Combate ao Covid-19: as “curas milagrosas” propostas pelos países da América do Sul
Emilly Emanuelle Guidi Ribeiro
Data: 15\11\2020
A pandemia do novo coronavírus tem sido bastante discutida nos últimos meses deste ano de 2020 devido à preocupação, tanto por parte da comunidade de saúde quanto das populações civis, em determinar métodos de prevenção e de combate à doença que tenham resultados satisfatórios. A falta de uma vacina e de medicamentos que sejam cientificamente comprovados têm feito com que algumas pessoas busquem por soluções imediatas e, até mesmo, desesperadas. Além disso, do outro lado, alguns governos andam adotando medidas que contrariam e desvalidam, muitas vezes, o discurso médico compartilhado por algumas organizações internacionais, como no caso da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Sendo assim, a falta de informações confiáveis e o pânico generalizado pelas mídias têm sido aproveitados por oportunistas e dirigentes que, em tempos de desespero, tornam-se um perigo visto às inseguranças e receios da população de não contrair o vírus. A região da América Latina tem enfrentado esse problema, uma vez que as medidas de isolamento social e confinamento não têm apresentado uma eficácia, fora que alguns governos não conseguiram, através da adoção de tais medidas, controlar a curva ascendente de contaminação pelo Covid-19 (SINGER; BEATRIZ; RODRÍGUEZ; ESPAÑA; ARROYO, 2020).
Portanto, uma multiplicidade de atores tem buscado soluções e inúmeros discursos têm sido compartilhados e aplaudidos nas mídias sociais, o que fez com que toda a situação acabou proporcionando um ambiente favorável para a disseminação de falsas informações, chamadas popularmente de Fake News. Sendo assim, este artigo busca analisar e compreender as “curas milagrosas” propostas por estes atores e agentes internacionais que estão localizados, sobretudo, na região da América do Sul, uma vez que o compartilhamento de informações, sejam elas verídicas ou não, têm ocasionado um ambiente tido como caótico na maioria dos países sul-americanos.
Em primeiro lugar, durante os primeiros meses da pandemia, além de ser defendido também por religiosos equatorianos, o dióxido de cloro ocasionou em uma divergência enorme entre o Governo, o Parlamento opositor e a comunidade médica boliviana. O país enfrenta uma disputa política delicada por conta do governo transitório de Jeanine Áñez e da Assembleia Legislativa Plurinacional, um órgão controlado pelo Movimento ao Socialismo (MAS), partido do ex-presidente Evo Morales (SINGER; BEATRIZ; RODRÍGUEZ; ESPAÑA; ARROYO, 2020).
A situação se tornou tão polêmica que o Parlamento instaurou um processo de lei, uma medida tida como preocupante, que defende o uso do medicamento e realizou protocolos e divulgações em redes sociais. Eva Copa, presidenta do Senado, argumentou que um ultimato à mandatária era uma necessidade, uma vez que o sistema hospitalar boliviano apresenta uma ineficiência. Tal ultimato prolonga a autorização, manipulação, fornecimento e venda do dióxido de cloro e foi aprovado unanimemente pela bancada opositora (ROMANO, 2020).
Tal medida não agradou o Ministério da Saúde que logo decretou que processos criminais seriam abertos contra as pessoas que recomendassem e incentivassem o uso do medicamento, pois o uso desse tipo de medicamento, conforme a comunidade médica, é tido como grave e arriscado (ROMANO, 2020). A ansiedade e a angústia ocasionada pelo aumento do número de mortes são as principais responsáveis pela busca por “curas milagrosas”, uma coisa que não é uma consequência da pandemia do novo coronavírus.
Segundo a especialista Efe Teresa Rescala, diretora do Centro de Informações sobre Medicamentos da Universidade Prefeita de San Andrés de La Paz, esse fenômeno teve início quando substâncias, como a Solução Mineral Milagrosa (MMS), começaram a ser utilizadas contra doenças como câncer, HIV e autismo (ROMANO, 2020). Essas práticas eram caracterizadas como religiosas, contudo, a especialista ressalta a diferença entre os efeitos causados in vitro e no corpo das pessoas. No caso do dióxido de cloro, em conformidade com a especialista Efe Teresa Rescala, o medicamento é “um antisséptico, purificador de água, limpador de superfície e sua condição química gasosa foi observada para atacar o coronavírus.”[1] (ROMANO, 2020, tradução nossa), contudo não esse tipo de efeito não é considerado saudável para o corpo humano.
A Bolívia enfrenta um colapso, tanto político quanto na área de saúde, internamente que foi agravado com a pandemia onde o sistema de saúde encontra-se sobrecarregado e o número de casos e o número de morte, conforme o Ministério da Saúde (BOLÍVIA, 2020) são equivalentes a 137.468 e a 8.156 respectivamente. E, tendo em vista que as eleições presidenciais foram adiadas por conta da atual conjuntura e, ao final, o ex-ministro Luis Arce, candidato do partido Movimento al Socialismo (MAS), foi eleito como o novo presidente boliviano[2], acredita-se que a crise política enfrentada pelos bolivianos é considerada como uma das piores do país visto que esta deu-se início em novembro de 2019 (SINGER; BEATRIZ; RODRÍGUEZ; ESPAÑA; ARROYO, 2020)
Além da situação na Bolívia, desde julho deste ano quando apresentou resultados positivos em seus exames quanto à contração do novo coronavírus, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro tem enaltecido o uso da hidroxicloroquina – ou azitromicina como também é chamada – como forma de prevenção ao Covid-19 em seus discursos compartilhados nas redes sociais. O governante em uma live realizada avisou que não se tratava de uma propaganda do medicamento, mas afirmava repetidamente quais eram os benefícios nos quais o medicamento trazia para os seus seguidores e, ao mesmo tempo, dizia que era preciso que a população consultasse os médicos antes de utilizá-lo (SINGER; BEATRIZ; RODRÍGUEZ; ESPAÑA; ARROYO, 2020).
O uso da hidroxicloroquina já tinha sido debatido e causado divergências de ideias entre o presidente e os dois médicos, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, que ocuparam o cargo de Ministro da Saúde. Após renunciarem ao cargo, Jair Bolsonaro decretou um protocolo nacional que autorizava o uso da substância em hospitais públicos apesar de que, na época, não haviam estudos quanto à sua eficiência no combate contra o vírus (SINGER; BEATRIZ; RODRÍGUEZ; ESPAÑA; ARROYO, 2020). A comunidade médica e a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) alertaram o presidente quanto aos danos proporcionados pelos medicamentos, porém o presidente ignorou tais avisos e realizou a extensão do protocolo para gestantes e crianças também. Segundo Florantonia Singer, Beatriz Jucá, Andrés Rodríguez, Sara España e Lorena Arroyo (2020), o protocolo estabelecido:
[…] vai ao encontro do discurso presidencial, se o paciente tomar cloroquina na fase inicial da doença, tem menos chance de piorar e precisar de leito em unidade de terapia intensiva. Embora a tese não seja suportada por evidências científicas, em diferentes cidades um coquetel de vários medicamentos está sendo usado, incluindo a cloroquina, para pacientes sintomáticos e assintomáticos. (SINGER; BEATRIZ; RODRÍGUEZ; ESPAÑA; ARROYO, 2020).
Quando questionado quanto ao fato, o presidente brasileiro alegou que não existiam estudos que comprovam a eficácia dos medicamentos genéricos, tampouco a existência de pesquisas que dissessem o contrário (SINGER; BEATRIZ; RODRÍGUEZ; ESPAÑA ARROYO, 2020). Tais medicamentos são usados para o tratamento de doenças como artrite reumatoide e malária e por isso, a OMS decretou que o uso deles para o combate do coronavírus não seriam o ideal.
Entretanto, tais ações adotadas pelo governante brasileiro foram apoiadas pelo presidente estadunidense Donald Trump e pelo presidente venezuelano Nicolás Maduro, o que acabou fortalecendo o discurso do presidente brasileiro (SINGER; BEATRIZ; RODRÍGUEZ; ESPAÑA; ARROYO, 2020). Além disso, é perceptível que há uma resistência por parte de tais governos em reconhecerem e implementarem o isolamento social e o uso de máscaras, medidas que foram defendidas inúmeras vezes pela OMS e pela comunidade médica que a compõe. Por mais que o posicionamento da OMS tenha defendido a suspensão do uso de hidroxicloroquina e tenha reconhecido que a curva de infecções proporcionar uma pressão nos sistemas de saúde dos países membros, Michael Ryan, diretor de emergências da organização, reiterou que a substância não era a solução e nenhum tipo de milagre. Contudo, como os países são soberanos, eles têm autoridade e legitimidade para decretar quais os tratamentos são considerados eficazes no combate ao novo coronavírus (HIDROXICLOROQUINA, 2020).
Portanto, na quarta-feira dia 30 de setembro de 2020, a revista científica Journal of the American Medical Association (JAMA) publicou o resultado de um estudo realizado por pesquisadores nos últimos meses que comprova a ineficácia do uso da hidroxicloroquina contra o Covid-19. De acordo com Tamires Vitorio (2020), a pesquisa randomizada foi realizada em 132 profissionais de maneira duplo-cega, isto é, quando os médicos e voluntários envolvidos no processo não têm conhecimento do medicamento que está sendo administrado, e com grupo de controle, ou seja, quando os envolvidos são tratados com placebos e não com o medicamento estudado.
Assim como Bolsonaro, o sistema de saúde equatoriano acreditava na eficácia da hidroxicloroquina no combate ao vírus durante os primeiros meses da pandemia do Covid-19, visto que a rede pública de saúde do país contava com o uso da substância por meio do atendimento médico realizado. Entretanto, antes mesmo da sobrecarga no sistema de saúde, os pacientes que não apresentavam sintomas graves eram levados para os hospitais e tratados da mesma maneira que aqueles que apresentavam uma situação mais grave (SINGER; BEATRIZ; RODRÍGUEZ; ESPAÑA; ARROYO, 2020).
Dadas as circunstâncias e aos erros dos protocolos hospitalares, a população equatoriana recorreu aos tratamentos milagrosos e soluções caseiras, como a injeção de um soro desenvolvido por meio da água do mar. No final de abril, um página no Facebook postou que tal prática era uma maneira na qual as pessoas conseguiriam fortalecer o seu sistema imunológico e assim se proteger do Covid-19 (EL AGUA, 2020). Porém, a Agence France-Presse (2020), uma agência de notícias francesa, realizou uma publicação em seu website baseada nos questionamentos realizados para especialistas na área da saúde. Conforme o site, os profissionais alegaram que tal medida não apresenta o efeito desejado e, muito menos, ajuda na prevenção contra o vírus, mas ocasionar em uma descompensação do organismo humano.
Diversas mídias sociais e meios de comunicação no Equador espalharam a notícia da ingestão do soro por todo o país e diversos pesquisadores da saúde pública, como é o caso do pesquisador Esteban Ortiz da Universidade de Las Américas, começaram a questionar as medidas adotadas pelos hospitais e a cobrar um posicionamento por parte das autoridades (SINGER; BEATRIZ; RODRÍGUEZ; ESPAÑA; ARROYO, 2020). Tratamentos como o Remdesivir foram doados pelos Estados Unidos e testados na população sem ao menos haver um estudo por detrás e segundo o pesquisador, o governo equatoriano não tinha como realizar os diagnósticos e não apresentava uma organização para acatar tal tratamento.
Ainda de acordo com Esteban, os hospitais equatorianos não tinham como realizar um padrão dados os diferentes sintomas apresentados pelas pessoas e, por isso, tratamentos diferentes eram feitos com base nos sintomas apresentados pelos pacientes. Ademais, tendo em vista as recomendações da OMS, o uso de corticoides era a principal solução contra os sintomas do novo coronavírus, todavia “[…] ainda hoje, há médicos que continuam prescrevendo antibióticos, paracetamol, aspirina, megadoses de vitamina C e até injeções de ivermectina, para uso veterinário.” (SINGER; BEATRIZ; RODRÍGUEZ; ESPAÑA; ARROYO, 2020).
Ademais, as tentativas de padrões médicos que foram realizadas consistiram no uso de sprays de eucalipto e receitas que envolviam alho, isto fez com que houvesse falta nos estoques de mercados e supermercados locais, fora os tratamentos não cientificamente comprovados, como o plasma de pacientes recuperados e o dióxido de cloro (SINGER; BEATRIZ; RODRÍGUEZ; ESPAÑA; ARROYO, 2020). O dióxido de cloro, inclusive, foi recomendado como tratamento alternativo por meio de uma carta assinada por bispos da Igreja Católica titulada para o presidente equatoriano Lenín Moreno. Em conformidade com Florantonia Singer, Beatriz Jucá, Andrés Rodríguez, Sara España e Lorena Arroyo (2020), a comunidade médica equatoriana desaprovou a substância e confirmou a gravidade do uso da toxina para a população, o que também levou a Agência Nacional de Regulação, Controle e Vigilância Sanitária do Equador (Arcsa) a proibir o consumo e comercialização do dióxido de cloro como método terapêutico contra o Covid-19.
Seguindo a mesma linha que Jair Bolsonaro, o presidente venezuelano Nicólas Maduro também tem recorrido a hidroxicloroquina para o combate ao novo coronavírus e, por esse motivo, comparações entre os dois países têm sido feitas com frequência. Conforme Martha Raquel (2020), Maduro foi o primeiro governante a decretar a quarentena no âmbito doméstico de maneira radical em todo o continente americano que abrange a América do Norte, Central e do Sul. As fronteiras foram fechadas e visto às dificuldades em que a população se contra dada a crise política no país e que a água é um recurso escasso, a população recorreu a inúmeras maneiras para fazer com que o contágio não aumentasse (SINGER; BEATRIZ; RODRÍGUEZ; ESPAÑA; ARROYO, 2020).
De acordo com Florantonia Singer, Beatriz Jucá, Andrés Rodríguez, Sara España e Lorena Arroyo (2020), gotas de antisséptico de dióxido de cloro, substância em alta na Bolívia como mencionado, homeopatia e misturas de malojillo e gengibre foram algumas das formas exploradas pela população. Isso demonstrou que todas as “curas milagrosas” propostas pelo governo foram adotadas, pois o sistema de saúde, o protocolo terapêutico e a falta de medicamentos têm sido problemas enfrentados pelos venezuelanos. “O país vê atrasos na sua situação epidemiológica devido à baixa capacidade diagnóstica e o mesmo parece ser o caso dos tratamentos.” (SINGER; BEATRIZ; RODRÍGUEZ; ESPAÑA; ARROYO, 2020).
Há rumores de que, antes mesmo de Food and Drug Administration, uma agência governamental dos Estados Unidos, o plasma sanguíneo de pacientes recuperados já havia sido explorado na diretriz terapêutica na Venezuela, uma vez que o governo venezuelano estimulou as pessoas a fazerem a doação do soro (SINGER; BEATRIZ; RODRÍGUEZ; ESPAÑA; ARROYO, 2020). A Ivermectina, um antiparasitário, também foi um outro medicamento recomendado que gerou várias polêmicas e foi objeto de debate em várias comunidades científicas. Segundo Florantonia Singer, Beatriz Jucá, Andrés Rodríguez, Sara España e Lorena Arroyo (2020), Carlos Chaccour é um médico venezuelano e pesquisador do Instituto de Saúde Global de Barcelona, especialista em malária e vírus emergentes que debateu essa questão.
Outros países também exploraram o uso da substância após uma pré-impressão divulgada pela na revista científica The Lancet, contudo o banco de dados utilizado apresentava um caráter duvidoso e nenhum estudo científico comprovado como no caso da hidroxicloroquina. “Os pacientes diagnosticados recebem um kit de tratamento contendo Invermectina, o medicamento experimental alfa interferon, hidroxicloroquina, cloroquina, aspirina, esteróides e vitamina C, dependendo da gravidade dos sintomas. Até os assintomáticos os recebem.” (SINGER; BEATRIZ; RODRÍGUEZ; ESPAÑA; ARROYO, 2020).
As atitudes do presidente venezuelano também são questionadas por profissionais da saúde, sendo um deles o médico internista José Felix Oletta, da Aliança Venezuelana pela Saúde. Conforme o profissional, ao distribuir esses kits para a população que apresenta um diagnóstico positivo para a contração do vírus, os direitos dos indivíduos são violados, pois a negligência do governo não considera que trata-se de um uso compassivo que não evidencia as limitações dos medicamentos e, muito menos, os respectivos efeitos (SINGER; BEATRIZ; RODRÍGUEZ; ESPAÑA; ARROYO, 2020).
Portanto, apesar de ter decretado políticas públicas e medidas que procurassem proteger a população quanto ao quesito social, a Venezuela é um dos países nos quais os testes quanto à vacina desenvolvida pela Rússia estão sendo realizados (RAQUEL, 2020). Cerca de 500 voluntários se candidataram, além de que Nicólas Maduro estabeleceu uma parceria com Cuba quanto ao teste de outros dois medicamentos, sendo eles o interferon alfa e o colírio homeopático prevengho-vir. Ambos estão sendo manuseados e testados em profissionais de saúde, moradores de rua e idosos conforme (SINGER; BEATRIZ; RODRÍGUEZ; ESPAÑA; ARROYO, 2020). Considera-se que o processo é uma prevenção que busca aumentar as defesas do sistema imunológico.
Considerações Finais
Visto os dados apresentados nas seções anteriores, podemos concluir que as medidas adotadas, tanto pela população, quanto pelos demais atores e agentes internacionais como os governo e a OMS em especial, são consideradas, mesmo que momentaneamente, como “curas milagrosas”. Essas curas são tidas como soluções imediatas capazes de proporcionar o fortalecimento do sistema imunológico e incluem desde o uso de ervas, homeopatia e vapores até o antiparasitário ivermectina, o antiviral remdesivir e o dióxido de cloro como reforçado acima (SINGER; BEATRIZ; RODRÍGUEZ; ESPAÑA; ARROYO, 2020).
Ademais, em conformidade com os especialistas da área da saúde, sobretudo os bolivianos, a quantidade de informações divulgadas pelos meios de comunicação acabam por alimentar o pânico generalizado, uma vez que as notícias divulgadas juntamente com os hospitais lotados geram um receio de ir ao pronto atendimento por conta da probabilidade de contágio. Sendo assim, toda a atual conjuntura faz com que a população civil recorra às tais “curas milagrosas”, como forma de resposta mais imediata dada a pandemia do novo coronavírus (ROMANO, 2020).
Logo, tendo em vista a demanda por métodos de prevenção eficazes enquanto as vacinas produzidas por inúmeras países estão em fase de teste, os múltiplos atores e agentes do sistema internacional procuram também soluções. A América do Sul, entretanto, tem sido uma região de foco quanto ao ambiente caótico no qual os países se encontram. Os problemas se expandem para além das áreas políticas e econômicas e as crises tendem a se agravar visto que a maioria dos países tem tido dificuldades em implementar as medidas consideradas como efetivas conforme a Organização Mundial da Saúde.
Portanto, além de combaterem o vírus em si, muitos também se deparam com a questão da desinformação ocasionada pelo compartilhamento de informações duvidosas e, dessa maneira, o combate torna-se duplo visto que o isolamento e confinamento social têm apresentado falhas nos países sul-americanos. Sendo assim, o afloramento de questionamentos quanto à deslegitimação de algumas instituições e de alguns governos são levantadas, o que acaba por tensionar ainda mais a situação crítica vivenciada por estes países.
A ascensão dos governos de direita tem sido preocupante na América do Sul, uma vez que estes governos apresentam uma resistência maior em acatar as recomendações ofertadas tanto por seus ministérios internos quanto pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Por essa razão, percebe-se que há uma falta de credibilidade quanto à gravidade da situação, fazendo com que os países sul-americanos tenham dificuldades para lidar com a pandemia do Covid-19.
Ademais, essa característica não é somente de países que apresentam esse tipo de liderança apesar de serem os mais evidentes, contudo a liderança de Maduro na Venezuela também tem apresentado contradições quanto aos cursos de ação tomados. A pandemia passou a ser um problema a mais no continente sul-americano e reforçou as dificuldades dos países em lidar com as suas próprias instabilidades políticas e econômicas que foram, então, afloradas, uma vez que há uma resistência e um questionamento por uma parte da sociedade e um desespero generalizado que acaba por gerar uma desinformação e a adoção de medidas tidas como milagrosas quanto ao assunto.
Referências
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‘HIDROXICLOROQUINA não é uma bala de prata ou uma solução’, diz OMS. Estado de Minas, 10 ago. 2020. Internacional, Coronavírus. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/08/10/interna_internacional,1174687/hidroxicloroquina-nao-e-uma-bala-de-prata-ou-uma-solucao-diz-oms.shtml. Acesso em: 13 out. 2020.
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RAQUEL, Martha. Números mostram como a Venezuela acertou no combate à covid e o Brasil errou. Brasil de Fato, Salvador, 25 ago. 2020. Direitos Humanos. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2020/08/25/numeros-mostram-como-a-venezuela-acertou-no-combate-a-covid-e-o-brasil-errou. Acesso em: 13 out. 2020.
ROMANO, Gabriel. El dióxido de cloro y su polémico uso en Bolivia para tratar la COVID-19. La Vanguardia, 24 jul. 2020. Disponível em: https://www.lavanguardia.com/vida/20200724/482483239054/el-dioxido-de-cloro-y-su-polemico-uso-en-bolivia-para-tratar-la-covid-19.html. Acesso em: 07 out. 2020.
SINGER, Florantonia; BEATRIZ, Jucá; RODRÍGUEZ, Andrés; ESPAÑA, Sara; ARROYO, Lorena. A promoção de curas milagrosas politiza a resposta à pandemia na América Latina. El País,Caracas, São Paulo, Cochabamba, Guayaquil, México, 27 ago. 2020. Disponível em: https://elpais.com/sociedad/2020-08-27/la-promocion-de-curas-milagrosas-politiza-la-respuesta-a-la-pandemia-en-america-latina.html. Acesso em: 05 out. 2020.
VITORIO, Tamires. Hidroxicloroquina não impede infecção por covid-19, indica estudo. Revista Exame,30 set. 2020. Ciência. Disponível em: https://exame.com/ciencia/hidroxicloroquina-nao-impede-infeccao-por-covid-19-indica-estudo/. Acesso em: 13 out. 2020.
[1] […] un antiséptico, potabilizador del agua, limpiador de superficies y que su condición química gaseosa se ha observado que puede atacar el coronavírus.
[2] As eleições foram realizadas no dia 18 de outubro de 2020 e, na sexta-feira dia 23 de outubro, a vitória de Acre foi confirmada com 55,2% dos votos em relação aos 28,9% que o ex-presidente Carlos Mesa recebeu. Ademais, é importante ressaltar o partido MAS é o partido do ex-presidente Evo Morales (LOTT, 2020).