Por Maria Clara Romano Pyramo Seabra
RESUMO
A presente análise conjuntural possui o objetivo de analisar brevemente o Movimento Popular pela Libertação De Angola (MPLA) e suas implicações na contemporaneidade. Dessa forma, contextualiza-se, que o grupo emerge de um caráter contestatório em relação ao colonialismo português na década de 1960, o qual alcança um status como governo de Estado independente da Angola, de 1975 até 2012, dado o fim da guerra civil na Angola. Nesse sentido, em termos de funcionamento, o movimento ainda é ativo como um partido político do país. Por fim, cumprir-se-á o objetivo, por meio do método dedutivo hipotético, com base em pesquisas bibliográficas e análise documental.
Palavras-chaves: Movimentos de libertação,Angola e Implicações na contemporaneidade.
INTRODUÇÃO – ANGOLA
É importante para o desenvolvimento deste trabalho, ressaltar uma contextualização da Angola. O país africano é um dos 54 localizados na costa ocidental, fazendo fronteira com a República Democrática do Congo, a Zâmbia e a Namíbia. A sua localização geográfica, banhada pelo Atlântico, foi um fator determinante para colonização portuguesa dar seu início, uma vez que navegadores portugueses andavam naquela área, em busca de uma maneira de alcançar fornecedores no valorizadíssimo comércio de especiarias da Ásia (BBC, 2022).
Imagem 1: Motociclista em frente do cartaz do atual presidente da Angola

Foto: Siphiwe Sibeko/ Reuters
O MOVIMENTO
O Movimento Popular pela Libertação De Angola (MPLA), contestava a realidade colonial e da população no continente africano. Nesse sentido, a região foi dominada por séculos pela nação portuguesa, e a população nas últimas décadas, já apresentava certo desgosto com a colonização. Assim, o fim da II Guerra Mundial, foi um grande marco, pois nesse período abriu-se espaço para a propagação de ideais anticolonialistas e de autodeterminação dos povos, também permitiram o surgimento de uma onda nacionalista nas colônias africanas (HOBSBAWN, 2012; M’BOKOLO, 2011; ZOTOV, MALIKH, 1990 apud SOUSA, 2016).
A partir disso, o MPLA surgiu tendo em mente, a libertação do povo angolano e a construção de um Estado independente e soberano. Dessa forma, houve a junção de organizações políticas anteriores, com ideais específicos e um projeto de Estado que contribuíram para sua formação (ROCHA, 2009 apud SOUSA, 2016). Assim, não baseou-se, em único movimento de libertação nacional na Angola, elaborando um conflito contra o colonizador, mas também entre esses grupos, os quais formaram uma frente ampla, mesmo tendo interesses distintos, já que todos almejam poder, no novo cenário de pós-independência (SOUSA, 2016). Vale a pena destacar que, apesar de não ter sido o único, foi de fato o movimento vitorioso nessa disputa, tendo se tornado governo e se mantido como tal até hoje (WHEELER, 2016 apud SOUSA, 2016).
Nesse sentido, é impreterível abordar a independência da Angola, a qual se tornou independente em 1975, após o estabelecimento de um acordo entre o governo de Portugal e os movimentos nacionalistas supracitados, assim procurou-se realizar uma transição pacífica do poder, propondo a construção de um governo de frente ampla, mas nunca foi realizado na prática.O MPLA declarou a independência sobre os territórios que controlava, incluindo a capital Luanda, centro da administração colonial e, portanto, da máquina burocrática existente em Angola.(Sousa, Ana Carolina Melos de, 2016). Assim, o movimento se transformou em um partido político e no governo do Estado angolano propriamente (WHEELER, 2016). A partir dessa perspectiva, o processo de mudanças alterou as bases do MPLA. Dando continuidade ao processo de independência, o movimento recebe, não pela primeira vez, ajuda militar de Cuba, que envia milhares de soldados para Angola a partir de outubro de 1975, dando início à “Operação Carlota” (SOUSA, 2016), essas vistas como ofensivas militares lançadas por Cuba e África do Sul, colocam a região da África Austral no epicentro do conflito da Guerra Fria, contribuindo para escalação de um longo processo de guerra civil em Angola (GEORGE, 2005 apud SOUSA, 2016).
GUERRA CIVIL (1975-2002)
A guerra civil angolana, teve uma escalada rápida, consequência de rivalidades já instaladas e instigadas antes mesmo do processo de independência de fato.
Assim faz-se importante destacar os quatro fatores principais para a instauração do conflito: (i) os projetos distintos de Estado angolano; (ii) os recursos naturais disponíveis no território, de forma que era determinante garantir o controle sobre eles; (iii) a postura tendenciosa de Portugal na elaboração das negociações para a independência, reunidos no Acordo de Alvor; e (iv) a inserção desse recém-nascido Estado na dinâmica bipolar da guerra fria através das parcerias estratégicas que os grupos traçaram não só com as grandes superpotências, Estados Unidos e União Soviética, mas também com a China maoísta (JOSÉ, 2008 apud SOUSA, 2016).
Para mais, a luta prolongou-se até 1991, quando um acordo temporário, Acordos de Bicesse, apresentou uma tentativa de cessar-fogo imediato, removendo todas as tropas cubanas e sul-africanas, determinando um novo governo e exército nacional, juntamente com as primeiras eleições multipartidárias de Angola (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2019). Assim, o MPLA é abordado novamente, lançando, o candidato, José dos Santos, que obtém 49% dos votos, contra Dr. Jonas Savimbi, que obteve apenas 40% dos votos da população. Este último, contesta o resultado, e seu partido União Nacional para a Independência Total de Angola (UNIDA) declara guerra contra o MPLA, fazendo com que o país se encontre novamente em uma guerra civil brutal (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2019).
O conflito só terminou com a assinatura do Protocolo de Lusaca, o qual visava estabelecer a paz, mas esta manteve-se por pouco tempo. Os confrontos militares só terminaram efetivamente em 2002, com a morte de Jonas Savimbi e de milhares de civis, com cerca de um milhão de refugiados, mantendo o MPLA no poder. Além disso, a economia sofre consequências e o governo angolano decide investir na exploração dos recursos naturais, destacando o petróleo e os diamantes. No entanto, apesar dos esforços, Angola continua na lista dos países com baixo índice de desenvolvimento humano (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2019).
NA CONTEMPORANEIDADE
O objetivo dessa breve análise é entender a atuação e os desdobramentos do Movimento Popular pela Libertação De Angola (MPLA) na contemporaneidade. Por isso, é destacado a situação atual da Angola, a qual permanece em paz há vinte anos, entretanto o país presencia diversas manifestações contra o governo do MPLA, o qual conforme dito anteriormente continua no poder, sempre lançando candidatos a cargos políticos (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2019). O movimento encara sérias acusações de corrupção e perseguição de opositores políticos, dado o contexto de desemprego e pobreza, acentuada pela pandemia de covid-19 na Angola (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2019).
É importante, ainda, abordar as eleições presidenciais angolanas de 2022, a qual o atual presidente de Angola, João Lourenço do MPLA foi vencedor das eleições no país. No entanto, o Unita, sigla da oposição, teve o melhor desempenho de sua história, com 43,95% dos votos. Já o partido do atual presidente conseguiu 51,17%, sendo a margem mais apertada desde a independência de Angola (G1,2022).
CONCLUSÃO
Nota-se que múltiplos fatores foram considerados para resultar na atual situação do país. Dessa forma, a atuação desempenhou um papel indubitável, na construção dessa contemporaneidade Portanto, pode-se concluir que o MPL resistiu ao tempo e conseguiu se firmar como partido na Angola, apesar das adversidades. No entanto, a imagem desgastada pode ser um desafio para o movimento nas próximas décadas, isso porque, apesar de ter sido vencedor nas eleições em 2022, a margem de diferença com o concorrente foi muito pequena, caracterizando uma deterioração e perda de credibilidade por parte da população.
Referências
BBC.10 curiosidades que unem Angola e Brasil.Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-61468675. Acesso em: 27-11-2022
DW, Lusa. JLo: Corruptos não representam “fatia grande” do MPLA. Disponível em: 30-11-2022
https://www.dw.com/pt-002/jo%C3%A3o-louren%C3%A7o-corruptos-n%C3%A3o-representam-fatia-grande-do-mpla/a-63922027.Acesso em: 27-11-2022.
GEORGE, Edward. The Cuban Intervention in Angola, 1965-1991: from Che Guevara to Cuito Cuanavale. Oxfordshire: Taylor & Francis E-library, 2005. 354 p.
NATIONAL GEOGRAPHIC. Guerra Civil de Angola: de 1975 aos Dias de Hoje. Disponível em:
https://www.natgeo.pt/historia/2019/08/guerra-civil-de-angola-de-1975-aos-dias-de-hoje. Acesso em: 27-11-2022
HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991). 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. 598 p.
JOSÉ, Joveta. Angola: independência, conflito e normalização. In: MACEDO, José Rivair (Org.). Desvendando a história da África. Porto Alegre: UFRGS, 2008. Cap. 12. p. 159- 179.
M’BOKOLO, Elikia. Os caminhos da emancipação. In: _______. África Negra: história e civilizações – do século XIX aos nossos dias. 2. ed. Lisboa: Edições Colibri, 2011. Cap. 6. p. 456-546. Tradução de: Manuel Resende.
ROCHA, Edmundo. Angola: contribuição ao estudo da génese do nacionalismo moderno angolano (período de 1950 a 1964). 2. ed. Lisboa: Dinalivro, 2009. 351 p.
MPLA.Disponível em:https://mpla.ao/partido. Acesso em: 27-11-2022
SOUSA, Ana Carolina Melos de. O Movimento Popular Pela Libertação de Angola (MPLA) : de elite revolucionária a elite dirigente, Lume Repositório digital, 2016. Disponível em: http://hdl.handle.net/10183/166160. Acesso em: 30-11-2022
WHEELER, Douglas. Uma breve história de Angola entre 1971 e 2008. In: WHEELER, Douglas L.; PÉLISSIER, René. História de Angola. 6. ed. Lisboa: Tinta da China, 2016. Cap. 12. p. 355-375.
ZOTOV, Nikolai; MALIKH, Vladislav. A revolução libertadora e suas origens. In: __ZOTOV, Nikolai; MALIKH, Vladislav. A África de Expressão Portuguesa: experiência de luta e de desenvolvimento. Moscou: Progresso, 1990. Cap. 3. p. 93-173.