Abdiaziz acusa queum respirador doado que foi retirado de um hospital local pelo presidente, denuncia a falta de medicamentos nesse mesmo hospital e se posiciona contra a corrupção praticada por oficiais públicos. Essas são atitudes que prejudicam o gerenciamento da crise por parte do governo, já que dificultam que os casos confirmados na Somália recebam a devida atenção e cuidados. Lá, já são 116 casos confirmados até a presente data, além de 5 mortes. Apesar da relevância das informações divulgadas, a partir de sua base legal, não é tão raro jornalistas serem presos por divulgarem críticas ao presidente do Estado somali, o que traz questionamentos sobre as liberdades individuais que são garantidas dentro do país.
Fonte: Comittee to Protect Journalists (organização independente sem fins lucrativos que promove a liberdade de imprensa ao redor do mundo)
Disponível em: <https://cpj.org/2020/04/somali-journalist-abdiaziz-ahmed-gurbiye-arrested-.php>.
Um poema de protesto num Sudão sem luz é a foto do ano no World Press Photo
Por Lorrayne Figueredo Batista em 16/04/2020
Yasuyoshi Chiba, fotógrafo japonês da France-Presse para a África Oriental, é o vencedor da Foto do Ano no World Press Photo. O retratista capturou a imagem durante um protesto pacífico contra a junta militar que tomou o poder do Sudão em abril de 2019 e declarou estado de sítio no país. Esse instrumento burocrático implica na suspensão dos poderes legislativos e judiciário de um Estado e tem como objetivo aumentar a eficiência das ações políticas em períodos de grande urgência, contudo, nesse caso, foi considerada pelos cidadãos sudaneses como uma manobra ditatorial para aumentar o poder militar no Sudão. Além disso, o novo governo, que foi suspenso da União Africana, impôs um blackout, que em linhas gerais consiste na suspensão temporária do provimento de energia elétrica em determinada região, e bloqueou o acesso à internet no território por 38 dias. Diante dessas medidas, manifestantes se juntaram para exigir uma maior participação da sociedade civil nesse período de transição e protestar contra abusos militares. Assim, na noite de 19 de junho de 2019, Chiba registrou o momento em que um rapaz sudanês levou a mão ao coração e recitou um poema de protesto em voz alta, iluminado apenas pela luz dos celulares em sua volta.
A fotografia, que foi escolhida entre outras cinco pelo júri do World Press Photo, foi descrita pelo seu presidente Lekgetho Makola como “…uma fotografia realmente bela e tranquila, que resume todo o desassossego dos que, em todo o mundo, anseiam por mudança.”, o sul-africano ainda enfatizou o que impressionou e influenciou os jurados no momento de decisão, “…esta pessoa jovem, que não está a disparar, que não está a atirar uma pedra, mas a recitar um poema, a dar voz a um sentimento de esperança”. Contudo, apesar das condolências, a cerimônia de premiação e o ritual de exposição das fotografias concorrentes não acontecerá neste ano, devido à pandemia do novo coronavírus.
Fonte: Yasuyoshi Chiba, vinculado em Jornal Público.
Fonte: Jornal Público, diário matutino português fundado em 1990.
Disponível em: <https://www.publico.pt/2020/04/16/culturaipsilon/noticia/poema-protesto-sudao-luz-foto-ano-world-press-photo-1912670>.
Etiópia fechará campo de refugiados eritreus
Por Maria Isabel Fortunato em 17/04/2020
A Etiópia decidiu dar continuidade à decisão de fechar o campo de refugiados eritreus na região de Tigray, no norte do país. Os 13.022 refugiados do campo de Hitsats serão alocados em outros campos, apesar dessa medida implicar em risco à saúde dos refugiados – por conta do coronavírus – e dos novos campos de destino estarem superlotados. A intenção de fechar o campo de Hitsats se deu parcialmente por conta dos cortes no aporte do governo etíope à Agência das Nações Unidas para os Refugiados e já havia sido notificada desde o início do mês de março. Entretanto, essa medida foi adiada por conta do surgimento de casos de COVID-19 no país. Eyob Awoke, vice-diretor da Agência Etíope para Refugiados e Repatriados, disse que o fechamento do campo continuará e as instalações podem começar no final de abril.
O governo acredita que pode acomodar melhor os refugiados reestruturando os campos de Tigray, e, além de serem realocados a campos novos, os refugiados podem também obter uma permissão para viver e trabalhar de forma independente no país. Todavia, diversas críticas foram direcionadas ao país, visto que esse processo de mudança compromete a saúde dos eritreus, tendo em vista que os campos de destino existam em situação sanitária precária e são incapazes de acomodar a quantidade de pessoas que será realocada. O perigo de contágio de COVID-19 também é salientado, apesar de que nenhum dos casos de contágio do vírus foram registrados nos campos de refugiados.
Fonte: Estado de Minas Internacional
Disponível em: <https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/04/16/interna_internacional,1139163/etiopia-fechara-campo-de-refugiados-eritreus.shtml >.
Medo de choque econômico dificulta luta da Etiópia contra coronavírus
Por Matheus Felipe Carvalho Fonseca em 19/04/2020
O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, é visto como um dos mais proeminentes líderes africanos na luta contra o coronavírus. O premiê, laureado Nobel da Paz em 2019, assinou um acordo com empresários chineses para distribuir suprimentos médicos por todo a África e escreveu um artigo no Financial Times pleiteando ajuda ao continente. Na Etiópia Abiy Ahmed foi responsável por tomar algumas medidas de contenção, como adiamento das eleições gerais de agosto, fechamento de escolas e declaração de estado de emergência. Entretanto, seu governo tem relutado para adotar medidas mais severas, buscando evitar a redução da atividade econômica e diminuição da taxa de modernização da economia do país. Na última década a Etiópia cresceu em média 10% ao ano, a mais alta taxa de crescimento do continente. Em grande medida, esse crescimento é atribuído a investimentos industriais chineses e as atividades da Ethiopian Airlines, responsável por aproximadamente 3% da renda do todo o país. Por esse motivo, o primeiro-ministro, ao contrário do que fizeram outros países, como África do Sul, Nigéria e Quênia, não impôs restrições a viagens internacionais, deixando milhões de etíopes vulneráveis. O objetivo do governo é evitar o colapso do sistema de saúde, mas, ao mesmo tempo, manter um alto índice de crescimento da renda nacional. Segundo Eyob Tolina, ministro das finanças, a Etiópia precisará de 1.6 bilhões de dólares em sua luta contra o coronavírus, que serão destinados à necessidades emergenciais, como alimentação, e ao sistema de saúde já debilitado, que contém apenas 0.3 leitos hospitalares para cada 1000 habitantes e conseguiu realizar, até o momento, apenas 5 mil testes, ao contrário, por exemplo, da África do Sul, que já testou mais de 90 mil pessoas.
Abiy Ahmed, primeiro-ministro etíope. Fonte: Eduardo Soteras/AFP/Getty Images.
Fonte: Bloomberg – agência de notícias nova-iorquina sobre negócios e economia.
Disponível em: <https://www.bloomberg.com/news/articles/2020-04-16/fear-of-economic-shock-hampers-ethiopia-s-coronavirus-fight>.
Praga de gafanhotos agrava a emergência alimentar na Etiópia
Por Paula de Paula Mattos em 18/04/2020
Conforme mencionado anteriormente, no clipping #54 do Chifre da África, uma ameaça sem precedentes à segurança alimentar no leste da África, sobretudo na Etiópia, Eritreia, Sudão do Sul, Somália, Djibouti, Uganda, Quênia e Tanzânia, está sendo agravada pela pandemia do novo coronavírus. Segundo a agência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a “segurança alimentar” pode ser entendida como o direito de todos a terem acesso a alimentos seguros e nutritivos, em consonância com o direito a uma alimentação adequada e com o direito fundamental de todos a não sofrer a fome. A praga do gafanhoto do deserto, uma das pestes migratórias mais destrutivas do mundo, se apresenta como uma ameaça a essa segurança, e tende a ser agravada pela estação das chuvas que atinge a região, levando ao aumento da reprodução dos insetos. Estima-se que o número de gafanhotos suba em até 20 vezes caso nenhuma providência seja tomada, e segundo a organização, cerca de 200 bilhões de insetos são capazes de comer o suficiente para alimentar 84 milhões de pessoas em um dia. Uma nuvem de gafanhotos do deserto de 1 km² pode se movimentar por até 150 km e consumir a mesma quantidade de alimentos que cerca de 35 mil pessoas diariamente, contribuindo para o aumento da insegurança alimentar na região. A FAO informou que tem realizado operações aéreas de vigilância para identificar as áreas mais afetadas, e que cerca de 153,2 milhões de dólares foram destinados ao combate da praga. Um dos recursos utilizados para tal é a dedetização que está sendo conduzida em 10 países, no entanto, a agência tem encontrado dificuldades no fornecimento dos produtos para o combate devido ao fechamento dos mercados, medida restritiva tomada para conter a disseminação da Covid-19.
Fonte: ONU News – Agência oficial de notícias das Nações Unidas
Disponível em: <https://news.un.org/pt/story/2020/04/1710102> e <http://www.fao.org/3/w3613p/w3613p00.htm>