As eleições tomam caráter internacional dentro da Venezuela
Por Gustavo Parreiras
A Venezuela passa por uma crise que vem se agravando a cada dia, tendo acumulado mais de 2000% de inflação nos últimos doze meses. Com a pandemia da COVID-19, a situação tem piorado muito, e milhares de pessoas perderam seus empregos, uma vez que a inflação torna não só a compra de produtos como também a aquisição de serviços mais difíceis e escassas. O atual presidente venezuelano, Nicolás Maduro, afirma que toda a atual situação é devido à uma “guerra econômica” contra o país, liderada pelos Estados Unidos e seus aliados (CLARÍN, 2020).
As eleições estão se aproximando, o que tem gerado um cenário de tensão dentro do país. De acordo com grande parte da mídia, a oposição tem possivelmente mais de dois terços de apoio, o que representa uma grande ameaça à permanência de Maduro no poder; consequentemente, isso altera o curso das ações do presidente, visto que pequenos deslizes podem ser cruciais para o resultado final (BBC, 2020).
Se encontrando cada vez mais pressionado, Maduro passa abrir concessões e para conseguir apoio, começa a negociar com a oposição e tem como resultado a emissão da maior lista de perdões presidenciais desde que assumiu o governo em 2013. A lista incluía 110 pessoas que tiveram seus nomes completamente limpos após a declaração, muitos dos quais eram considerados presos políticos pela comunidade internacional. A nota veio acompanhada de um depoimento de Jorge Rodríguez, atual ministro da comunicação do governo Maduro, atestando que os perdões seriam “uma mensagem para o mundo e para Venezuela”, numa clara referência às eleições que ocorrerão em dezembro (THE WASHINGTON POST, 2020).
Essa “jogada” movimentou o “tabuleiro político” do país, na medida em que cria uma base um pouco maior para Maduro dentro das eleições. Além disso, a perda de popularidade de Guaidó também tem beneficiado o atual presidente venezuelano. No entanto, a comunidade internacional, principalmente os Estados Unidos, ainda demonstram grande apoio ao presidente interino Juan Guaidó, o qual se pronunciou quanto a atitude do governo na mesma semana: “hoje o governo libertou reféns; juntamente com isso, reconheceu uma grande lista de pessoas que haviam sido presas políticas e perseguidas, provando que estamos em uma ditadura e sofrendo um ataque à Assembleia Geral” (EL PAÍS, 2020).
Além dessas declarações, o governo Maduro, através de Jorge Arreaza, enviou uma carta ao secretário geral das Nações Unidas, António Guterres, e ao alto representante da política externa da União Europeia, Josep Borell, convidando ambas organizações no acompanhamento de todo o processo eleitoral, para garantir a legitimidade do pleito. (EL PAÍS, 2020)
Portanto, o cenário interno da Venezuela é instável e se demonstra cada vez mais volátil, não somente em decorrência da grande incerteza no que diz respeito às eleições, mas também em decorrência da atual crise sanitária e da grande recessão econômica que enfrenta o país. Discussões permeiam o cenário interno, principalmente um possível adiamento das eleições devido à epidemia do coronavírus, a qual tem sido enfrentada sem estrutura e com um governo extremamente instável e dividido por um dos cenários mais caóticos da história da Venezuela.
Referências
HERRERO, Ana. Venezuela’s Maduro pardons more than 100 political opponents ahead of elections. The Washington post, 2020. Disponível em: <https://www.washingtonpost.com/world/the_americas/venezuelas-maduro-pardons-more-than-100-political-opponents-ahead-of-elections/2020/08/31/c5770df0-ebbf-11ea-b4bc-3a2098fc73d4_story.html>. Acesso em: 03 de set. de 2020.
LAFUENTE, Javier. El Gobierno de Venezuela invita por carta a la ONU y la UE a que sean observadores de las elecciones. El País, 2020. Disponível em: <https://elpais.com/internacional/2020-09-02/el-gobierno-de-venezuela-invita-por-carta-a-la-onu-y-la-ue-a-que-sean-observadores-de-las-elecciones.html>. Acesso em: 03 de set. de 2020.
MOLEIRO, Alonso. Los indultos de Maduro agitan el debate de la oposición de cara a las elecciones en Venezuela. El País, 2020. Disponível em: https://elpais.com/internacional/2020-09-01/los-indultos-de-maduro-agitan-el-debate-de-la-oposicion-de-cara-a-las-elecciones-en-venezuela.html>. Acesso em: 03 de set. de 2020.
Recesión y Desempleo Crisis en Venezuela: la inflación acumula 2.358% en un año según el Banco Central. Clarín, 2020. Disponível em: https://www.clarin.com/mundo/inflacion-venezuela-acumula-2-358-ano-banco-central_0_NZzTlWB-H.html>. Acesso em: 03 de set. de 2020.
Venezuela election: Opposition ‘supermajority’ confirmed. BBC, 2020. Disponível em:<https://www.bbc.com/news/world-latin-america-35043945>. Acesso em: 03 de set. de 2020.